domingo, 3 de novembro de 2013

SESSÃO 8: 25 DE NOVEMBRO DE 2013

HERÓIS ESQUECIDOS (1939)

“The Roaring Twenties” marca o início da colaboração de Raoul Walsh com a Warner Bros., aparecendo o seu nome associado a esta obra de forma indirecta, pois veio substituir Anatole Litvak, que era o realizador indicado para dirigir o filme e foi dispensado à última hora.
O argumento tinha sido escrito por Jerry Wald, Richard Macaulay e Robert Rossen, baseando-se numa história original de Mark Hellinger, jornalista durante grande parte da sua vida, tendo acompanhado de perto muitos dos episódios relatados na obra, que por isso se pode considerar baseada em factos reais. Aliás, no início do filme, à laia de prefácio, o próprio Mark Hellinger escreve: “Pode acontecer num futuro longínquo sermos confrontados com outro período semelhante ao retratado neste filme. Se tal acontecer, espero que estes acontecimentos sejam lembrados. Neste filme, as personagens são baseadas em pessoas que conheci e as situações aconteceram de facto. Boas ou más, as recordações tornam-se preciosas com o passar do tempo.”
Nas recordações, “boas ou más”, de Mark Hellinger perpassa a América desde finais da década de 10 até fins da de 30, acompanhando a entrada nos EUA na I Guerra Mundial, e a posterior era do jazz e dos “loucos anos 20”, da Lei Seca e dos bares clandestinos, do “crash” de 1929 e da derrocada financeira e económica, do período da grande depressão social e das lutas entre “gangs” de gangsters que infestaram as ruas das grandes metrópoles. A figura de Eddie Bartlett (interpretada por James Cagney), parece ter sido decalcada da do célebre gangster de Nova Iorque Larry Fay, que era conhecido pelos seus negócios ilegais e pela ligação que mantinha com a cantora de cabaret Texas Guinan (que Gladys George revive com o nome de Panama Smith). Texas Guinan saudava os frequentadores do seu recinto com um castiço "Hello, suckers", que Panama Smith transformou num mais discreto "Hello, chumps".
O filme inicia-se com uma “montage” de actualidades que partem da actualidade (1940) e recuam até 1918. Quem assina a “montage” é Donald Sigel, que viria a ser um realizador excelente e um dos mestres de Clint Eastwood. Comentadas pela voz do jornalista John Deering, vão passando imagens dos avanços de Hitler na Europa, da chegada ao poder de Mussolini, da Grande Depressão sob a regência do Presidente Hoover, da entrada dos EUA na I Guerra Mundial, na época Wilson.
Em 1918, “cerca de um milhão de jovens norte-americanos são lançados nas trincheiras europeias em luta pela democracia.” Entre eles, Eddie Bartlett (James Cagney), George Hally (Humphrey Bogart), e Lloyd Hart (Jeffrey Lynn), que acidentalmente se encontram reunidos sob o fogo cerrado dos alemães, na terra revolta de uma cratera aberta pelo rebentar de uma bomba, e aí iniciam uma relação que vai perdurar pelos anos fora. Logo nessa primeira sequência se percebe a diferença de personalidades e de temperamentos: Eddie é um bom rapaz, algo ingénuo e puro, gingão e popularucho, George é um tipo duro, que descobre o prazer de matar e quer subir na vida a todo o custo, e Lloyd, filho de boas famílias, advogado em início de carreira, mostra-se honesto e justo. Estão definidos os três protagonistas desta história que terá como cenário a América dos anos 20, com a Lei Seca e a Grande Depressão, onde cada um deles irá comportar-se conforme os indícios atrás estabelecidos.

Terminada a guerra, de regresso a casa, Eddie não encontra trabalho, é uma das vítimas do conturbado período social, procura uma vida honesta de taxista, mas é desviado para o submundo do gangsterismo, ingressando na clandestina existência dos bares não autorizados, onde se vende álcool destilado em furtivas banheiras e vendido com lucros prodigiosos que criam fortunas de um dia para o outro. Eddie será um desses milionários, que aceita contratar para o seu serviço os antigos camaradas de armas, George Hally e Lloyd Hart. Mas ambos o irão abandonar, um atraiçoando-o por avareza e ambição, o outro por não se integrar na ilegalidade do crime e pretender uma vida de integridade. Pelo meio, há ainda uma história de amor que os afasta, numa rivalidade pela mesma mulher, a cantora Jean Sherman (Priscilla Lane).
Ascensão e queda de um gangster é uma história por demais contada no cinema, como anteriormente o haviam já feito “Scarface” ou “Little Cesar”, duas outras obras de referência neste género. Mas “Heróis Esquecidos” é muito mais do que isso, pelo talento da escrita do argumento, que sublinha as condições sociais que empurram para o crime cidadãos que se tivessem outras oportunidades poderiam ter outro tipo de vida, e sobretudo pela forma trágica e poética como o cineasta nos retrata personagens e ambientes.
Raoul Walsh é um dos grandes realizadores do cinema norte-americano, um profissional que vem desde os tempos heróicos de Griffith, de quem foi assistente, estendendo a sua actividade até meados da década de 60.
Principiou a carreira de realizador em 1924, com “O Ladrão de Bagdad”, interpretado por Douglas Fairbanks, e seguidamente assinou uma centena de obras de todos os géneros, para todos os gostos e dirigidas a todos os públicos. Mas foi sobretudo no campo do cinema de acção que mais se notabilizou, com dezenas de "westerns", filmes de guerra, policiais, filmes de piratas, melodramas, filmes bíblicos e até uma ou outra comédia. Ao lado de autores maiores como John Ford, Howard Hawks, na mesma linha de um Michael Curtiz, de um Allan Dwan, de um Henry Hathaway, Raoul Walsh ocupa um lugar destacadíssimo no período glorioso do cinema norte-americano, atravessando todas as épocas, adaptando-se a todas as modificações, desde o mudo ao sonoro, da cor ao cinemascope, e servindo sempre com admirável eficácia todos os temas que abordava e marcava com a força da sua personalidade e a segurança do seu ofício. Pode dizer-se que é daqueles que nunca fez um mau filme, chegando por vezes a atingir o sublime, como é o caso de “The Roaring Twenties”, um dos seus títulos de glória, rodado em 1939, num glorioso preto e branco com a assinatura de Ernest Haller. Acrescente-se que com uma banda sonora memorável, com várias canções inesquecíveis e que organizam em redor da acção um clima de um romantismo trágico e tenso. Temas como “Melancholy Baby”, “I'm Wild About Harry”, “It Had to Be You”, ou “In a Shanty in Old Shanty Town” ajudam a transformar “Heróis Esquecidos” numa obra emblemática.


