quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

SESSÃO ESPECIAL DE NATAL: 25 DE DEZEMBRO DE 2013

CINEMA AMERICANO (1930-1960)
SESSÃO ESPECIAL – NATAL 
 NATAL BRANCO (1954)

São muitos os chamados “filmes de Natal”, mas este é, seguramente, um dos mais conhecidos e celebrados. Mas, aparentemente nada faria prever o prolongado sucesso de “White Christmas”, dado que o filme nunca parece ultrapassar o nível de uma xaroposa história melodramática, com uns pozinhos de patriotice barata, umas quantas canções e números musicais e um “happy end” que nunca esteve em causa desde início, dada a previsibilidade das peripécias. Acontece que é tudo assim, tal como fica descrito, mas também não é bem assim. Não se trata de umas canções quaisquer, mas de obras com a assinatura de alguns mestres neste campo, nomeadamente Irving Berlin, de quem se ouve um tema que é dos mais populares de toda a história da música norte-americana, precisamente “White Christmas” que dá o título ao filme, e que desde 1942 se impunha como uma das canções anualmente mais tocadas em todo o mundo. Pode mesmo considerar-se “White Christmas” a canção de Natal por excelência.
A banda sonora é, portanto, magnífica, o que por si só constitui um trunfo. Enorme. Depois, há que acrescentar o elenco. Bing Crosby foi o cantor que contabilizou até hoje mais “royalties” interpretando “White Christmas” (cerca de 50% do total facturado pela canção), identificando-se por completo com este tema, e a seu lado surge um outro actor que nos anos 50 era uma vedeta em pleno, Danny Kaye.
Deve dizer-se, aliás, que Danny Kaye não foi a primeira escolha para este filme, Fred Astaire era o escolhido desde início, mas por impossibilidade não pode aceitar o convite que seria ainda endereçado a Donald O’Connor antes de chegar a vez de Danny Kaye. O’Conner também se viu forçado a recusar o contrato, por razões de saúde (nessa altura problemas com a coluna, não lhe permitam dançar, o que o filme exigia). Quando chega a vez de Danny Kaye este não hesita, mas coloca condições draconianas: exige desde logo 10% sobre os lucros da obra, mas igualmente a necessidade de colocar dois novos argumentistas ao lado de Norman Krasna, precisamente os homens de sua confiança, Norman Panamá e Melvin Frank.

A razão era fácil de perceber. Os filmes onde Danny Kaye aparecia eram imaginados e escritos em função do actor e das suas características fantasistas. “White Christmas” não era um filme com a marca Danny Kaye e era necessário adaptá-lo ao actor, ainda que no final este actor fique sempre secundarizado pela própria história. O facto dele ser um soldado raso ao lado de um Bing Crosby capitão deve ter ajudado. A acompanhar estas duas vedetas masculinas, dois nomes femininos sonantes na época, ainda que por razões diversas: Vera-Ellen era uma das maiores bailarinas daquela época e Rosemary Clooney uma das vozes mais apreciadas na década de 50 (o filme é de 1954). O ramalhete estava composto, com um pouco de tudo, para todos os gostos.
O argumento também fora criteriosamente estudado para ser bem recebido pelo público a que se dirigia. Estamos em meados da década de 50, os Estados Unidos tinham saído da II Guerra Mundial há um década, durante a qual os veteranos do conflito tinham adquirido ressonância épica e é sobre um desses homens que o filme fala. Durante os anos do conflito na Europa, os americanos tinham-se distinguido, sobretudo depois do desembarque na Normandia.
Algures numa dessas “frentes”, o general Thomas F. Waverly (Dean Jagger) comanda um destacamento de que fazem parte o capitão Bob Wallace (Bing Crosby), e o soldado Phil Davis (Danny Kaye). Numa noite de Natal, antes de iniciarem mais uma ofensiva, comemoram a efeméride debaixo de uma chuva de bombas inimigas. Anos depois, e conquistada a paz, Bob Wallace, que é um célebre cançonetista, e Phil Davis, com quem passou a constituir parelha, passeiam a sua fama pelos restaurantes, cabarets e teatros norte-americanos, até que um dia, de novo perto da época do Natal, se encontram ocasionalmente com uma outra dupla em busca de sucesso, as irmãs Haynes, Betty (Rosemary Clooney) e Judy (Vera-Ellen).
Se já existia o glamour da música, passa a aparecer agora o toque mágico do “romance”, a que se virá a acrescentar ainda a exaltação patriótica, quando todos resolvem restaurar a confiança perdida pelo general Thomas F. Waverly, que não se revela tão bom director de hotel (numa estância de turismo de Inverno, onde falta a neve) como o fora no campo de batalha. E assim se chega ao final apoteótico, onde, numa noite de Natal, tudo se conjuga para a felicidade completa: dois casais de cantores e bailarinos que assumem o seu amor, perante o olhar paternal de um general de novo passando revista às suas fieis tropas, enquanto se vão ouvindo os acordes de “White Christmas”, de Irving Berlin, e do céu começa a cair a neve que reporá justiça nos cofres do hotel.
Filme mais natalício não há, sobretudo em meados da década de 50. Com os EUA no rescaldo da II Guerra Mundial e o Plano Marshal na Europa, esta é a imagem de felicidade que convém fazer passar. Com o brilho de Inving Berling e a competência narrativa de um mestre da eficácia, Michael Curtiz.


NATAL BRANCO
Título original: White Christmas

Realização: Michael Curtiz (EUA, 1954); Argumento: Norman Krasna, Norman Panama, Melvin Frank; Música: Gus Levene, Joseph J. Lilley, Bernard Mayers, Van Cleave, Irving Berlin (canção "White Christmas"); Fotografia (cor): Loyal Griggs; Montagem: Frank Bracht; Direcção artística: Roland Anderson, Hal Pereira; Decoração: Sam Comer, Grace Gregory; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore; Assistentes de realização: John R. Coonan; Departamento de arte: Dorothea Holt; Som: John Cope, Hugo Grenzbach; Efeitos especiais: John P. Fulton; Produção: Robert Emmett Dolan; Intérpretes: Bing Crosby (Bob Wallace), Danny Kaye (Phil Davis), Rosemary Clooney (Betty Haynes), Vera-Ellen (Judy Haynes), Dean Jagger (Gen. Thomas F. Waverly), Mary Wickes (Emma Allen), John Brascia (Joe), Anne Whitfield (Susan Waverly), Bea Allen, Joan Bayley, Tony Butala, Glen Cargyle, George Chakiris, Barrie Chase, Les Clark, Lorraine Crawford, Robert Crosson, Marcel De la Brosse, Mike Donovan, Ernie Flatt, Bess Flowers, Gavin Gordon, Johnny Grant, Percy Helton, I. Stanford Jolley, Richard Keene, Vivian Mason, Peggy McKim, James Parnell, Sig Ruman, Richard Shannon, Dick Stabile, Grady Sutton, Herb Vigran, etc. Duração: 120 minutos; Distribuição em Portugal /DVD: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 6 anos.

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