domingo, 2 de fevereiro de 2014

SESSÃO 20: 24 DE FEVEREIRO DE 2014


DO CÉU CAIU UMA ESTRELA (1946)

Um filme que põe em imagem anjos da guarda que descem à terra para ganharem asas, depois de salvarem um infeliz caído em desgraça, não parece predestinado a gozar dos favores do público quase 70 anos depois de ter sido estreado. No entanto, “It's a Wonderful Life”, de Frank Capra, aí está para demonstrar o contrário, sabido que é ser este um dos filmes mais populares de sempre e uma presença constante nas semanas natalícias, em vários cantos do mundo. Tal como o “Conto de Natal”, de Dickens, nas suas mais variadas versões, esta é uma obra abençoada pelos deuses e particularmente pelo talento dos seus criadores. Na verdade, este “Do Céu Caiu uma Estrela” mantém alguma afinidade com Scrooge, ainda que possa ser olhado como o seu reverso. Existe um Scrooge igualmente, mas não é sobre ele que incidem principalmente os holofotes do filme, mas, muito pelo contrário, sobre uma sua aparente vítima, George Bailey (James Stewart), habitando ambos na pequena cidade de Bedford Falls, nos EUA, durante o difícil período que mediou entre 1929 e o fim da II Guerra Mundial.
George Bailey, sabe-se logo na introdução do filme, atravessa um momento dramático da sua existência. De tal forma que se ouvem no ar as preces de alguns familiares e amigos, implorando por ele. Estas não eram “vozes de burro”, pois que chegaram ao céu, e obrigaram Deus a chamar S. José e encarregar este de enviar à Terra um anjo de segunda classe (os que ainda não têm asas) para auxiliar o desditoso George quando se encontra tentado a lançar-se da ponte e afogar-se nas águas do rio que passa na sua cidadezinha natal. Mas, antes de descer à Terra, Clarence (Henry Travers), o anjo, tem de saber quem é a personagem que vem ajudar, pelo que lhe passam pela frente algumas etapas importantes da vida deste, desde os seus oito-nove anos, quando salva um irmão mais novo de morrer afogado numa cratera aberta no gelo, ficando por isso surdo do ouvido esquerdo. Acompanha-se o jovem empregado numa loja, onde duas miúdas da sua idade o tentam seduzir, Mary Hatch e Violet Bick (em adultas, Donna Reed e Gloria Grahame), confessando-lhe Mary o seu eterno amor, junto ao ouvido mouco (numa das mais belas cenas desta obra memorável). George demonstra já nessa altura um comportamento de uma grandeza ética indiscutível, sendo injustamente acusado pelo dono da loja, e compreendendo essa atitude pelo facto do velho homem ter recebido a notícia da morte do filho nesse dia, mas não hesitado em confrontá-lo com um erro grave que poderia ter cometido, não fora a sua atenção particular na hora de enviar a uma doente um remédio que afinal era veneno. O mesmo comportamento que se mantém quando visita o pai, no seu escritório da “Bailey Brothers Buildings and Loan”, uma cooperativa de habitação e empréstimos, que se encontra nesse momento assediada e ameaçada pelo implacável Mr. Potter (Lionel Barrymore), que pretende acabar com essa empresa para assim se tornar o senhor absoluto da cidade. George defende o pai, e agiganta-se contra Potter. Essa será a sua divisa: estar do lado dos mais fracos contra a tirania dos ricos e poderosos.

Dez anos depois, vamos encontrar George, dias antes do Crash de 1929, a preparar-se para as viagens com que sempre sonhou, partindo para longe daquela pequena cidade de província onde se sente abafar, apesar da sedutora presença de Mary Hatch, com quem visita as ruínas de uma velha casa a cujas janelas lançam pedras com os seus desejos mais íntimos: George viajar, Mary casar com o viajante que, afinal, não partira nesse dia, pois o pai tem um ataque de coração, morre, e ele é obrigado a ocupar o seu lugar na empresa. Acaba, portanto, por ficar, casar, e quando se apresta para partir, agora numa muito aguardada viagem de núpcias, explode a crise financeira, dá-se a corrida aos bancos e George empresta as suas economias para debelar o perigo e impedir a falência da sua empresa. Afinal Bedford Falls, essa pequena e insignificante cidade de província, pode ser muito estimulante. George nunca chega realmente a partir para fora de Bedford Falls, mas não deixa de participar nas mais excitantes e dramáticas “viagens” interiores.
No inverno de 1945, quando tudo parece harmonizado, eis que o simpático Tio Billy (Thomas Mitchell) perde oito mil dólares no caminho para o banco, e a crise regressa, agora com ameaçadoras nuvens de falência e descrédito no horizonte. George parece ter perdido a força interior para continuar a sua luta, e olha as revoltas e negras águas do rio, quando surge Clarence atrás de si e se precipita da ponte abaixo. George acabará por saltar, não para se suicidar, mas para salvar a vida do anjo da guarda.