A história de Eddie Barret, fabulosamente interpretada por James Cagney, é muito mais do que a história de um homem, é uma fulgurante panorâmica sobre algumas décadas da América. Sente-se o pulsar dessa vida quotidiana impregnada de violência e dureza, mas onde não está ausente uma fatia de lirismo intenso e de paixões desencontradas. Aliás, um dos aspectos mais conseguidos desta bela obra é a forma como Walsh, com uma notável economia de meios, nos vai traçando a rota dos sentimentos, muitas vezes enunciada apenas pelo olhar dos protagonistas, outras vezes por um pormenor de mãos enlaçadas. O amor de Eddie por Jean Sherman, que ele apadrinha de forma generosa, transformando-a numa vedeta de cabaret, e a paixão de Jean por Lloyd Hart, que cresce silenciosa e se insinua pela troca de olhares, ou a silenciosa dádiva de Panama Smith, que assiste resignada ao amor impossível de Eddie, são momentos de uma expressividade cinematográfica impar, que Walsh filma de forma intensa mas pudica. É muito curiosa, certamente, a forma como Eddie e Jean Sherman se conhecem, sendo ela a sua madrinha de guerra e tratando-o por “o soldado dos meus sonhos” nas cartas que lhe enviava para a frente da batalha. Mas o desacerto é agora total: olhos nos olhos, é ela que passa a ser “a namorada dos sonhos” de Eddie, prolongando no campo sentimental o desencontro do soldado que regressa da guerra com a realidade social com que se depara. Eddie aguarda que à sua espera esteja a recompensa pelo seu esforço, mas a verdade é totalmente diferente: na sua ausência o seu emprego foi tomado por outro, e o desemprego campeia.
O filme arranca, pois, à velocidade da luz, para um destino trágico que tem o sabor das grandes obras shakespearianas. Aos casos pessoais, Walsh acrescenta o fermento social, com as lutas entre "clans" rivais que vão agudizar-se, com tiroteios constantes, ou a crise financeira que provoca o "Crash" em 1929, progredindo com uma depressão que atinge a miséria mais extrema e a violência mais profunda...
O cenário está traçado, as figuras estão apresentadas e evoluem segundo o seu destino. Fatal, sobretudo para os que se não sabem adaptar a esses tempos e conservam, apesar de tudo, alguma inocência. A câmara de Raoul Walsh está atenta ao que de mais íntimo se produz no interior de cada uma das personagens, mas também ao que de mais secreto se vai agitando no interior da sociedade, transformando “The Roaring Twenties” num "filme negro" de profunda inserção social, ajudando a cimentar uma tradição que fez da Warner uma das grandes produtoras cinematográficas da América e que a notabilizaria sobretudo neste campo do "filme negro" e do filme de intenções sociais definidas.
Estilisticamente, “Heróis Esquecidos” é uma verdadeira obra-prima que o "traveling" final coroa de forma deslumbrante e sublime. A corrida de Eddie em direcção à morte, depois de se ter imolado por amor de uma mulher que não esquece, e a perseguição de Panama Smith ao seu amor secreto, numa altura em que ambos são destroços de um antigo esplendor, e que termina numa magnífica “pietá” nos degraus que conduzem a uma igreja, é sem dúvida uma das grandes cenas do cinema de todos os tempos. E uma das réplicas mais célebres: “He used to be a big shot”.


HERÓIS ESQUECIDOS
Título original: The Roaring Twenties
Realização: Raoul Walsh (EUA, 1939); Argumento: Jerry Wald, Richard Macaulay, Robert Rossen, segundo Mark Hellinger ("The World Moves On"); Produção: Samuel Bischoff, Hal B. Wallis; Música: Ray Heindorf, Heinz Roemheld; Fotografia (p/b): Ernest Haller; Montagem: Jack Killifer, Don Siegel; Direcção artística: Max Parker; Maquilhagem: Perc Westmore; Guarda-roupa: Milo Anderson; Direcção de produção: Jack L. Warner; Assistente de realização: Richard Maybery; Som: Everett A. Brown; Efeitos especiais: Edwin B. DuPar, Byron Haskin; Companhia de produção: Warner Bros. Pictures; Intérpretes: James Cagney (Eddie Bartlett), Priscilla Lane (Jean Sherman), Humphrey Bogart (George Hally), Gladys George (Panama Smith), Jeffrey Lynn (Lloyd Hart), Frank McHugh (Danny Green), Paul Kelly (Nick Brown), Elisabeth Risdon (Mrs. Sherman), Edward Keane (Henderson), Joe Sawyer, Joseph Crehan, George Meeker, John Hamilton, Robert Elliott, Eddy Chandler, Abner Biberman, Vera Lewis, John Deering, etc. Duração: 104 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Bros. (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 22 de Abril de 1943.

RAOUL WALSH (1887-1980)
Albert Edward Walsh, mais conhecido por Raoul Walsh, nasceu em Nova Iorque, em 11 de Março de 1887, e morreu em Hollywood, Califórnia, em 31 de Dezembro de 1980.
Filho de Elizabeth T. Bruff e de Thomas W. Walsh, um figurinista de uma famosa casa de moda masculina, ambos de ascendência irlandesa, Raoul Walsh passou grande parte da sua infância em Manhattan, onde conheceu muitas personalidades célebres dessa época, entre os quais a família Barrymore, clientes do pai. Depois passou pelo México e por Cuba, até se tornar cowboy e vaqueiro no Oeste dos EUA. Foi como cowboy que se estreou como actor num filme mudo, em 1914. Como assistente de realização, montador e actor surge em “The Clansman” (O Nascimento de Uma Nação, 1915), de D.W. Griffith, onde interpretou o papel de John Wilkes Booth, o homem que assassinou o Presidente Abraham Lincoln. Ainda como actor surge na adaptação de "Rain" (A Sedução do Pecado, 1928), de W. Somerset Maugham, ao lado de Gloria Swanson. Em 1924, foi contratado por Douglas Fairbanks para realizar "O Ladrão de Bagdad”, numa carreira que conta para cima de uma centena e meia de títulos, e que se prolongou de 1913 a 1965, quando rodou a sua última obra, "A Distant Trumpet". São dele algumas das obras-primas do seu melhor período na Warner Bros: “O Inimigo Público” (1931), “Heróis Esquecidos” (1939), “Vidas Nocturnas” (1940), “O Último Refúgio” (1941), “Uma Loira com Açúcar” (1941), “Discórdia” (1941), “Todos Morreram Calçados” (1941), “O Ídolo do Público” (1942) ou “Fúria Sanguinária” (1949). Humphrey Bogart, Errol Flynn, James Cagney ou Clark Gable devem-lhe alguns dos seus melhores momentos.
Juntamente com John Ford e Nicholas Ray, foi um dos directores com uma pala num olho. Perdeu o olho durante as filmagens de “Old Arizona” (1928). Nos últimos anos de sua vida, completamente cego, manteve o bom humor e afirmava que ainda podia desfrutar do canto dos pássaros e do perfume das flores. Morreu aos 93 anos.

