NINOTCHKA
(1939)
Em
1930, quando estreou o seu primeiro filme americano sonoro, a publicidade
anunciava que este era “o primeiro filme falado de Greta Garbo”. Algo como
“Garbo fala!”. Em 1939, “Ninotchka”, a primeira comédia de Garbo, a publicidade
proclamava: “Garbo ri!”. Na verdade, era assim, o que tinha aliás provocado
algum embaraço durante as filmagens. Greta Garbo não se sentia muito à vontade
com essa sua “estreia”. Chegou a pedir a Lubitsch para cortar a cena, ao que
este terá respondido: “Por ti faço tudo, corto cenas, mudo diálogo, altero o
que quiseres, mas não me peças isso!” E Garbo riu e riu bem, umas estridentes e
“sonoras” gargalhadas, em resposta não às anedotas com que o sedutor Conde Léon
d'Algout procurava alegrar a sorumbática camarada Nina Ivanovna Yakushova,
conhecido por Ninotchka, mas por uma aparatosa queda de uma cadeira num
restaurante de operários.
Datado
de 1939, como já dissemos, “Ninotchka” coloca-se no centro nevrálgico das
ideologias em confronto na II Guerra Mundial, que explodiria nesse mesmo ano.
De um lado, as democracias ocidentais (de que EUA e França, Paris, onde decorre
grande parte da obra, são símbolos); do outro lado, dois totalitarismos, a
URSS, de Estaline, e a Alemanha, de Hitler. O filme dá conta desse cruzar de
políticas, sem se referir directamente ao conflito armado. É a disputa
política, as ideias antagónicas e as suas consequências práticas que estão em
confronto.
O
filme inicia-se pela chegada a Paris de uma representação da União Soviética,
três simpáticos camaradas aparentemente mal-humorados, que vêm vender as jóias
confiscadas à Grã-duquesa Swana, entretanto também ela refugiada em Paris, onde
vive uma frívola e ostensiva existência. Mas alguns percalços obrigam os
“camaradas” a ficarem mais tempo em Paris e a saborearem os prazeres da
“decrépita” e “decadente” sociedade capitalista. Começam a habituar-se à suite
real de um hotel de 5 estrelas e às iguarias do Ocidente. O tempo vai
decorrendo, os velhos chapéus dos “tovarichs” são trocados pelas cartolas
“decadentistas”, e na suite real sucedem-se as meninas dos cigarros, como num
film dos brothers Marx. Jogando com a proverbial elipse lubitscheana, existe
até uma cena absolutamente notável, onde só se vê a porta da suite real mas,
pelo ritmo das entradas e saídas e pelos significativos sons que se vão ouvindo
em off, se vai percebendo muito bem o que lá por dentro se vai passando.
Mas
estes “dias maravilhosos numa Paris”, em que “serin” (que em inglês tanto pode
ser sereia como sirene), era apenas sereia, uma bela mulher, e “não a sirene
dos bombeiros dos ataques aéreos”, como se explica no filme, logo a abrir,
serão interrompidos pela presença de Ninotchka, curiosamente uma linda mulher
que vem nas austeras e masculinas vestes de camarada controlador verificar as
causas do atraso dos seus compatriotas relapsos. Mas Ninotchka cruza-se com o
tentador Conde d'Algout e o caldo entorna-se, ou não fosse esta comédia escrita
por Billy Wilder (de colaboração com Charles Brackett, e Walter Reisch, segundo
uma história de Melchior Lengyel) e realizada por Ernest Lubitsch.
É
conveniente falar aqui da influência dos realizadores germânicos na Hollywood
desta época. Murnau, Stroheim, Lang, Sternberg, Lubitsch, Preminger, Billy
Wilder e alguns mais exilaram-se da Europa ameaçada pelos nazis e procuraram
refúgio nos EUA. A mistura foi explosiva durante alguns tempos para alguns e
permanente para outros. A ironia e o humor (em muitos casos de origem judaica,
o tão citado humor “yiddish”), o cinismo, a malícia e uma certa elegância de
estilo e de tom tornaram-se notados sobretudo na comédia. Lubitsch e Wilder são
expoentes máximos, e este último sempre se declarou discípulo do primeiro, com
quem, afirma, muito aprendeu, precisamente na sua colaboração em “Ninotchka”.