Altura para Clarence lhe mostrar que a sua vida fora até aí algo de muito importante, e exemplificar o que seria Bedford Falls (já chamada Potterland), sem a sua presença. Nada melhor do que ver para crer.
A guerra tinha acabado há pouco. Frank Capra regressara de um longo trabalho para o governo dos EUA, com as forças armadas americanas, coordenando uma série documental que ficaria célebre, “Why we Fight”, onde trabalhara com Anatole Litvak, John Ford, William Wyler, Joris Ivens, Anthony Veiller, Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, etc. Durante a década de 30, Capra fora um dos arautos do “New Deal” e um defensor acérrimo da política de Roosevelt, criando um conjunto de obras que se apegavam a valores de solidariedade, de justiça social, de voluntarismo popular, como "It Happened One Night," "Mr. Deeds Goes to Town," "Mr. Smith Goes to Washington” ou "You Can't Take It With You". Com “It's a Wonderful Life” mantém muitos desses valores, pugnando pela defesa dos mais fracos, pela luta contra a ganância dos ricos e a cegueira dos poderosos, mas celebrando, sobretudo, a solidariedade e a luta comum pela justiça e pela igualdade de tratamento e de oportunidades, quer se seja rico ou pobre. Uma luta pela dignidade humana, em suma, a que “Do Céu Caiu uma Estrela” dá uma continuidade brilhante, partindo de uma história de Philip Van Doren Stern, adaptada ao cinema por Frances Goodrich, Albert Hackett, Jo Swerling, Michael Wilson (este não creditado no genérico) e do próprio Frank Capra. A narrativa de Capra é notavelmente conduzida, com segurança e eficácia extrema, um fabuloso sentido do espectáculo popular, sem nunca descurar a delicadeza e a sobriedade na análise e exposição das emoções, sem demagogia fácil ou sentimentalismo bacoco, terreno para onde era tão fácil derrapar com uma tal história como ponto de partida. Mas Capra sustenta a emoção sempre a um nível alto, nobre, sem rodriguinhos, mesclando drama e comédia, sorriso e lágrima, com o drama da condição humana como pano de fundo e os valores do humanismo a justificarem um olhar de estima. As cenas inesquecíveis sucedem-se, pautadas por uma interpretação globalmente brilhante, mas absolutamente inqualificável de James Stewart, que aqui atinge um dos pontos mais altos da sua invulgar carreira, que o leva a ser considerado por muitos o melhor actor de cinema de sempre. Também Donna Reed tem aqui um dos seus papéis de eleição, ela que nunca terá sido uma vedeta, pelo ar recatado da sua figura, mas que em “It's a Wonderful Life” é parte integrante do sucesso desta obra-prima imortal. De boas vontades está o inferno cheio, costuma dizer-se e poderá ser verdade. Infelizmente o mundo cá de baixo anda muito carenciado delas e um filme como este faz-nos acreditar que alguma coisa ainda é possível, se existirem homens e mulheres capazes de acreditarem num gesto de solidária amizade e de um amor que não exija paga.  
Nomeado para cinco Oscars (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor, James Stewart, Melhor Montagem, William Hornbeck e Melhor Som, John Aalberg) acabaria por voltar de mãos vazias, num ano em que “Os Melhores Anos das Nossas Vidas” ganharia os principais Oscars, em disputa com “Henrique V”, “O Fio da Navalha” e “O Despertar”, além de “Do Céu Caiu Uma Estrela”.

DO CÉU CAIU UMA ESTRELA
Título original: It's a Wonderful Life
Realização: Frank Capra (EUA, 1946); Argumento: Frances Goodrich, Albert Hackett, Frank Capra, Jo Swerling, (Michael Wilson), segundo história de Philip Van Doren Stern; Produção: Frank Capra; Música: Dimitri Tiomkin; Fotografia (p/b): Joseph F. Biroc, Joseph Walker, Victor Milner; Montagem: William Hornbeck; Direcção artística: Jack Okey; Decoração: Emile Kuri; Guarda-roupa: Edward Stevenson; Maquilhagem: Gordon Bau; Assistentes de realização: Arthur S. Black Jr.; Som: Clem Portman, Richard Van Hessen, John Aalberg; Efeitos especiais: Russell A. Cully, Daniel Hays, Russell Shearman; Companhias de produção: Liberty Films; Intérpretes: James Stewart (George Bailey), Donna Reed (Mary Hatch), Lionel Barrymore (Henry F. Potter), Thomas Mitchell (Tio Billy Bailey), Henry Travers (Clarence), Beulah Bondi (Ma Bailey), Frank Faylen (Ernie Bishop), Ward Bond  (Bert), Gloria Grahame (Violet Bick), H.B. Warner, Frank Albertson, Todd Karns, Samuel S. Hinds, Mary Treen, Virginia Patton, Charles Williams, Sarah Edwards, William Edmunds, Lillian Randolph, Argentina Brunetti, Robert J. Anderson, Ronnie Ralph, Jean Gale, Jeanine Ann Roose, Danny Mummert, Georgie Nokes, Sheldon Leonard, Frank Hagney, Ray Walker, etc. Duração: 130 minutos; Distribuição em Portugal: Trisan editores (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos. Estreia em Portugal: 30 de Novembro de 1947.