Filmografia
Filmes mudos:
1913: The Pseudo Prodigal
1914: The Gunman
1914: The Bowery
1914: The Double Knot
1914: The Final Veredict
1914: Home from the Sea
1914: Who Shot Bud Walton?
1914: Out of the Deputy's Hands
1914: The Mystery of the Hindu Image
1914: The Fatal Black Beam
1915: The Death Dice
1915: His Return
1915: The Greaser
1915: The Artist's Wife
1915: The Outlaw's Revenge (In the Dawn of the New Republic)
1915: The Fencing Master
1915: The Comeback
1915: Life of Villa / The Life of General Villa
1915: The Smuggler
1915: Eleven Thirty P.M.
1915: Ghosts   
1915: The Celestial Code
1915: The Burned Hand
1915: A Bad Man and Others
1915: The Regeneration (A Regeneração)
1915: Peer Gynt
1915: Carmen
1915: A Man for All That
1915: Home from the Sea
1915: Siren of Hell
1916: The Serpent
1916: Blue Blood and Red
1916: Pillars of Society
1916: The Honour System
1917: The Lone Cowboy
1917: The Silent Lie
1917: The Innocent Sinner
1917: Betrayed
1917: This Is the Life
1917: The Conqueror
1917: The Pride of New York
1918: Woman and the Law (A Mulher e a Lei)
1918: The Prussian Cur
1918: On the Jump
1918: Every Mother's Son
1918: Ii'l Say So
1919: Evangeline
1919: Should a Husband Forgive?
1920: The Strongest
1920: The Deep Purple
1920: From Now On
1920: Headin'home       
1921: The Oath
1920: Serenade 
1922: Kindred of the Dust
1923: Rosita, Cantora das Ruas (uncredited)
1923: Lost And Found on the South Sea
1924: The Thief of Bagdad (O Ladrão de Bagdad)
1925: East of Suez
1925: The Spaniard
1926: The Wanderer (Babilónia)
1926: The Lucky Lady
1926: The Lady of the Harem (A Virgem do Harém)
1926: What Price Glory? (O Preço da Glória)
1927: The Monkey Talks (Macaco Falante)
1927: Loves of Carmen (Amores Bravios)
1928: Sadie Thompson (A Sedução do Pecado)
1928: The Red Dance
1928: Me, Gangster

Filmes Sonoros:
1929: In Old Arizona
1929: The Cock-Eyed World (O Mundo às Avessas)
1929: Hot for Paris 
1930: The Big Trail (A Pista dos Gigantes)      
1931: The Man Who Came Back (Do Inferno ao Céu)         
1931: Women of All Nations (Mulheres de Todas as Nações)
1931: The Yellow Ticket (O Passaporte Maldito)
1931: Die große Fahrt
1931: La gran jornada
1932: Wild Girl         
1932: Me and My Gal
1933: Sailor's Luck (Viva a Marinha!)        
1933: The Bowery (Terror dos Cabarets)
1933: Going Hollywood (Vamos para Hollywood)
1933: Hello, Sister!
1935: Under Pressure        
1935: Baby Face Harrington
1935: Every Night At Eight
1936: Klondike Annie        
1936: Big Brown Eyes (Aqueles Olhos Negros)
1936: Spendthrift
1937: O.H.M.S. (You're in the Navy Now) (Glória que Redime)        
1937: When Thief Meets Thief /Jump for Glory (O Grande Salto)
1937: Artist and Models (Artistas e Modelos)
1937: Hunting a New High (O Rouxinol da Selva)
1938: College Swing        
1939: St.Louis Blues        
1939: The Roaring Twenties (Heróis Esquecidos)
1939: Dark Command (Comando Negro)
1939: They Drive by Night (Vidas Nocturnas)
1941: High Sierra (O Último Refúgio)
1941: The Straberry Blonde (Um Loira com Açúcar)
1941: Manpower (Discórdia)
1941: They Died With Their Boots on (Todos Morreram Calçados)
1942: Desperate Journey (Jornada Trágica)        
1942: Gentreman Jim (O Ídolo do Público)
1943: Background to Danger (O Expresso Bagdad-Istambul)        
1943: Northern Pursuit (Perseguidos)
1943: Action in the North Atlantic (Comboio para Leste) assinado por Lloyd Bacon
1944: Uncertain Glory (Três Dias de Vida)        
1944: Objective Burma (Objectivo Burma)
1944: Salty O'rourke (Quase uma Traição)
1944: The Horn Blows at Midnight
1946: The Man I Love        
1946: San Antone (Santo António, A Cidade sem Lei) assinado por David Buttler
1947: Pursed (Núpcias Trágicas)
1947: Stallion Road (Temeridade) assinado por James V. Kern
1947: Cheyenne (Feras Sangrentas)
1948: Silver River (Sangue e Prata)        
1948: Fighter Squadron (Todos Foram Valentes)
1948: One Sunday Afternoon (Recordações de Ontem)
1949: Colorado Territory (Golpe de Misericórdia)        
1949: White Heat (Fúria Sanguinária)
1950: Montana (Montana, Terra Proibida) assinado por Ray Enright         
1951: The Enforcer (Sem Consciência) assinado por Bretaigne Windust         
1951: Allong The Great Divide (A Caminho da Forca)
1951: Captain Horatio Hornblower (Epopeia dos Mares)
1951: Distant Drums (As Aventuras do Capitão Wyatt)
1952: Glory Alley        
1952: The World in His Arms (O Mundo nos Seus Braços)
1952: Blackbeard the Pirate (Barba Negra, o Pirata)
1953: The Lawless Breed (Sob o Signo do Mal)         
1953: Sea Devils (Gigantes em Fúria)
1953: A Lion Is in the Streets (A Fera)
1953: Gun Fury (A Fúria das Armas)
1954: Saskatchewan (A Grande Ofensiva)        
1955: Battle Cry (Antes do Furação)        
1955: The Tall Men (Duelo de Ambições)
1955: Helen of Troy (Helena de Tróia), de Robert Wise (realizador de segunda equipa)
1956: The Revolt of Mamie Stover (Mulher Rebelde)         
1956: The King and Four Queen (Um Rei e Quatro Rainhas)
1957: Band of Angels (A Escrava)        
1958: The Naked and the Dead (Os Nus e os Mortos)
1959: The Sheriff of Fractured Jaw (O Xerife e a Loira)
1959: A Private's Affair (Casamento por Engano)
1960: Esther and the King (Ester e o Rei)
1961: Marines Lets Go!
1964: A Distant Trumpet (A Carga da Brigada Azul)