Aliás, é de referir que o próprio Billy Wilder retoma o tema, anos depois
(1961), com uma comédia muito semelhante, “One, Two, Three”, onde a influência
de “Ninotchka” é evidente. Ou um prolongamento da sua contribuição para este
título.
A
obra tem um tom absolutamente envolvente e esfusiante, como o champanhe que
nela é generosamente consumido, e liberta a mulher do seu estojo de diligente e
militante “camarada”. Mas o filme, se critica o comunismo da URSS, com purgas e
julgamentos bárbaros, não se confina a essa realidade e vai alfinetando a
frívola (mas tão apetecível) sociedade ocidental e, obviamente, os nazis. Há,
inclusive, logo no início da projecção, um episódio excelente. Quando esperam,
na estação de comboios, pela chegada do “camarada” (que esperam seja um austero
comunista), os três soviéticos descobrem alguém que parece ter os traços
inconfundíveis da personalidade esperada. E, quando se vão para dirigir a ele,
ouvem-no proclamar bem alto, “Heil Hitler!”, o que demonstra bem que, por
vezes, os extremos se tocam ou não são tão extremos assim.
Também
os exilados não são poupados. A Grã-duquesa quer reaver as jóias com uma justificação
curiosa: “Não precisamos de nos preocupar com o futuro, se pudermos vender o
passado”.
A
sátira mistura-se habilmente com a comédia brilhante, Greta Garbo mantém-se
magnifica, apesar de já não ostentar a beleza fulgurante do início dos anos 30
(mas conta apenas 34 anos!), e o restante elenco, dominado por Melvyn Douglas,
e com uma saborosa aparição de Bela Lugosi (na figura de um inflexível
comissário Razinin, o que não deixa de ser uma escolha simbólica divertida), é
excelente. Sig Ruman (Iranoff), Felix Bressart (Buljanoff) e Alexander Granach
(Kopalski) formam um trio que relembra os Marx (todos eles, afinal, muito pouco
marxistas-leninistas) e Lubitsch ilumina com a sua arte de contar esta
belíssima comédia modelar de um período de ouro deste género em Hollywood.
Infelizmente, este espírito de uma ironia subtil, iria perder-se em grande
parte da produção ianque futura. “Ninotchka” faz figura de jóia da coroa que
sabe bem revisitar de tempos a tempos.
NINOTCHKA
Título original: Ninotchka
Realização: Ernst Lubitsch
(EUA, 1939); Argumento: Charles Brackett, Billy Wilder, Walter Reisch, segundo
história de Melchior Lengyel; Produção: Sidney Franklin, Ernst Lubitsch;
Música: Werner R. Heymann; Fotografia (p/b): William H. Daniels; Montagem: Gene
Ruggiero; Direcção artística: Cedric Gibbons; Decoração: Edwin B. Willis;
Guarda-roupa: Adrian; Maquilhagem: Jack Dawn, Sydney Guilaroff, Beth Langston;
Assistentes de realização: Horace Hough, John Waters; Departamento de arte:
Randall Duell, George Elder; Som: Douglas Shearer, Conrad Kahn; Companhias de
produção: Loew's; Intérpretes: Greta
Garbo (Ninotchka), Melvyn Douglas (Leon), Ina Claire (Swana), Bela Lugosi
(Razinin), Sig Ruman (Iranoff), Felix Bressart (Buljanoff), Alexander Granach
(Kopalski), Gregory Gaye (Rakonin), Rolfe Sedan, Edwin Maxwell, Richard Carle,
Dorothy Adams, etc. Duração: 110
minutos; Distribuição em Portugal: Sif (cinema); Distribuição em Portugal:
Warner Bros. (DVD); Classificação etária: M/12 anos; Estreia em Portugal: 5 de
Novembro de 1940.
