quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

SESSÃO ESPECIAL DE NATAL: 25 DE DEZEMBRO DE 2013

CINEMA AMERICANO (1930-1960)
SESSÃO ESPECIAL – NATAL 
 NATAL BRANCO (1954)

São muitos os chamados “filmes de Natal”, mas este é, seguramente, um dos mais conhecidos e celebrados. Mas, aparentemente nada faria prever o prolongado sucesso de “White Christmas”, dado que o filme nunca parece ultrapassar o nível de uma xaroposa história melodramática, com uns pozinhos de patriotice barata, umas quantas canções e números musicais e um “happy end” que nunca esteve em causa desde início, dada a previsibilidade das peripécias. Acontece que é tudo assim, tal como fica descrito, mas também não é bem assim. Não se trata de umas canções quaisquer, mas de obras com a assinatura de alguns mestres neste campo, nomeadamente Irving Berlin, de quem se ouve um tema que é dos mais populares de toda a história da música norte-americana, precisamente “White Christmas” que dá o título ao filme, e que desde 1942 se impunha como uma das canções anualmente mais tocadas em todo o mundo. Pode mesmo considerar-se “White Christmas” a canção de Natal por excelência.
A banda sonora é, portanto, magnífica, o que por si só constitui um trunfo. Enorme. Depois, há que acrescentar o elenco. Bing Crosby foi o cantor que contabilizou até hoje mais “royalties” interpretando “White Christmas” (cerca de 50% do total facturado pela canção), identificando-se por completo com este tema, e a seu lado surge um outro actor que nos anos 50 era uma vedeta em pleno, Danny Kaye.
Deve dizer-se, aliás, que Danny Kaye não foi a primeira escolha para este filme, Fred Astaire era o escolhido desde início, mas por impossibilidade não pode aceitar o convite que seria ainda endereçado a Donald O’Connor antes de chegar a vez de Danny Kaye. O’Conner também se viu forçado a recusar o contrato, por razões de saúde (nessa altura problemas com a coluna, não lhe permitam dançar, o que o filme exigia). Quando chega a vez de Danny Kaye este não hesita, mas coloca condições draconianas: exige desde logo 10% sobre os lucros da obra, mas igualmente a necessidade de colocar dois novos argumentistas ao lado de Norman Krasna, precisamente os homens de sua confiança, Norman Panamá e Melvin Frank.

A razão era fácil de perceber. Os filmes onde Danny Kaye aparecia eram imaginados e escritos em função do actor e das suas características fantasistas. “White Christmas” não era um filme com a marca Danny Kaye e era necessário adaptá-lo ao actor, ainda que no final este actor fique sempre secundarizado pela própria história. O facto dele ser um soldado raso ao lado de um Bing Crosby capitão deve ter ajudado. A acompanhar estas duas vedetas masculinas, dois nomes femininos sonantes na época, ainda que por razões diversas: Vera-Ellen era uma das maiores bailarinas daquela época e Rosemary Clooney uma das vozes mais apreciadas na década de 50 (o filme é de 1954). O ramalhete estava composto, com um pouco de tudo, para todos os gostos.
O argumento também fora criteriosamente estudado para ser bem recebido pelo público a que se dirigia. Estamos em meados da década de 50, os Estados Unidos tinham saído da II Guerra Mundial há um década, durante a qual os veteranos do conflito tinham adquirido ressonância épica e é sobre um desses homens que o filme fala. Durante os anos do conflito na Europa, os americanos tinham-se distinguido, sobretudo depois do desembarque na Normandia.
Algures numa dessas “frentes”, o general Thomas F. Waverly (Dean Jagger) comanda um destacamento de que fazem parte o capitão Bob Wallace (Bing Crosby), e o soldado Phil Davis (Danny Kaye). Numa noite de Natal, antes de iniciarem mais uma ofensiva, comemoram a efeméride debaixo de uma chuva de bombas inimigas. Anos depois, e conquistada a paz, Bob Wallace, que é um célebre cançonetista, e Phil Davis, com quem passou a constituir parelha, passeiam a sua fama pelos restaurantes, cabarets e teatros norte-americanos, até que um dia, de novo perto da época do Natal, se encontram ocasionalmente com uma outra dupla em busca de sucesso, as irmãs Haynes, Betty (Rosemary Clooney) e Judy (Vera-Ellen).
Se já existia o glamour da música, passa a aparecer agora o toque mágico do “romance”, a que se virá a acrescentar ainda a exaltação patriótica, quando todos resolvem restaurar a confiança perdida pelo general Thomas F. Waverly, que não se revela tão bom director de hotel (numa estância de turismo de Inverno, onde falta a neve) como o fora no campo de batalha. E assim se chega ao final apoteótico, onde, numa noite de Natal, tudo se conjuga para a felicidade completa: dois casais de cantores e bailarinos que assumem o seu amor, perante o olhar paternal de um general de novo passando revista às suas fieis tropas, enquanto se vão ouvindo os acordes de “White Christmas”, de Irving Berlin, e do céu começa a cair a neve que reporá justiça nos cofres do hotel.
Filme mais natalício não há, sobretudo em meados da década de 50. Com os EUA no rescaldo da II Guerra Mundial e o Plano Marshal na Europa, esta é a imagem de felicidade que convém fazer passar. Com o brilho de Inving Berling e a competência narrativa de um mestre da eficácia, Michael Curtiz.