JAMES CAGNEY (1899–1986)
James Francis Cagney nasceu a 7 de Julho de 1899, em Nova Iorque, EUA, e faleceu a 30 de Maio de 1986, com 86 anos, em Stanfordville, Nova Iorque, EUA. Foi um dos grandes actores de Hollywood no seu período de ouro, sobretudo na sua componente de sedutor “duro”, ao lado de Humphrey Bogart, Edward G. Robinson ou George Raft, disputando os favores do público ao lado de “monstros sagrados” como Clark Gable, Gary Cooper ou Spencer Tracy.
Começa a carreira no teatro, em 1919, vestido de mulher, no musical “Every Sailor”. Trabalha durante alguns anos nos palcos americanos, até ser particularmente notado como protagonista de “Penny Arcade”, uma peça de 1929. A Warner Bros. contrata-o para o seu estúdio, onde se torna rapidamente numa das suas vedetas preferidas, sobretudo depois do seu enorme sucesso em  “The Public Enemy”, um dos mais influentes filmes de gangsters deste período. Em 1938, recebe uma nomeação para o Oscar de Melhor Actor, em “Angels with Dirty Faces”, e em 1942 ganha o Oscar pela sua magnífica interpretação de George M. Cohan em “Yankee Doodle Dandy”. Casado com a bailarina Frances Willard "Billie" Vernon (1922–1986). Em 1999, o “American Film Institute” coloca-os entre os 50 maiores mitos do cinema americano. Era um dos actores favoritos de Stanley Kubrick e Orson Welles considerava-o “provavelmente o melhor actor de sempre frente a uma câmara”.

Filmografia:
1930: Sinners' Holiday, de J. G. Adolfi
1930: The Doorway to Hell, de Archie L. Mayo
1930: The Stell Highway, de William A. Wellman
1931: How I Play Golf, by Bobby Jones No. 11: 'Practice Shots', de George Marshall          
1931: Blonde Crazy, de Roy del Ruth
1931: Smart Money, de A. E. Green
1931: The Millionaire (Milionário), de J. G. Adolfi
1931: The Public Enemy (O Inimigo Público), de William A. Wellman
1931: Other Men's Women, de William A. Wellman
1932: Winner Take All (Campeão do Amor), de Roy del Ruth
1932: The Crowd Roars (Heróis da Pista), de Howard Hawks
1932: Taxi!, de Roy del Ruth
1933: Lady Killer (O Irresistível), de Roy del Ruth
1933: Footlight Parade (Mil Apoteoses), de Lloyd Bacon
1933: The Mayor of Hell (Casa de Correcção), de Archie L. Mayo
1933: Picture Snatcher (Repórter de Escândalos), de Lloyd Bacon
1933: Hard to Handle, de Roy del Ruth
1934: The St. Louis Kid, de Ray Enright
1934: Here Comes the Navy (Marinheiros em Terra), de Lloyd Bacon
1934: He Was Her Man, de Lloyd Bacon
1934: Jimmy the Gent, de Michael Curtiz
1934: The Hollywood Gad-About
1935: Mutiny on the Bounty (Revolta na Bounty), de Lloyd Bacon (figurante, não creditado)
1935: A Midsummer Night's Dream (Sonho de Uma Noite de Verão), de Max Reinhardt e William Dieterle
1935: The Irish in Us, de Lloyd Bacon
1935: G Men (O Império do Crime), de William Keighley
1935: Devil Dogs of the Air (Os Doidos do Ar), de
1935: Frisco Kid (Garra de Ferro), de Lloyd Bacon
1935: Trip Thru a Hollywood Studio, de Ralph Staub
1935: A Dream Comes True
1936: The Great Guy (À Margem da Lei), de J. G. Blystone
1936: Ceiling Zero (Entre Nuvens), de Howard Hawks
1937: Something to Sing About (Como se Vence em Hollywood), de V. Schertzinger
1938: Angels with Dirty Faces (Anjos de Cara Negra), de Michael Curtiz
1938: Boy Meets Girl (Será Ela?), de Lloyd Bacon
1938: For Auld Lang Syne        
1939: The Roaring Twenties (Heróis Esquecidos), de Raoul Walsh
1939: Hollywood Hobbies, de George Sidney
1939: Each Dawn I Die (À Espera da Morte), de William Keighley
1939: The Oklahoma Kid (A Lei da Força), de Lloyd Bacon
1940: City for Conquest (A Conquista da Cidade), de Anatole Litvak
1940: Torrid Zone (Zona Tórrida), de William Keighley
1940: The Fighting 69th, de William Keighley
1941: The Bride Came C.O.D. (Uma Noiva Caída do Céu), de William Keighley
1941: The Strawberry Blonde (Uma Loira com Açúcar), de Raoul Walsh
1942: Yankee Doodle Dandy (Canção Triunfal), de Michael Curtiz
1942: Captains of the Clouds (Corsários das Nuvens), de Michael Curtiz
1943: Johnny Come Lately (Revolta na Cidade), de W. K. Howard
1943: You, John Jones!, de Mervyn LeRoy
1944: Battle Stations, de Garson Kanin
1945: Blood on the Sun (Soldados sem Uniforme), de Frank Lloyd
1947: 13 Rue Madeleine (O 13 Não Responde), de Henry Hathaway
1948: The Time of Your Life (Pecados da Humanidade), de H. C. Potter
1949: White Heat (Fúria Sanguinária), de Raoul Walsh        
1950: The West Point Story (Os Cadetes Divertem-se), de Roy del Ruth
1950: Kiss Tomorrow Goodbye (Coração de Gelo), de Gordon Douglas
1951: Starlift (O Teu Amor e uma Cabana), de Gordon Douglas
1951: Come Fill the Cup (Nas Garras do Vício), de Gordon Douglas
1952: What Price Glory? (O Preço da Glória), de John Ford
1953: A Lion Is in the Streets (A Fera), de Raul Walsh
1955: Mister Roberts, de John Ford e Merlyn Le Roy
1955: The Seven Little Foys (Os Sete Garotos), de M. Shavelson                 
1955: Love Me or Leave Me (Ama-me ou Esquece-me), de Charles Vidor
1955: Run for Cover (O Fugitivo), de Nicholas Ray
1956: These Wilder Years, de R. Rowland    
1956: Tribute to a Bad Man (Honra a Um Homem Mau), de Robert Wise
1957: Short-Cut to Hell, de James Cagney    
1957: Man of a Thousand Faces (O Homem das Mil Caras), de Joseoh Pevney
1959: Shake Hands with the Devil (Mãos Dadas com o Diabo), de Michael Anderson
1959: Never Steal Anything Small (O Herói do Bairro), de Charles Lederer 
1960: The Gallant Hours, de Robert Montgomery
1961: One, Two, Three (Um, Dois, Três), de Billy Wilder     
1968: Arizona Bushwhackers (Pistoleiros do Arizona), de Lesley Selander (narrador)        
1981: Ragtime (Ragtime), de Milos Forman