Nota referente a Frank Capra aparecida na folha relativa a “Peço a Palavra”
Nota referente a James Stewart aparecida na folha relativa a “Peço a Palavra”

DONNA REED (1921-1986)
Donna Belle Mullenger nasceu a 27 de Janeiro de 1921, em Denison, Iowa, EUA, e viria a falecer a 14 de Janeiro de 1986, em Beverly Hills, Los Angeles, Califórnia, EUA, de cancro no pâncreas. Cresceu como uma vulgar rapariga de campo, mas com uma beleza que rapidamente chamou a atenção, o que a levou até Los Angeles, à espera de uma oportunidade, dada pela MGM, que a contratou, aparecendo em “A Primavera da Vida” (1941), interpretado por Mickey Rooney e Judy Garland. Com “O Retrato de Dorian Gray” (1945), adquire notoriedade e, no ano seguinte, interpreta o seu melhor papel, em “Do Céu Caiu Uma Estrela”, ao lado de James Stewart. Continua uma carreira de sucesso em “Código de Honra” (1948), com Alan Ladd, com quem volta a trabalhar em “No Reino do Terror” (1949). Em 1953, consegue o Oscar de Melhor Actriz secundária, em “Até à Eternidade” (1953). “Horizontes Desconhecidos” (1955) e “The Whole Truth” (1958) são os seus títulos mais interessantes, antes de aparecer na TV em séries que lhe trouxeram nomeações para Emmys e grande popularidade, nomeadamente em “Dallas” (1984-85).
Casada com William Tuttle (1943 - 1945), Tony Owen (1945 - 1971) e Grover Asmus (1974 - 1986). Considerada uma conservadora, foi todavia uma activista anti-nuclear e anti-guerra do Vietname. Fundadora do grupo “Another Mother for Peace”.

Filmografia:
1941: The Get-Away, de Edward Buzzell e Richard Rosson         
1941: Shadow of the Thin Man (A Sombra do Homem Sombra), de W.S. van Dyke
1941: Babes on Broadway (Primavera da Vida), de Busby Berkeley
1942: Personalities (curta-metragem)
1942: The Bugle Sounds (Ao Toque de Clarim), de S. Sylvan Simon e Richard Thorpe
1942: The Courtship of Andy Hardy (O Idílio de Andy Hardy), de George B. Seitz
1942: Mokey, de Wells Root
1942: Calling Dr. Gillespie, de Harold S. Bucquet
1942: Apache Trail, de Richard Thorpe   e Richard Rosson          
1942: Eyes in the Night (Olhos na Escuridão), de Fred Zinnemann
1943: The Human Comedy (A Comédia Humana), de Clarence Brown
1943: Dr. Gillespie's Criminal Case, de Willis Goldbeck
1943: The Man from Down Under, de Robert Z. Leonard
1943: Thousands Cherr (A Festa dos Ídolos), de George Sidney
1944: See Here, Private Hargrove, de Wesley Ruggles
1944: Gentle Annie, de Andrew Marton
1945: The Picture of Dorian Gray (O Retrato de Dorian Gray), de Albert Lewin
1945: They Were Expendable (Homens para Queimar), de John Ford e Robert Montgomery
1946: Faithful in My Fashion, de Sidney Salkow
1946: It's a Wonderful Life (Do Céu Caiu Uma Estrela), de Frank Capra
1947: Green Dolphin Street (A Rua do Delfim Verde), de Victor Saville.
1948: Beyond Glory (Código de Honra), de John Farrow
1949: Chicago Deadline (No Reino do Terror), de Lewis Allen
1950: Screen Actors (curta-metragem)
1951: Saturday's Hero, de David Miller
1952: Scandal Sheet (Reportagem de Escândalo), de Phil Karlson
1952: Hangman's Knot (O Laço do Carrasco), de Roy Huggins
1953: USSR Today (documentário)
1953: Screen Snapshots: Hollywood Laugh Parade (curta-metragem)
1953: Trouble Along the Way (Barreiras Vencidas), de Michael Curtiz
1953: Raiders of the Seven Seas (O Corsário dos Sete Mares), de Sidney Salkow
1953: From Here to Eternity (Até à Eternidade), de Fred Zinnemann
1953: The Caddy (O Grande Jogador), de Norman Taurog
1953: Gun Fury (A Fúria das Armas), de Raoul Walsh
1954: They Rode West, de Phil Karlson
1954: Three Hours to Kill (Três Horas para Matar), de Alfred L. Werker
1954: The Last Time I Saw Paris (A Última Vez que Vi Paris), de Richard Brooks
1954: The Ford Television Theatre (série de TV)
1955: The Far Horizons (Horizontes Desconhecidos), de Rudolph Maté
1955: The Benny Goodman Story (A História de Benny Goodman), de Valentine Davies
1955: Tales of Hans Anderson (série de TV)
1956: Ransom! (O Resgate), de Alex Segal
1956: Backlash, de John Sturges
1956: Beyond Mombasa (Ao Sul de Mombaça), de George Marshall
1957: General Electric Theater (série de TV)
1957: Suspicion (série de TV)
1958: The Whole Truth, de John Guillermin e Dan Cohen
1958-1966: The Donna Reed Show (série de TV)
1960: Pepe (Pepe), de George Sidney (caméo)
1974: Yellow-Headed Summer, de ?
1979: The Best Place to Be, de David Miller (telefilme)
1983: Deadly Lessons, de William Wiard (telefilme)
1984: The Love Boat (O Barco do Amor) (série de TV)