NATAL BRANCO
Título original: White Christmas

Realização: Michael Curtiz (EUA, 1954); Argumento: Norman Krasna, Norman Panama, Melvin Frank; Música: Gus Levene, Joseph J. Lilley, Bernard Mayers, Van Cleave, Irving Berlin (canção "White Christmas"); Fotografia (cor): Loyal Griggs; Montagem: Frank Bracht; Direcção artística: Roland Anderson, Hal Pereira; Decoração: Sam Comer, Grace Gregory; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore; Assistentes de realização: John R. Coonan; Departamento de arte: Dorothea Holt; Som: John Cope, Hugo Grenzbach; Efeitos especiais: John P. Fulton; Produção: Robert Emmett Dolan; Intérpretes: Bing Crosby (Bob Wallace), Danny Kaye (Phil Davis), Rosemary Clooney (Betty Haynes), Vera-Ellen (Judy Haynes), Dean Jagger (Gen. Thomas F. Waverly), Mary Wickes (Emma Allen), John Brascia (Joe), Anne Whitfield (Susan Waverly), Bea Allen, Joan Bayley, Tony Butala, Glen Cargyle, George Chakiris, Barrie Chase, Les Clark, Lorraine Crawford, Robert Crosson, Marcel De la Brosse, Mike Donovan, Ernie Flatt, Bess Flowers, Gavin Gordon, Johnny Grant, Percy Helton, I. Stanford Jolley, Richard Keene, Vivian Mason, Peggy McKim, James Parnell, Sig Ruman, Richard Shannon, Dick Stabile, Grady Sutton, Herb Vigran, etc. Duração: 120 minutos; Distribuição em Portugal /DVD: Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 6 anos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

SESSÃO 12: 30 DE DEZEMBRO DE 2013


CASAMENTO ESCANDALOSO (1940)
Depois de 417 representações da peça “The Philadelphia Story”, de Philip Barry, em 1939, George Cukor, no ano seguinte passa-a a cinema, mantendo na protagonista a actriz para quem o dramaturgo a havia propositadamente escrito. Na verdade, a personagem de Tracy Lord não poderia ser melhor interpretada do que pela impetuosa Katharine Hepburn, que triunfa na tela como havia triunfado no palco, onde tinha como partenaires Joseph Cotten (Cary Grant no filme) e Van Heflin (James Stewart). Parece que foi mesmo a actriz a convencer o produtor Louis B. Mayer (da MGM) a interessar-se pela adaptação da peça, para a qual Hepburn escolhera Cukor para realizador (que já havia trabalhado com ela anteriormente, por diversas vezes: “A Bill of Divorcement”, “Little Women”, “Sylvia Scarlett” e “Holiday”). Katherine Hepburn pretendia mesmo que fosse Clark Gable a interpretar o papel de C. K. Dexter Haven, o seu primeiro marido, mas um diferendo recente que tinha oposto o actor ao realizador (em “E Tudo o Vento Levou”, de cuja direcção Cukor foi afastado por Selznick, o produtor, depois de queixas, ao que dizem supostamente homofóbicas, de Gable) obviaram a essa colaboração. Gary Grant, convidado aceitou, preferindo este papel ao do jornalista, que haveria de ser proposto a Spencer Tracy, então ocupado noutras tarefas, acabando por ser atribuído a James Stewart. Interessante conhecer este processo, pois este trio de actores parece ter sido feito de encomenda para esta obra e afinal, quantas voltas o mundo deu para a reunião se efectuar. Falando ainda de actores, deve dizer-se que os secundários são igualmente magníficos, agrupando Virginia Weidler, Mary Nash, Roland Young, Elizabeth Imbrie, John Howard e Ruth Hussey.

Com uma base teatral mais ou menos óbvia, o que não é estranho a grande parte da filmografia de George Cukor, que teve uma formação teatral antes de chegar ao cinema, e que nunca a afastou ao longo da sua carreira cinematográfica, mostrando-se sempre sensível a transposições particularmente conseguidas de obras nascidas no palco e depois projectadas na tela, “Casamento Escandaloso” é um filme que alcança uma harmonia perfeita entre a arte de escrever um texto, com um diálogo fabuloso, de ironia e cinismo, a arte de a dirigir no cinema, com a elegância e a efervescência próprias a Cukor, e a arte de a interpretar, com actores saboreando na perfeição a argúcia das situações e das palavras.
Nesse ponto, “Casamento Escandaloso” é uma pequena obra-prima da chamada “screwball comedy”, um sub género que apareceu por esta altura e que gerou um conjunto magnífico de pérolas de humor, onde as peripécias se multiplicam, gerando-se umas às outras, cada uma delas mais intrincada e deliciosa. 