Televisão
1956: Robert Montgomery Presents (série de TV)
1957: The Christophers
1960: What's My Line
1966: The Ballad of Smokey the Bear (narrador)

1984: Terrible Joe Moran 

SESSÃO 7: 18 DE NOVEMBRO DE 2013



PEÇO A PALAVRA (1939)



“Mr. Deeds Goes to Town” data de 1936. “Mr. Smith Goes to Washington” é de 1939. São duas das obras mais paradigmáticas de Frank Capra, onde melhor se percebe o espírito do “New Deal” roosevelteano, ressaltando as muitas analogias que entre ambas surgem. Aliás, este segundo filme era para se chamar precisamente "Mr. Deeds Goes to Washington" e voltar a ser interpretado por Gary Cooper, no que seria então uma sequela coerente. Mas, apesar de ser James Stewart a interpretar o principal papel, e Mr. Deeds ter sido substituido por Mr. Smith, a verdade é que as semelhanças são muitas, e não só de atitude e de ideologia.
Se não, vejamos. Tal como em “Doido com Juízo”, o protagonista de “Peço a Palavra” é um provinciano, igualmente ingénuo mas empreeendedor, agora de nome Jefferson Smith, que de um dia para o outro, deixa a sua pequena cidade natal, sendo transferido, mercê de uma "herança", económica ou política, para o interior de uma grande metrópole, agora Washington, capital política, dado que o filme se assume frontalmente como uma sátira ao poder político e às intrigas e jogos de bastidores do Senado norte americano. Em ambos os filmes, quer Mr. Deeeds, quer Mr. Smith são primeiramente tomados pelas gentes das cidades como presas fáceis, para depois se descobrirem ossos duros de roer, que é necessário neutralizar com base na difamação e na calúnia. Nos dois filmes, a mesma Jean Arthur começa por ser uma aliada dos corruptos para se passar nas sequências finais para o campo dos "puros", tocada pelo amor.
Mas o mais interessante parece ser ainda um outro aspecto: os dois filmes e os seus dois protagonistas, que expressam um populismo voluntarista e utópico, característica fundamental do pensamento de Capra, são exemplos típicos de uma fé total na democracia, sobretudo na democracia norte-americana dos primórdios que Lincoln e Jefferson construiram. Não é por acaso que Mr. Smith se chama precisamente Mr. Jefferson Smith. Ele traz consigo a reposição dos valores esquecidos ou adulterados da democracia. Valores esquecidos ou adulterados na América, valores totalmente subvertidos na Europa, onde, nesse final da década de 30, os totalitarisms cresciam, com o nazismo, o fascismo, o comunismo a instalarem-se um pouco por todo o lado.
Capra acredita no Homem, no seu Humanismo, na sua possibilidade de reformar o sistema, de o transformar através da solidariedade, do amor e da dedicação a causas justas. Capra acredita que a integridade e a honestidade de uns tantos irão impedir a perversão do sistema empreendida por alguns em proveito próprio. Capra acredita, portanto, que o Mal não triunfa, se o Bem se mantiver vigilante e for suficientemente corajoso para intervir e lancetar a gangrena. Capra diz tudo isto com fé e alegria, fazendo filmes simples na sua aparência, lineares na sua estrutura, que irão galvanizar o povo americano. Por isso Capra foi o melhor instrumento da política de Franklin Roosevelt para o ressurgimento da América através do New Deal. E foi-o, sobretudo, porque não fazia filmes de encomenda. Ninguém lhe dizia o que devia dizer. Ele fazia os filmes que queria, que por uma feliz coincidência de propósitos se integravam plenamente no espírito do “New Deal”, o projecto político da reconstrução norte americana, que procurava sobretudo devolver a voz ao cidadão e esperar que fosse ele a tomar nas suas mãos o destino da América.
Mas, se a esperança da reconstrução nacional se dirigia para o esforço do cidadão anónimo, a vontade política ia no sentido de criar um rudimento de Estado providência que ofertasse ao cidadão as ferramentas económicas, através do crédito, e lhe criasse zonas de segurança social, para combater e vencer a Grande Depressão. Com base no pensamento de homens como Thomas Jefferson, Franklin Roosevelt esperava "refazer a vida nacional segundo um modelo que, voltasse ou não a antiga prosperidade, provocasse um maior sentido de justiça social e respondesse aos pedidos de uma nova democracia."
Houve quem visse nas ideias de Roosevelt um perigo "vermelho", mas os rudimentos de socialização da sociedade eram apoiados até pela igreja. O próprio Papa Pio XI pedia uma mais forte participação católica na reconstrução da ordem social, e muitas outras religiões, populares nos EUA, associavam-se-lhe nas intenções. A II Guerra Mundial iria terminar com o esforço do “New Deal”, mas esta época de franca prosperidade e de uma maior justiça social ficaria para sempre marcada na história dos EUA com uma pedra branca, inclusivé no campo literário e artístico. Muitos foram os escritores, de John dos Passos a Steinbeck e Hemingway, muitos foram os artistas, na música, na pintura, no teatro, no cinema, a sentirem o chamamento social, o apelo do povo para a reconstrução da sociedade em moldes mais justos e humanos. Capra foi apenas um entre muitos, mas no campo do cinema, e sobretudo na comédia, ele foi exemplar. Como exemplar foi também John Ford no drama social, desde “A Estrada do Tabaco” a “As Vinhas da Ira”.