1984-1985: Dallas (Dallas) (série de TV) 

SESSÃO 19: 17 DE FEVEREIRO DE 2014


     ALMAS PERVERSAS (1945)

“Scarlet Street” pertence ao período em que Fritz Lang permaneceu em Hollywood, depois de ter emigrado da Alemanha, sob a ameaça do nacional-socialismo. Por isso se compreende que, apesar de datar de 1945, conserve muitas das características do Fritz Lang alemão, a começar desde logo pelo tema, que relembra os ambientes sórdidos e culposos de “Mabuse” ou “Matou”, para não falar de “O Anjo Azul” do seu companheiro de profissão e de exílio nos EUA, Josef Von Sternberg, onde até as personagens centrais se confundem: de um lado um circunspecto e puritano professor desencaminhado por uma cantora de cabaret que faz dele o palhaço do circo;  do outro, um honestíssimo e fiel contabilista que uma outra mulher fatal, desta feita uma dengosa jovem de vida fácil com sonhos de grandeza, o leva a cometer todas as vilanias em nome de uma paixão não correspondida. Mas há muito mais dessa tradição germânica, a que Fritz Lang não gosta de chamar expressionista, apesar de o ser: os enquadramentos, a iluminação, a escolha dos cenários, a preponderância das escadas, e tantos outros elementos. Há uma sequência, no interior de um hotel, com as luzes do néon exterior a repercutir-se no interior, que nos lança directamente nos filmes mais alemães do autor, onde muitas vezes as lâmpadas pendentes do tecto oscilam, introduzindo um clima de inquietação profunda e de nítida perturbação.
Em 1944, Lang tinha rodado “The Woman in The Window” (Suprema Decisão), com Edward G. Robinson, Joan Bennett e Dan Duryea, e o filme tinha funcionado muito bem. No ano seguinte, ele e os produtores procuraram reeditar o sucesso, com o mesmo elenco, uma história algo semelhante, onde se continuam a projectar as obsessões e fantasmas do autor, em “Scarlet Street” (Almas Perversas), mas agora com uma maior intencionalidade e um pessimismo mais acentuado. Enquanto, no filme anterior, Edward G. Robinson acordava no final de um mero pesadelo, em “Scarlet Street” o pesadelo vai até ao fim.

Christopher Cross (Edward G. Robinson), empregado de contabilidade de uma empresa, com trinta anos de leais serviços, é homenageado num jantar, durante o qual o patrão lhe oferta um belo relógio e os colegas o mimam de várias formas. Nas horas vagas, Chris pinta, quando a mulher, possessiva e prepotente, lho permite. Ele seria um homem feliz, se o amor o tocasse, um amor como aquele que ele espreita através da janela, quando o patrão sai mais cedo do jantar para entrar no carro onde uma bela e vaporosa loira o aguarda.
Uma noite, porém, quando vagueia sozinho pelas ruas mal iluminadas, assiste ao espancamento de uma bela loura. Sem pensar duas vezes, investe de guarda-chuva em punho e consegue salvar a rapariga do presumível assaltante. Ela chama-se Kitty March (Joan Bennett), espreguiça o seu doce fare niente na companhia de um gigolô violento, Johnny Prince (Dan Duryea), e ambos resolvem manipular o incauto e apaixonado sonhador, que tomam por um pintor de valiosa obra que pode render bons dólares no mercado de arte.

Começámos por afirmar: tudo é sórdido neste ambiente depressivo e criminoso, com excepção do ingénuo pintor naif, que o não é só nas suas telas. Ele será arrastado num turbilhão de emoções extremas, para as quais não estava preparado, e que o precipitará, de degrau em degrau, na mais completa ignominia. Mas, para tudo ser ainda mais perturbador, a justiça faz-se por portas travessas, num universo a rondar a loucura colectiva, o que é outro dos temas chaves da obra deste cineasta genial que transformava cada filme em que tocava numa obra de uma invulgar densidade e negrume.
As interpretações são brilhantes, sobretudo a de Edward G. Robinson, num dos mais conturbados papéis da sua carreira, a fotografia de Milton R. Krasner ajuda a criar o clima pretendido com enorme eficácia, a música de Hans J. Salter joga admiravelmente com a duplicidade do enquadramento emocional, entre a romantismo a que se suspira, e o trágico da existência. A canção “My Melancholy Baby” enquadra-se na perfeição nesta atmosfera pesada e dolorosamente nostálgica. O “filme negro”, que aparece na América certamente muito por influência dos cineastas alemães e austríacos que ali se recolhem como fugitivos de Hitler, tem aqui um dos seus momentos maiores.