ERNST
LUBITSCH
(1892 – 1947)
Ernst Lubitsch nasceu em 28 de Janeiro
de 1892, em Berlin, Alemanha, e faleceu a 30 de Novembro de 1947, em Hollywood, Califórnia,
EUA, de ataque de coração. Filho de Simcha (Simon) Lubitsch, um alfaiate judeu,
aos 16 anos deixa o “Sophien Gymnasium”, onde se iniciou no tetaro escolar,
para se dedicar por inteiro ao teatro. Em 1911, ingressa no “Deutsches Theater”
do célebre encenador Max Reinhardt, onde sobe rapidamente de categoria,
passando igualmente a interpretar filmes no estúdio da “Bioscope”, de Berlim.
Em 1914, não só interpreta como escreve e realiza os seus próprios filmes. Em
1918, ganha grande prestígio com “Os Olhos da Múmia” e “Carmen”, ambos com Pola
Negri, uma das suas actrizes fetiche. No ano seguinte, dirige sete filmes,
entre comédias e dramas históricos, entre os quais “Madame DuBarry” e “A
Princesa das Ostras”, onde se começa a falar do seu estilo muito próprio, mais
tarde chamado "Lubitsch Touch", mistura de ironia e cinismo, sofisticação
e inspirada ligeireza de tom a tratar de temas sérios e graves.
Foi à América promover “A Mulher do
Faraó” (1922) e, pouco depois, era contratado para Hollywood, onde dirige Mary
Pickford em “Rosita, Cantora das Ruas” (1923). Segue-se um conjunto de obras
que o transformam num dos mais respeitados cineastas de Hollywood. Em 1939,
dirige Greta Garbo e Melvyn Douglas em “Ninotchka”, para a MGM, uma das suas
obras mais conhecidas, uma sátira ao comunismo, e, em 1942, “Ser ou Não Ser”,
uma comédia demolidora sobre o nazismo.
Naturalizou-se americano em 1936. Foi
nomeado três vezes para o Oscar de Melhor Realizador - “O Patriota” (1928),
“Parada do Amor” (1929) e “O Céu Pode Esperar” (1943) - e foi-lhe atribuído, em
1947, um Oscar honorário pela sua contribuição para a arte do cinema. Morreu em
consequência de um ataque de coração e, no funeral, Billy Wilder, que o
considerava o seu realizador preferido, disse: "No more Lubitsch”, ao que
William Wyler acrescentou, "Worse than that - no more Lubitsch films."
Foi casado com Vivian Gaye (1935 - 1944) e Helene Kraus (1922 - 1930).
Descobriu Jeanette MacDonald que, com
Maurice Chevalier, fizeram uma dupla de respeito nas décadas de 30 e 40. Foi
votado entre os melhores realizadores de todos os tempos pela revista “Entertainment
Weekly”, ficando em 16º lugar.
Filmografia:
Filmes mudos
1914: Fräulein Seifenschaum
(curta-metragem)
1915: Aufs Eis geführt
(curta-metragem)
1915: Ein verliebter Racker
(curta-metragem)
1915: Blindekuh (curta-metragem)
1915: Zucker und Zimt (curta-metragem)
1915: Der erste Patient
(curta-metragem)
1915: Der letzte Anzug
(curta-metragem)
1915: Der Kraftmeier (curta-metragem)
1916: Als ich tot war (curta-metragem)
1916: Die neue Nase (curta-metragem)
1916: Schuhpalast Pinkus
(curta-metragem)
1916: Der gemischte Frauenchor
(curta-metragem)
1916: Das schönste Geschenk
(curta-metragem)
1916: Der G.m.b.H. Tenor
(curta-metragem)
1916:
Leutnant auf Befehl (curta-metragem)
1917: Sein
einziger Patient (curta-metragem)
1917: Seine neue Nase (curta-metragem)
1917: Ossis Tagebuch (curta-metragem)
1917: Der Blusenkönig (curta-metragem)
1917: Wenn vier dasselbe tun
(curta-metragem)
1917: Das fidele Gefängnis
(curta-metragem)
1917: Käsekönig Holländer
(curta-metragem)