PEÇO A PALAVRA
Título original: Mr. Smith Goes to Washington
Realização: Frank Capra (EUA, 1939); Argumento: Sidney Buchman, Myles Connolly, segundo história de Lewis R. Foster; Produção: Frank Capra; Música: Dimitri Tiomkin; Fotografia (p/b): Joseph Walker;Montagem: Al Clark, Gene Havlick; Direcção artística: Lionel Banks; Guarda-roupa: Robert Kalloch; Maquilhagem: Faye Hanlin, Helen Hunt, William Knight, Fred B. Phillips; Assistentes de realização: Arthur S. Black Jr, Rex Bailey, Richard McWhorter, Charles Vidor; Departamento de arte: Walter Holscher, George Montgomery; Som: Edward Bernds, John P. Livadary; Efeitos especiais: Fred Jackman Jr.; Efeitos visuais: Slavko Vorkapich, John Hoffman; Companhias de produção: Columbia Pictures Corporation; Intérpretes: Jean Arthur (Clarissa Saunders), James Stewart (Jefferson Smith), Claude Rains (Senador Joseph Harrison Paine), Edward Arnold (Jim Taylor), Guy Kibbee (Gov. Hubert Hopper), Thomas Mitchell (Diz Moore), Eugene Pallette, Beulah Bondi, H.B. Warner, Harry Carey, Astrid Allwyn, Ruth Donnelly, Grant Mitchell, Porter Hall, Pierre Watkin, Charles Lane, William Demarest, H.V. Kaltenborn, etc. Duração: 129 minutos; Distribuição em Portugal: Sony Portugal (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Estreia em Portugal: 10 de Abril de 1941.

FRANK CAPRA (1897-1991)
Nasceu a 18 de Maio de 1897, na localidade de Bisaquino, na tumultuosa ilha da Sicília, e viria a falecer a 3 de Setembro de 1991. De origem siciliana, a família emigrou para os EUA quando Frank Capra contava apenas seis anos de idade, instalando-se em Los Angeles. Mas a sua educação leva-o para o campo das ciências, formando-se em 1918, em Engenharia Química. Passa pelo exército, e, ao sair, encontra a América à beira do colapso económico. É difícil arranjar emprego, e por isso aproveita para viajar à boleia pelos estados do Arizona, Nevada e Califórnia. Diz a lenda que, durante a "lei seca", recusou o convite de um dirigente da mafia local para montar um fábrica clandestina, cujos alambiques não deitassem cheiro. Em vez disso, respondeu a um anúncio que pedia "realizador" para um novo estúdio. Quem colocara o anúncio no jornal fora um actor shakespeareano de nome Walter Montague, que fundara as "Productions Fireside", onde Frank Capra se estreia com uma curta metragem sobre um poema de Rudyard Kipling.
Pouco tempo depois, passa a trabalhar num laboratório de cinema, onde assiste à rodagem de várias obras, algumas delas dirigidas por cineastas como Eric Von Stroheim, o que lhe permite ir aprendendo o ofício. Aparece no elenco técnico de diversos filmes, como acessorista, montador, argumentista, inventor de gags. É nesta condição que é contratado por Hal Roach e, posteriormente, por Mack Sennett para a sua fábrica de comédias, onde começa a sua colaboração com o cómico Harry Langdon. Dois dos mais célebres filmes de Langdon são realizados por Capra em 1926, “Atleta à Força” e “Calças Compridas”.
Mas o mau feitio do actor leva-o o deixar Marc Sennett, e depois a despedir Capra. Em 1928, de novo sem emprego, é contratado por um pequeno estúdio, a Columbia Pictures, nessa altura dirigida por Harry Cohn. Aí irá permanecer durante uma dúzia de anos, ajudando a fazer da Columbia um dos grandes estúdios de Hollywood. Roda filmes a uma velocidade vertigosa, e quase todos se tornam êxitos de bilheteira. A América atravessa um dos seus piores momentos de sempre e Capra é sensível ao estado de espírito dos seus concidadãos. As suas obras, melodramas, como “A Grande Muralha”, dramas como “Milionária por um Dia”, comédias como “Loucura Americana”, começam a impor um estilo, a que mais tarde se chamará o "Capra Touch"(o toque Capra), que o celebrizará. Ele será o rosto do programa de Roosevelt para a recuperação e desenvolvimento dos EUA, apoiado no “New Deal”. Solidariedade social e optimismo são as palavras de ordem que várias obras suas consubstanciam.
Durante a II Guerra Mundial, mobilizado pelas forças armadas norte americanas, supervisionou um conjunto admirável de documentários, subordinados ao título genérico “Why We Fight”, que pretendiam mostrar aos americanos porque é que eles deveriam entrar na guerra e combater a ameaça nazi, revelando quem eram os inimigos, e testemunhando algumas das mais famosas batalhas realmente vividas na carne, de Inglaterra à Tunísia ou à China. Sob as ordens de Capra estiveram cineastas como John Ford, Anatole Litvak ou Joris Ivens, e o conjunto destes filmes é o mais espantoso e brilhante documento que a II Guerra Mundial nos deixou como resposta ao "terrificante" “Triunfo da Vontade”, da alemã Leni Riefenstahl.
Capra viveu obcecado pela conquista de um Oscar, prémio atribuído pela então recém criada Academia de Hollywood. Faz parte da história das cerimónias de atribuição dessas invejadas estatuetas um episódio protagonizado por ele. Em 1933, realiza “A Grande Muralha”, que inaugura, com pompa e circunstância, o Radio City Music Hall, de Nova Iorque. O êxito é grande, mas quanto a Oscars o filme ficou em branco. A película seguinte, “Milagre por um Dia”, reservava-lhe finalmente uma nomeação para o "melhor realizador". No dia da atribuição dos prémios, Capra estava tão seguro de si que, quando o apresentador anuncia o Oscar ganho por Frank..., Capra não espera por mais nada e dirige-se para o palco. O Oscar iria para Frank, sim, mas para Frank Lloyd, que dirigira “Cavalgada”. Foi um mau momento, que todavia duraria pouco. Em 1934, com “It Happened One Night”, Capra vê este seu trabalho arrebatar os 5 Oscars mais importantes: melhor filme, melhor realização, melhor actor principal (Clark Gable), melhor actriz principal (Claudette Colbert) e melhor argumento (atribuído a Robert Riskin, colaborador regular de Capra e seguramente uma das bases do seu triunfo). Na história de Hollywood só dois outros realizadores  repetem a graça: em 1975, Milos Forman, com Voando Sobre um Ninho de Cucos, e, posteriormente, em 1991, Jonathan Demme, com O Silêncio dos Inocentes.