ALMAS PERVERSAS
Título original: Scarlet Street
Realização: Fritz Lang (EUA, 1945); Argumento: Dudley Nichols, segundo romance e peça teatral de Georges de La Fouchardière e André Mouézy-Éon ("La Chienne"); Produção: Fritz Lang, Walter Wanger; Música: Hans J. Salter; Fotografia (p/b): Milton R. Krasner; Montagem: Arthur Hilton; Direcção artística: Alexander Golitzen; Decoração: Russell A. Gausman, Carl J. Lawrence; Guarda-roupa: Travis Banton; Maquilhagem: Carmen Dirigo, Jack P. Pierce; Assistentes de realização: Melville Shyer; Departamento de arte: John Decker; Som: Glenn E. Anderson, Bernard B. Brown; Efeitos visuais: John P. Fulton; Companhias de produção: A Fritz Lang Production, A Diana Production; Intérpretes: Edward G. Robinson (Christopher Cross), Joan Bennett (Katharine 'Kitty' March), Dan Duryea (Johnny Prince), Margaret Lindsay (Millie Ray), Rosalind Ivan (Adele Cross), Jess Barker (David Janeway), Charles Kemper, Anita Sharp-Bolster, Samuel S. Hinds, Vladimir Sokoloff, Arthur Loft, Russell Hicks, etc. Duração: 103 minutos; Distribuição em Portugal: Cine Digital (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos. Estreia em Portugal: 6 de Março de 1947.

FRITZ LANG (1890-1976)
Friedrich Anton Christian Lang, ou simplesmente Fritz Lang como ficou conhecido, nasceu a 5 de Dezembro de 1890, em Viena, Áustria, e viria a falecer, Los Angeles, EUA, a 2 de Agosto de 1976, com 85 anos. Foi casado com Lisa Rosenthal (1919-1921), Thea von Harbou (1922 - 1933) e Lily Latté (1971 - 1976). Filho de um engenheiro civil, carreira que o pai queria que ele seguisse, estudou piintura e escultura em Munique, desde 1911. Viajou pela África do Norte, Próximo Oriente, China, Japão, e o seu gosto pelo exotismo ficou bem patente da sua obra cinematográfica. De novo na Alemanha foi incorporado nas forças armadas, durante a I Guerra Mundial, sendo gravemente ferido, perdendo um olho. Foi um dos grandes cineastas que se identificavam pela pala preta a cobrir um dos olhos. Em convalescença no hospital, começou a escrever argumentos para Joe May que se notabilizaram pela sua imaginação e forte poder gráfico. Quando saiu do hospital foi convidado a realizar, numa época de forte criatividade e originalidade. No Berlim do pós-guerra, a agitação cultural e artística era muita acompanhando a conflitualidade política e social. Em 1919, estreia-se com “Halbblut”, de que se desconhecem cópias. Em 1921 casou-se, em segundas núpcias, com a argumentista Thea Von Harbou, que vai escrever com ele muitos dos seus filmes do período alemão, quase todos ekles associados ao expressionismo, por muito que o seu autor se procurasse distanciar do movimento. “Der Müde Tod” (1921), “Dr. Mabuse, der Spieler” (1922), “Die Nibelungen” (1924), “Metropolis” (1927), “Spione2 (1928) e finalmente “M” (1931) são obras absolutamente notáveis.
Quando o partido nacional-socialista ascende ao poder, Adolf Hitler, que tinha o cinema em alta consideração, como veiculo de propaganda, através do Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, convida Lang e Thea para dirigirem a produção alemã e realizarem filmes para o Partido Nazista. Thea aceita o convite, Lang, pelo seu lado, refugia-se em Paris, onde chegou a produzir filmes antinazis e, em 1934, já divorciado de Thea, emigra para os EUA. A crítica que o idolatrava, acusou-o então de se ter vendido ao comércio e desvalorizou quase todas as obras realizadas na América. Só muito mais tarde lhe foi feita justiça, tendo influenciado de maneira decisiva gerações de cineastas, como o comprovam  declarações de Alfred Hitchcock, Luis Buñuel ou Orson Welles. “Fury” (1936), “You Only Live Once” (1937), “Man Hunt” (1941), “Hangmen Also Die” (1943), “Ministry of Fear” (1944), “Scarlet Street”, “The Woman in the Window” (ambos de 1945), “Rancho Notorious” (1952), “Moonfleet” (1955), “The Big Heat” (1953), “While the City Sleeps” e 2Beyond a Reasonable Doubt” (ambos de 1956) são obras de uma relevância invulgar, quer como testemunho de um tempo, quer como reflexão do próprio cinema. Só no final dos anos 50 regressa à Alemanha, onde ainda roda três filmes, antes de se retirar. Apareceu, em 1963, como actor, num filme de Jean-Luc Godard. “O Desprezo”, uma forma da geração da “nouvelle vague” lhe prestar homenagem. Voltaria então a Hollywood, onde iria falecer.