1918: Prinz Sami (curta-metragem)
1918: Der Rodelkavalier
(curta-metragem)
1918: Der Fall Rosentopf
(curta-metragem)
1918: Die Augen der Mumie Ma (Os Olhos
da Múmia)
1918: Fuhrmann Henschel
1918: Ich möchte kein Mann sein
(curta-metragem)
1918: Das Mädel vom Ballett
(curta-metragem)
1918:
Carmen
1919: Rausch
1919: Die
Puppe
1919:
Meyer aus Berlin (curta-metragem)
1919:
Meine Frau, die Filmschauspielerin
1919: Das Schwabenmädel
1919: Die Austernprinzessin (A
Princesa das Ostras)
1919: Madame DuBarry
1919: Käsekönig Holländer
(curta-metragem)
1920: Kohlhiesels Töchter
(curta-metragem)
1920: Romeo und Julia im Schnee (curta-metragem)
1920: Die Wohnungsnot
1920:
Sumurun
1920: Anna
Boleyn (Ana Bolena)
1921: Die
Bergkatze
1922: Das Weib des Pharao (A Mulher do
Faraó)
1923: Die Flamme (curta-metragem)
1923: Rosita (Rosita, Cantora das Ruas )
1924: The Marriage Circle (Os Perigos
do Flirt)
1924: Three Women (Mulher, Guarda o
Teu Coração)
1924: Forbidden Paradise (Paraíso Proibido)
1925: Kiss Me Again (Divorciemo-nos)
1925: Lady Windermere's Fan (O Leque de Lady Margarida)
1926: The Honeymoon Express (não creditado)
1926: So This is Paris (A Loucura do Charleston)
1927: The Student Prince in Old Heidelberg
(O Príncipe Estudante)
Filmes sonoros
1928: The Patriot (O Patriota)
1929: Eternal Love
1929: The Love Parade (Parada do Amor)
1929: Galas de la Paramount
1930: Paramount on Parade (Paramount
em Gala)
1930: The Vagabond King O Rei
Vagabundo (não creditado)
1930:
Monte Carlo (Monte Carlo)
1931: The
Smiling Lieutenant (O Tenente Sedutor)
1932: Broken Lullaby (O Homem que Eu
Matei)
1932: One Hour with You (Uma Hora Contigo)
1932: Une
heure près de toi
1932:
Trouble in Paradise (Ladrão de Alcova)
1932: If I Had a Million (Se Eu
Tivesse Um Milhão) (episódio "The Clerk")
1933: Design for Living (Uma Mulher
para Dois)
1934: The Merry Widow (A Viúva Alegre)
1934: La
Veuve Joyeuse (versão francesa)
1937: Angel (O Anjo)
1938: Bluebeard's Eighth Wife (A
Oitava Mulher do Barba Azul)
1939: Ninotchka (Ninotchka)
1940: The Shop around the Corner (A Loja da Esquina)
1941: That Uncertain Feeling (No Que Pensam as Mulheres)
1942: To Be or Not to Be (Ser ou Não Ser)
1943: Heaven Can Wait (O Céu Pode
Esperar)
1945: A Royal Scandal (Os Amores de
Catarina da Rússia) (não creditado)
1946: Cluny Brown (O Pecado de Cluny
Brown)
1948: That Lady in Ermine (A Dama de
Arminho)
GRETA
GARBO (1905 - 1990)
Greta Lovisa Gustafson, posteriormente
conhecida com o nome artístico de Greta Garbo, nasceu a 18 de Setembro de 1905,
em Estocolmo (Suécia), e morreu a 15 de Abril de 1990, com 84 anos, em Nova
Iorque, EUA. Foi a mais nova dos três filhos de Anna Lovisa Johansson (1872 –
1944) e Karl Alfred Gustafsson (1871 – 1920). A família tratava-a por “Katha”,
como ela própria em miúda se chamava a si própria. O pai morre em 1920 e, por
imposição da vida, aos catorze anos já trabalhava numa barbearia, como
“tvålflicka” (a "rapariga do creme de barba"). A sua estreia no mundo
do cinema surge em filmes publicitários para lojas de Estocolmo, como uma loja
de chapéus de Paul U. Bergstrom, na Hötorget Plaza, em 1921, ou à padaria da
Associação Cooperativa dos Consumidores de Estocolmo, ambos os filmes dirigidos
pelo "capitão" Ragnar Ring, ex-oficial da cavalaria. Foi notada.