1921: Fultah Fisher's Boarding House (curta-metragem)
1926: The Strong Man (Atleta à Força)
1926: Tramp, Tramp, Tramp
1927: His First Flame
1927: Long Pants (Calças Compridas)
1928: For the Love of Mike (Os Três Pais)
1928: That Certain Thing
1928: The Matinee Idol          
1928: The Power of the Press
1928: Say It with Sables (O Preço do Amor)   
1928: So this is Love  
1928: Submarine (O Mergulhador)    
1928: The Way of the Strong
1929: The Donovan Affair
1929: Flight
1929: The Younger Generation         
1930: Ladies of Leisure (na RTP: Damas do Prazer)  
1930: Rain or Shine   
1931: Dirigible (O Dirigível)
1931: The Miracle Woman     
1931: Platinum Blonde          
1932: American Madness (Loucura Americana)         
1932: Forbidden (O Seu Grande Amor)
1933: The Bitter Tea of General Yen (A Grande Muralha)    
1933: Lady For a Day (Milionária por um Dia)
1934: Broadway Bill (Derradeira Vitória)
1934: It Happened One Night (Uma Noite Aconteceu)
1936: Mr. Deeds Goes to Town (Doido com Juízo)
1937: Lost Horizon (Horizonte Perdido)
1938: You Can't Take It with You (Não o Levarás Contigo)
1939: Mr. Smith Goes to Washington (Peço a Palavra)          
1941: Meet John Doe (Um João Ninguém)     
1941: Arsenic And Old Laces (O Mundo é um Manicómio)
1942: Why We Fight? - Prelude to War
1943: Why We Fight? - The Nazis Strike
1943: Why We Fight? - Divide and Conquer
(da série “Why We Fight?”, Frank Capra produziu e supervisionou a realização dos outros seguintes episódios: “Britain” (R: Anthony Veiller); “The Battle of Britain” (R: Anthony Veiller); “The Battle of Russia” (R: Anatole Litvak); “The Battle of Chine” (R: Frank Capra e Anatole Litvak); “The Negro Soldier in World War II” (R: Stuart Heisler); “Tunisian Victory” (R: Hugh Stewart); “War Comes to America” (R: Anatole Litvak); “Know Your Enemy – Germany” (R: Gottfried Reinhardt e Ernest Lubitsch); “Know Your  Enemy – Japan” (R: Frank Capra e Joris Ivens); “Your Job in Germany”; “Two Down and One to Go”).
1946: It's A Wonderful Life (Do Céu Caiu uma Estrela)
1948: State Of The Union (Um Filho do Povo)
1950: Riding High (Desejo)  segunda versão de “Broadway Bill”      
1951: Here Comes The Groom (A Sorte Bate à Porta)
1956: Our Mr. Sun (doc.)
1957: Hemo The Magnificient (doc.)
1957: The Strange Case of the Cosmic Rays (doc.)
1958: The Unchainned Goddess (doc.)
1959: A Hole in the Head (Tristezas não Pagam Dívidas)
1961: Pocketful Of Miracles (Milagre por um Dia) segunda versão de “Lady For A Day”
1964: Rendez Vous In Space (curta-metragem)
1984: George Stevens: A Filmmaker's Journey
1987: Arriva Frank Capra      

JAMES STEWART (1908-1997)
James Maitland Stewart nasceu a 20 de Maio de 1908, em Indiana, Pensilvânia, EUA, e faleceu a 2 de Julho de 1997, com 89 anos, em Los Angeles, Califórnia, EUA. Foi casado com a ex-modelo Gloria Hatrick McLean (1949-1994). Foi um actor de teatro, cinema e televisão, tendo protagonizado vários clássicos, sendo considerado um actor incomparável pelos público mundial. Foi nomeado cinco vezes para o Oscar, que ganhou em 1941, pelo seu trabalho em “The Philadelphia Story”. Na televisão conquistou o Globo Ouro de Melhor Actor, em série dramática, em 1974, com “Hawkins”.
Inicialmente, tentou arquitectura, mas acabaria no teatro, nos palcos da Broadway. Foi nos filmes de Frank Capra que começou a chamar a atenção para o seu trabalho no cinema, sobretudo a partir de “Mr. Smith Goes to Washington” (1939). Neste filme, James começou a construir o papel pelo qual mais tarde seria reconhecido, o de idealista convicto. James Stewart morreu na sua casa, em Beverly Hills, de embolia pulmonar. Encontra-se sepultado no Forest Lawn Memorial Park (Glendale), Glendale, em Los Angeles.