FILMOGRAFIA
Como realizador

1917 - Die Peitsche                           
1917 - Die Hochzeit im Excentricclub                                               
1917 - Hilde Warren und Der Tod                                                                
1918 - Lilith Und Ly                                                  
1919 - Die Rache Ist Mein                                                     
1919 - Halbblut                                             
1919 - Bettler Gmbh                                                             
1919 - Der Herr der Liebe                                        
1919 - Wolkenblau und Flimmerstern                                                          
1919 - Die Frau Mit den Orchideen                                      
1919 - Totentanz                                                      
1919 - Die Pest in Florenz                                                    
1919 - Die Spinnen, 1. Teil - Der Goldene See                                                        
1919 - Harakiri                                                          
1920 - Die Herrin der Welt 8. Teil - Die Rache der Maud Fergusson (As Aranhas, parte 1 - O Lago Dourado)           
1920 - Die Spinnen, 2. Teil - Das Brillantenschiff      (As Aranhas, parte 2 - O Barco dos Brilhantes)
1920 - Das Wandernde Bild                           
1921 - Das Indische Grabmal                         
1921 - Vier um Die Frau                    
1921 - Der Müde Tod (A Morte Cansada ou As Três Luzes)               
1922 - Dr. Mabuse, Der Spieler (Dr. Mabuse, O Jogador)                                         
1924 - Die Nibelungen: Kriemhilds Rache (Os Nibelungos - A Vingança de Kriemhilds)
1924 - Die Nibelungen: Siegfried (Os Nibelungos - A Morte de Siegfried)
1927 - Metropolis (Metropolis)                      
1928 - Spione (Os Espiões)                            
1929 - Frau Im Mond (A Mulher na Lua)                                            
1931 - M (M - Matou)                          
1933 - Das Testament des Dr. Mabuse (O Testamento do Dr. Mabuse)
1934 - Liliom (Coração de Apache)                            
1936 - Fury (Fúria)                            
1937 - You Only Live Once (Só Vivemos Uma Vez)                                        
1938 - You and Me                                        
1940 - The Return Of Frank James (A Volta de Frank James)                                  
1941 - Western Union (Os Conquistadores)                                      
1941 - Man Hunt (O Homem Que Quis Matar Hitler)                                      
1942 - Moontide                                                        
1943 - Hangmen Also Die! (Os Carrascos Também Morrem)                          
1944 - Ministry Of Fear (Feras Humanas)                                                                 
1944 - The Woman in The Window (Suprema Decisão)                                             
1945 - Scarlet Street (Almas Perversas)                                           
1946 - Cloak and Dagger                                                                   
1948 - Secret Beyond the Door (O Segredo da Porta Fechada)                                
1950 - House by the River (A Casa à Beira do Rio)                                                   
1950 - American Guerrilla in The Philippines                                              
1952 - Rancho Notorious (O Rancho das Paixões)                                         
1952 - Clash by Night (Conflito Nocturno)                                         
1953 - The Blue Gardenia                                                     
1953 - The Big Heat (Corrupção)                                                      
1954 - Human Desire (Desejo Humano)                                                        
1955 - Moonfleet (O Tesouro do Barba Ruiva)                                                          
1956 - While the City Sleeps (Cidade das Trevas)                                        
1956 - Beyond a Reasonable Doubt (A Verdade e o Medo)
1959 - Journey to the Lost City                     
1959 - Der Tiger Von Eschnapur (O Tigre de Eschnapur)                             
1959 - Das Indische Grabmal (O Túmulo Índio)                                             
1960 - Die Tausend Augen des Dr. Mabuse (O Diabólico Dr Mabuse)            

EDWARD G. ROBINSON 
(1893-1973)
Edward G. Robinson (de nome próprio Emmanuel Goldenberg) nasceu em Bucareste, na Roménia, a 12 de Dezembro de 1893, e viria a falecer em Hollywood, Califórnia, EUA, a 26 de Janeiro de 1973, com 79 anos, vítima de cancro. Encontra-se sepultado em Beth El Cemetery, Ridgewood, Condado de Queens, Nova Iorque, EUA.
Quando era ainda muito novo, os pais emigraram para os EUA (1903). Estudou na Townsend Harris High School e no City College, depois na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Foi bolseiro da American Academy of Dramatic Arts onde adoptou o nome por que ficou conhecido, Edward G. Robinson (o G. refere o seu nome familiar, Goldenberg). Iniciou a sua actividade como actor no teatro, e pouco tempo depois estreava-se no cinema em pequenos papéis. Em 1931, em “Little Caesar” (O Pequeno César), de Mervyn LeRoy, impunha-se definitivamente como protagonista, Caesar Enrico "Rico" Bandello, um papel de gangster que marcaria a sua carreira para sempre. Em 1949, no Festival de Cannes era consagrado como Melhor Actor em House of Strangers”, ao lado de Susan Hayward, sob a direcção de Joseph L. Mankiewicz. Mas a sua filmografia encerra dezenas de fabulosas interpretações de um actor de grande cultura e talento, elegante e fino no desempenho, o que lhe permitiu ser incluído na lista dos 25 maiores actores de sempre do cinema americano (AFI). Trabalhou com alguns dos maiores cineastas norte-americanos e mundiais.
Foi sempre um combatente destemido do fascismo e do nazismo, assinando a "Declaration of Democratic Independence" que propunha o boicote aos produtos da Alemanha nazi. Chamado a depor perante a House Un-American Activities Committee (HUAC), refutou as ideias comunistas, mas não acusou ninguém e foi por isso colocado numa lista negra, o que o levou a um período de certo apagamento, apenas interrompido pela aparição em obras menores. Seria Cecil B. DE Mille a recuperá-lo, em 1956, oferecendo-lhe um bom papel em “The Ten Commandments”. Chegou a estar pensado para protagonista de “The Godfather” (1972), de Francis Ford Coppola que acabou por se decidir por Marlon Brando. O seu último grande filme foi “Soylent Green” (1973), de Richard Fleischer, onde interpreta uma cena de eutanásia, ao lado do seu amigo Charlton Heston, que o sabe no período final de um cancro, e solta genuínas lágrimas, visíveis nessa sequência. Robinson iria falecer alguns dias depois. Casado com a actriz Gladys Lloyd (1927–1956) e a designer de moda Jane Robinson (1958–1973).
Falava sete línguas e tinha uma magnífica colecção de arte. Democrata e liberal, acompanhou convenções democráticas, como a 1960. A sua personalidade e os seus papéis influenciaram muitos filmes e justificaram diversas homenagens. Apenas ganhou um Oscar de carreira, em 1973, pelo seu trabalho “como grande actor, patrono das artes e dedicado cidadão, em suma um homem do Renascimento”. Morreu dois meses antes de receber o Oscar que já lhe estava destinado.