Começou a interessar-se pela representação e cursou a Academia Real de Teatro
Dramático (Kungliga Dramatiska Teatern), sendo aí descoberta pelo realizador
finlandês Mauritz Stiller, que viria a desempenhar um importante papel na
carreira da actriz. Greta e Stiller realizam, no entanto, um único filme
juntos: “A Lenda de Gösta Berling”, 1924. Mas Stiller levou Greta para a
Alemanha, onde ela trabalhou com um dos mestres do expressionismo alemão, Georg
W. Pabst, em “A Rua sem Sol”, 1925.
Louis B. Mayer, que dirigia a MGM,
deslumbrou-se com o trabalho da jovem actriz e contratou-a, bem como a Mauritz
Stiller, para viajarem até Hollywood. Foi por essa atura, estamos entre 1924 e
1925, que Greta Gustafson se transforma em Greta Garbo. Por influência de
Stiller, ao que consta. Em 1925, Garbo e Stiller encontram-se em Hollywood, contratados
pela MGM. Uma dupla a fazer lembrar Josef von Sternberg e Marlene Dietrich: um
cineasta pigmaleão e uma actriz em formação. O triunfo não foi imediato, muito
por causa do forte sotaque sueco, questão que foi ultrapassada com o tempo,
tornando-se até uma das características mais reputadas de Garbo, alimentando o
seu exotismo e mistério. Também o seu físico de “gordinha sueca” não ajudava,
até que o produtir Irving Thalberg lhe prescreveu uma dieta rígida e algumas
correcções, nomeadamente num dente, nos cabelos e na pintura dos olhos. Também
Lillian Gish lhe deu preciosos conselhos, o que fez da adolescente Greta
Gustafson a mítica beleza da mulher Greta Garbo. Em Nova Iorque, o fotógrafo
Arnold Genthe fez o resto, com uma memorável sessão fotográfica, publicada
alguns meses depois, na “Vanity Fair”, de Novembro de 1925. As fotos de Genthe
entusiasmaram o estúdio que, de um dia para o outro, descobria uma estrela mais
para o seu firmamento. Não uma estrela apenas. Uma das mais gloriosas estrelas de
toda a história do cinema. Muitos anos depois, o Instituto Americano de Cinema
considerava-a a quinta maior lenda da história da sétima arte.
A estreia de “Torrent”, de Fred Niblo,
hipnotizou a plateia. A epopeia continuou com obras como “Flesh and the Devil”
(1926), de Clarence Brown, “Love”, de Edmund Goulding, “The Divine Woman”, de
Victor Sjostrom, “The Misterious Lady”, de Fred Niblo, “A Woman of Affairs”, de
Clarence Brown, ao lado de John Gilbert, outro dos homens da vida de Greta
Garbo, ou “The Kiss”, de Jacques Feyder (1929), seu último filme “mudo”. A
prova de força entre Garbo e a MGM iria começar. Conseguiu fazer aprovar um
contrato leonino, em que tinha direito de escolher argumentos, actores e
realizadores dos filmes em que aparecia. Os êxitos sucederam-se. “Grande Hotel”
(1932), o primeiro filme "all-star" da história, ao juntar tantas
estrelas num mesmo filme, foi uma jogada arriscada da MGM, mas um sucesso
tremendo, acabando por ganhar o Oscar de melhor filme do ano e por tornar ainda
mais carismática Garbo, depois de ter pronunciado uma das réplicas que a
tornariam mítica: "I want to be alone". Todas as obras seguintes
foram novas demonstrações da sua beleza, da sua subtil arte de representar, do
seu fascínio e mistério, da sua sedução algo ambígua, de uma sexualidade
invulgar: “As You Desire Me”, de George Fitzmaurice (1932), “Queen Christina”,
de Rouben Mamoulian, “The Painted Veil”, R. Boleslawvsky, “Ana Karenina”, de
Clarence Brown, “Camille”, de George Cukor, “Conquest”, de Clarence Brown,
“Ninotchka”, de Ernest Lubitsch ou “Two-Faced Woman”, de George Cukor (1941),
esta a sua derradeira aparição nas telas. O trauma da II Guerra Mundial e o
relativo fracasso comercial do seu último filme afastaram-na definitivamente do
cinema. As últimas cinco décadas da sua existência viveu-as isolada, num
apartamento de sete assoalhadas, no East Side, rua 52, nº 450, em Nova Iorque,
evitando todo o contacto com a imprensa. Ao longo de toda a sua vida, concedeu
catorze entrevistas.