Filmografia:
Cinema
1934: Art Trouble (curta-metragem)
1935: The Murder Man, de T. Whelan
1935: Rose Marie (Rose Marie), de W.S. Van Dyke
1935: Next Time We Love, de Edward H. Griffith
1936: Small Town Girl (A Pequena da Província), de William A. Wellman
1936: Speed, de E. L. Marin
1936: Wife Versus Secretary (A Secretária do Meu Marido), de Clarence Brown
1936: After the Thin Man (A Comédia dos Acusados), de W. S. Van Dyke
1936: Important News (curta-metragem)
1936: Speed, de Edwin L. Marin
1936: The Gorgeous Hussy (A Alegre Locandeira), de Clarence Brown
1936: Born to Dance (Nasceu para Dançar), de Roy del Ruth
1937: The Last Gangster (O Último Gangster), de E. Ludwig
1937: Navy Blue and Gold (Os Rapazes da Marinha), de Sam Wood
1937: Seventh Heaven, de Henry King
1938: Of Human Hearts, de Clarence Brown
1938: Vivacious Lady (Casamento em Segredo), de George Stevens
1938: The Shopworn Angel (Um Anjo no Inferno), de H. C. Potter
1938: You Can't Take It with You (Não o Levarás Contigo), de Frank Capra
1939: Mr. Smith Goes to Washington (Peço a Palavra), de Frank Capra
1939: Made For Each Other (A Vida Começa Amanhã), de John Cromwell
1939: Ice Folies of 1939 (O Turbilhão de Gelo), de R. Scheinzel
1939: Destry Rides Again (A Cidade Turbulenta), de George Marshall
1939: It's a Wonderful World (Afinal, o Mundo é Belo!), de Frank Capra
1940: No Time for Comedy (A Vida é Uma Comédia), de William Keighley
1940: The Philadelphia Story (Casamento Escandaloso), de George Cukor
1940: The Shop Around the Corner (A Loja da Esquina), de Ernest Lubitsch
1940: The Mortal Storm (Tempestade Mortal ou Tempos de Maldição), de Frank Borzage
1941: Ziegfeld Girl (Sonho de Estrelas), de R. Z. Leonard
1942: Come Live with Me (Compra-se Um Marido), de Clarence Brown
1946: It's a Wonderful Life (Do Céu Caiu uma Estrela), de Frank Capra
1946: Magic Town (A Cidade Mágica), de William A. Wellman
1948: Rope (A Corda), de Alfred Hitchcock
1948: On Our Merry Way (Tudo Pode Acontecer), de L. Fenton, K. Vidor, G. Stevens e J. Huston
1948: Call Northside 777 (A Verdade Triunfou), de Henry Hathaway
1948: You Gotta Stay Happy (Sejamos Alegres), de H. C. Potter
1949: The Stratton Story (Tenacidade), de Sam Wood
1949: Malaya (Malaia), de Richard Thorpe
1950: Winchester '73 (Winchester '73), de Anthony Mann
1950: Broken Arrow (A Flecha Quebrada), de Delmer Daves
1950: Harvey (Havey), de Henry Koster
1950: The Jackpot (Cautela com os Fiscais), de Charles Lang
1951: No Highway in the Sky (Viagem fantástica), de Henry Koster
1952: The Greatest Show on Earth (O Maior Espectáculo da Terra), de Cecil B. de Mille
1952: Bend of the River ou Where the River Bends (Jornada de Heróis), de Anthony Mann
1952: Carbine Williams (Dolorosa Revelação), de Richard Thorpe
1953: Thunder Bay (A Baía das Tormentas), de Anthony Mann
1953: The Naked Spur (Esporas de Aço), de Anthony Mann
1953: The Glenn Miller Story (A História de Glenn Miller), de Anthony Mann
1954: Rear Window (Janela Indiscreta), de Alfred Hitchcock
1954: Tomorrow's Drivers (curta-metragem)
1955: Strategic Air Command (Asas no Céu), de Anthony Mann
1955: The Far Country (Terra Distante), de Anthony Mann
1955: The Man from Laramie (O Homem que Veio de Longe), de Anthony Mann
1956: The Man Who Knew Too Much (O Homem que Sabia Demais), de Alfred Hitchcock
1957: The Spirit of St. Louis (A Águia Solitária), de Billy Wilder
1957: Night Passage (Duelo de Gigantes), de James Nielson
1958: Vertigo (A Mulher que Viveu Duas Vezes), de Alfred Hitchcock
1958: Bell, Book and Candle (Sortilégio do Amor), de Richard Quine
1959: Anatomy of a Murder (Anatomia de um Crime), de Otto Preminger
1959: The FBI Story (Profissão Perigosa), de Melvyn Le Roy 
1960: The Mountain Road (Estrada da Montanha), de Daniel Mann
1961: Two Rode Together (Terra Bruta), de John Ford
1962: The Man Who Shoot Liberty Valance (O Homem que Matou Liberty Valance)
1962: Mr. Hobbs Takes a Vacation (O Senhor Hobbs Vai de Férias), de Henry Koster
1963: Take Her, She's Mine (Esta Filha não é Minha), de Henry Koster
1962: How the West Was Won (A Conquista do Oeste), de J. Ford, G. Marshall, H. Hathaway
1964: Cheyenne Autumn (O Grande Combate), de John Ford
1965: The Flight of the Phoenix (O Vôo da Fénix), de Robert Aldrich
1965: Dear Brigitte (Querida Brigitte), de Henry Koster
1966: The Rare Breed (Rancho Bravo), de A. V. McLaglen
1966: Shenandoah (O Vale da Honra), de A. V. McLaglen
1968: Bandolero! (Bandolero!), de A. V. McLaglen
1968: Firecreek (A Hora da Fúria), de Vicent McEverty
1970: The Cheyenne Social Club (Um Clube só para Cavalheiros), de Gene Kelly
1971: Fools' Parade (Três Homens em Fuga), de A. V. McLaglen
1976: The Shootist (O Atirador), de Don Siegel1977: Airport '77 (Aeroporto 1977), de Jerry Jameson
1974: That’s Entertainment (Isto é Espectáculo), de J. Haley Jr. (comentário)
1978: The Magic of Lassie, de Don Chaffey
1978: The Big Sleep (O Sono Derradeiro), de Michael Winner
1980: Afrika Monogatari, de Susumu Hani, Simon Trevor
1991: An American Tail: Fievel Goes West (Um Conto Americano 2 - Fievel no Faroeste) (só voz) 
Televisão
1955-1957: General Electric Theater (série)
1959: Schlitz Playhouse of Stars (série)
1959: Lux Playhouse (série)
1959: Startime (série)
1962: Alcoa Premiere (série)
1960-1964: The Jack Benny Program (série)
1971–1972: The Jimmy Stewart Show (série)
1972: Harvey (telefilme)
1973–1974: Hawkins (série)
1978: General Electric's All-Star Anniversary (TV)
1980: Mr. Krueger's Christmas (telefilme)
1983: Right of Way (O Direito de Escolher) (telefilme)

1986: North and South, Book II (mini série)