Filmografia
1916: Arms and the Woman, de George Fitzmaurice.
1923: The Bright Shawl, de John S. Robertson.
1929: The Hole in the Wall, de Robert Florey
1930: A Lady to Love, de Victor Sjöström
1930: Die Sehnsucht jeder Frau
1930: Outside the Law, de Tod Browning
1930: Night Ride, de John S. Robertson
1930: East Is West, de Monta Bell
1930: The Widow from Chicago, de Edward F. Cline
1930: Warner Bros. Jubilee Dinner (curta-metragem)
1931: How I Play Golf by Bobby Jones No. 10: Trouble Shots (curta-metragem)
1931: The Slippery Pearls (curta-metragem)
1931: Little Caesar (O Pequeno César), de Mervyn LeRoy
1931: The Stolen Jools, de William C. McGann (curta-metragem)
1931: Smart Money, de Alfred E. Green
1931: Five Star Final, de Mervyn LeRoy
1932: The Hatchet Man, de William A. Wellman
1932: Tiger Shark (O Tigre dos Mares), de Howard Hawks
1932: Two Seconds (Dois Segundos de Vida), de Mervyn LeRoy
1932: Silver Dollar, de Alfred E. Green
1933: The Little Giant (O Pequeno Gigante), de Roy Del Ruth
1933: I Loved a Woman, de Alfred E. Green
1934: Dark Hazard, de Alfred E. Green
1934: The Man with Two Faces (O Homem de Duas Caras), de Archie Mayo
1935: Barbary Coast (Cidade Sem Lei), de Howard Hawks e William Wyler
1935: The Whole Town's Talking (Não Se Fala Noutra Coisa), de John Ford
1936: Bullets or Ballots (Guerra ao Crime), de William Keighley
1937: Kid Galahad (O Mais Forte), de Michael Curtiz
1937: The Last Gangster (O Último Gangster), de Edward Ludwig
1937: Thunder in the City (Pânico na Bolsa), de Marion Gering
1938: A Slight Case of Murder (Um Crime sem Importância), de Lloyd Bacon
1938: The Amazing Dr. Clitterhouse (O Génio do Crime), de Anatole Litvak
1938: I Am the Law (Derrocada do Crime), de Alexander Hall
1939: Confessions of a Nazi Spy (Confissão de Um Espião Nazi), de Anatole Litvak
1939: Blackmail (Expiação sem Crime), de H.C. Potter
1939: Verdensberomtheder i Kobenhavn (documentário)
1939: A Day at Santa Anita (curta-metragem)
1940: Brother Orchid (Orquídea Brava), de Lloyd Bacon
1940: Dr. Ehrlich's Magic Bullet (A Ampola Miraculosa), de William Dieterle
1940: A Dispatch from Reuters (Um Comunicado da Reuter), de William Dieterle
1941: The Sea Wolf (O Lobo do Mar), de Michael Curtiz
1941: Manpower (Discórdia), de Raoul Walsh
1941: Unholy Partners, de Mervyn LeRoy
1941: Larceny, Inc. (Não Vale a Pena Roubar), de Lloyd Bacon
1941: Destroyer, de William A. Seiter
1941: Polo with the Stars (curta-metragem)
1942: Tales of Manhattan (Seis Destinos), de Julien Duvivier
1942: Moscow Strikes Back (documentário) (narrador)
1943: Magic Bullets (narrador)
1943: Flesh and Fantasy (Os Mistérios da Vida), de Julien Duvivier
1944: Tampico (Um Perigo em Cada Porto), de Lothar Mendes
1944: Mr. Winkle Goes to War (A Sua Grande Ambição), de Alfred E. Green
1944: The Woman in the Window (Suprema Decisão), de Fritz Lang
1944: Double Indemnity (Pagos a Dobrar), de Billy Wilder
1945: Scarlet Street (Almas Perversas), de Fritz Lang
1945: Our Vines Have Tender Grapes (Ternura), de Roy Rowland
1945: Journey Together (Jornada Heróica), de John Boulting
1946: The Stranger (O Estrangeiro), de Orson Welles
1946: American Creed (curta-metragem)
1947: The Red House (A Casa Vermelha), de Delmer Daves
1948: Night Has a Thousand Eyes (A Noite Tem Mil Olhos), de John Farrow
1948: Key Largo (Paixões em Fúria), de John Huston
1948: All My Sons (A Sombra do Passado), de Irving Reis
1949: House of the Stangers (Sangue do Meu Sangue), de Joseph L. Mankiewicz