Nunca ganharia um Oscar, apesar de
nomeada por três vezes: em 1930, por dois filmes, “Anna Christie” e “Romance”,
em 1937, por “A Dama das Camélias”, em 1939, por “Ninotchka”. Só em 1954,
Hollywood reconheceu o seu talento, quando a Academia lhe atribui um Oscar
especial pela sua contribuição para a arte do cinema. Garbo não compareceu à
cerimónia para receber a estatueta.
Em Abril de 1990, foi internada no New
York Hospital, na rua 66, Nova Iorque, em resultado de uma pneumonia. Iria
falecer às 11h30 da manhã do dia 15 de Abril de 1990, domingo de Páscoa. Cinco
dias depois, foi cremada, e as cinzas transferidas para Estocolmo, onde foram
depositadas no cemitério Skogskyrkogården. A mulher morria, mas a lenda
permanece.
Filmografia
Filmes mudos
1920: Herr och fru Stockholm, de Ragnar
Ring (curta-metragem) (na Suécia)
1920: Konsum Stockholm Mr. and Mrs.
Stockholm, de Ragnar Ring (curta-metragem de publicidade) (na Suécia)
1921: En lyckoriddare / A Happy
Knight, de John W. Brunius (na Suécia)
1922: Luffar-Petter, de E. A. Petschler
(na Suécia)
1922: Kärlekens ögon / A Scarlett
Angel (O Anjo Escarlate) - Greta aparece apenas como figurante (na Suécia)
1924: Gösta Berling's Saga (A Lenda de
Gösta Berling), de Maurice Stiller (na Suécia)
1925: Die Freudlose Gasse (Rua Sem
Sol), de Georg W. Pabst (na Alemanha)
1926: Torrent (A Torrente), de Fred
Niblo e M. Bell (nos EUA)
1926: The Temptress (A Tentadora), de
Fred Niblo e Mauritz
Stiller
1927: Flesh and the Devil (O Demónio e
a Carne), de Clarence Brown
1927: Amor – Ana Karenina (Love), de
Edmund Goulding
1928: The Divine Woman (A Mulher
Divina), de Victor Sjostrom
1928: The Misterious Lady (A Mulher
Misteriosa), de Fred Niblo
1928: A Woman of Affairs (Mulher de
Brio), de Clarence Brown
1929: Wild Orchids (Orquídeas Bravas), de S. Franklin
1929: The Single Standard (O Direito
de Amar), de J. S. Robertson
1929: A Man's Man (Um Homem), de James
Cruze - breve aparição ao lado de John Gilbert e do diretor Fred Niblo,
interpretando-se a si mesma.
1929: The Kiss (O Beijo), de Jacques
Feyder
Filmes sonoros
1930: Anna
Christie (Ana Cristina), de Clarence Brown
1930: Anna
Christie (versão alemã), de Jacques Feyder
1930:
Romance (Romance), de Clarence Brown
1931: Inspiration (Inspiração), de Clarence Brown
1931: Susan Lenox: Her Fall and Rise (A Cortesã), de R. Z. Leonard
1931: Mata
Hari (Mata Hari), de George Fitzmaurice
1932: Grand Hotel (Grande Hotel), de Edmund Goulding
1932: As You Desire Me (Como Tu Me
Desejas), de George Fitzmaurice
1933: Queen Christina (Rainha
Cristina), de Rouben Mamoulian
1934: The Painted Veil (O Véu das
Ilusões), R. Boleslawvsky
1935: Anna Karenina (Ana Karenina), de
Clarence Brown
1936: Camille (Margarida Gauthier), de
George Cukor
1937: Conquest (Maria Walewska), de
Clarence Brown
1939: Ninotchka (Ninotchka), de Ernest
Lubitsch
1941: Two-Faced Woman (A Mulher de
Duas Caras), de George Cukor
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