1949: It's a Great Feeling, de David Butler
1950: My Daughter Joy (A Minha Filha Joy), de Gregory Ratoff
1952: Actor's Blood (episódio de Actor's and Sin), de Ben Hecht e Lee Garmes
1953: Vince Squad (A Rapariga do Quarto 17), de Arnold Laven
1953: The Big Leaguer, de Robert Aldrich
1953: Lux Video Theatre (série de TV) - episódio Witness for the Prosecution 
1954: Black Tuesday (Terça Feira Negra), de Hugo Fregonese
1954: The Glass Web (A Teia de Cristal), de Jack Arnold
1954: For the Defense (teledramático)
1954: Climax! (série de TV) – episódio Epitaph for a Spy
1955: The Ford Television Theatre (série de TV) – episódios A Set of Values e ..... and Son
1955: The Violent Men (Homens Violentos), de Rudolph Maté
1955: Tight Spot (O Alvo é Uma Mulher), de Phil Karlson
1955: A Bullet for Joey, de Lewis Allen
1955: Illegal (O Grande Erro), de Lewis Allen
1955: Hell on Frisco Bay (Inferno em São Francisco), de Frank Tuttle
1955: Celebrity Playhouse (série de TV) – episódio For the Defense 
1956: Nightmare (Dez Dias de Pesadelo), de Maxwell Shane
1956: The Ten Commandments (Os Dez Mandamentos), de Cecil B. DeMille
1957: The Heart of Show Business (curta-metragem) narrador
1958: Playhouse 90 (série de TV) - episódio Shadows Tremble 
1959: A Hole in the Head, de Frank Capra
1959: Zane Grey Theater (série de TV) - episódio Heritage 
1959: Goodyear Theatre (série de TV) - episódio A Good Name
1960: Seven Thieves (Os Sete Ladrões da Cidade), de Henry Hathaway
1960: Pepe (Pepe), de George Sidney
1960: Sunday Showcase (série de TV) - episódio The Devil and Daniel Webster
1960: Courageous Cat and Minute Mouse (série de TV) - episódio Frog
1961: The Detectives (série de TV) - episódio The Legend of Jim Riva 
1961: General Electric Theater (série de TV) - episódio The Drop-Out 
1962: Two Weeks in Another Town (Duas Semanas Noutra Cidade), de Vincente Minnelli
1962: My Geisha, de Jack Cardiff
1962: The DuPont Show of the Week (série de TV) - episódio Cops and Robbers Narrator
1963: Sammy Going South, de Alexander Mackendrick
1963: The Prize (O Prémio), de Mark Robson
1964: Good Neighbor Sam (Empresta-me o Teu Marido), de David Swift
1964; The Outrage (Ultrage), de Martin Ritt
1964: Cheyenne Autumn (O Grande Combate), de John Ford
1965: The Cincinnati Kid (O Aventureiro de Cincinnati), de Norman Jewison
1965: Who Has Seen the Wind? (teledramático)
1967: Ad ogni costo, de Giuliano Montaldo
1967: All About People, de Saul Rubin (curta-metragem) narrador
1967: La blonde de Pékin, de Nicolas Gessner
1968: The Biggest Bundle of Them All (A Maior Bolada do Mundo), de Ken Annakin
1968: It's Your Move, de Roberto Fizz
1968: Never a Dull Moment, de Jerry Paris
1968: Operazione San Pietro, de Lucio Fulci
1969: Mackenna's Gold (O Ouro de Mackenna), de Jack Lee Thompson
1969: The Name of the Game (série de TV) - episódio Laurie Marie 
1969: Medical Center (série de TV) - episódio U.M.C. 
1969-1970: Bracken's World (série de TV) - episódio The Mary Tree / Panic
1970: The Silent Force (série de TV) - episódio The Courier
1970: The Old Man Who Cried Wolf (teledramático)
1970: Song of Norway (A Canção da Noruega), de Andrew L. Stone
1971: Night Gallery (série de TV) - episódios The Messiah on Mott Street e The Painted Mirror 
1971: Mooch Goes to Hollywood (Cameo)
1972: Lo B'Yom V'Lo B'Layla, de Steven Hilliard Stern
1972: Neither by Day Nor by Night
1973: Soylent Green (À Beira do Fim), de Richard Fleischer