A história conta pouco (e conta muito, por outro lado, pois transgride alegremente com uma série de convenções, acabando por parecer muito moral). Começa de forma magistral, com Tracy Samantha Lord, uma jovem de nariz arrebitado e muito senhora de si, a despedir porta fora, o seu marido. Culmina com o rachar de um taco de golfe, atirado com desprezo contra Dexter Haven, respondendo este com um empurrão que prostra a senhora no chão. Depois de algumas subtis elipses temporais, vamos encontrar a sofisticada Tracy Lord a preparar no interior da sua mansão um segundo casamento, com um milionário que subiu a pulso e quer continuar a subir no mundo da política. Essa boda é cobiçada pela revista de escândalos da cidade, a “Spy”, que quer cobrir o acontecimento social. Mas como entrar numa residência onde não se é bem-vindo? É aí que entra uma pequena chantagem e Dexter Haven inventa uma intricada história de amigos de amigos que leva Mike, escritor e jornalista, e Liz, fotógrafa e sua namorada, a conseguirem penetrar no santuário. Mas, se de um lado tudo aparenta ser o que não é, do outro nada é o que parece ser. Tracy Lord, pensando que o pai não vem ao casamento, troca o tio pelo pai, e depois este por aquele, e toda a família se faz passar por comportamentos que nunca teve, em deliciosas encenações de máscaras e mascarilhas. Estamos no domínio do faz de conta, da crítica à high society (título de uma nova versão da obra, que iria aparecer em 1956, numa realização de Charles Walters, com Bing Crosby, Grace Kelly e Frank Sinatra) e da crítica a certa hipocrisia da classe privilegiada (como se diz no filme: “A visão mais bela do mundo é a classe privilegiada a gozar dos privilégios”). Aliás, contrariando o que o diálogo do filme proclama (“Com os ricos e poderosos sê sempre paciente”, provérbio oriental), “Casamento Escandaloso” tenta parodiar costumes e benesses, arrivismos e oportunismos. E procura, fundamentalmente, que as pessoas não sejam olhadas nem como deusas nem como rainhas, mas apenas como pessoas, que não são estátuas de bronze, mas de carne e osso, com virtudes e defeitos. Essa a pretensão de Tracy Lord que, como tudo o prenuncia desde início, acabará por levar a sua avante. Ela não quer ser venerada, quer ser amada. Nós amamos esta comédia. Cukor afirmava-se já um dos grandes directores de actrizes de toda a história do cinema mundial. A sua sensibilidade e delicadeza de tom, a leveza do estilo, a graça e a inventiva das situações e a maneira como o diálogo é trabalhado, de uma forma profundamente cinematográfica, apesar da sua base teatral, mostram como se pode afirmar com justiça que ele é um mestre indiscutível na difícil arte de habilmente manipular o humor e o amor. 

CASAMENTO ESCANDALOSO
Título original: The Philadelphia Story
Realização: George Cukor (EUA, 1940); Argumento: Donald Ogden Stewart, Waldo Salt, segundo peça teatral de Philip Barry; Produção: Joseph L. Mankiewicz; Música: Franz Waxman; Fotografia (p/b): Joseph Ruttenberg; Montagem: Frank Sullivan; Direcção artística: Cedric Gibbons; Decoração: Edwin B. Willis; Guarda-roupa: Adrian; Maquilhagem: Sydney Guilaroff, Jack Dawn; Direcção de produção: Keith Weeks; Assistentes de realização: Edward Woehler; Departamento de arte: Wade B. Rubottom; Som: Douglas Shearer, Tom Gunn; Companhias de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Loew's Incorporated; Intérpretes: Cary Grant (C.K. Dexter Haven), Katharine Hepburn (Tracy Lord), James Stewart (Macaulay Connor), Ruth Hussey (Elizabeth Imbrie), John Howard (George Kittredge), Roland Young (Tio Willie), John Halliday (Seth Lord), Mary Nash (Margaret Lord), Virginia Weidler, Henry Daniell, Lionel Pape, Rex Evans, Veda Buckland, David Clyde, Robert De Bruce, Lee Phelps, etc. Duração: 112 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Bros. (DVD); Classificação etária: M/12 anos; Estreia em Portugal: 24 de Março de 1942.

GEORGE CUKOR 
(1899 – 1983)
George Dewey Cukor nasceu a 7 de Julho de 1899, em Nova Iorque, EUA, e faleceu em Los Angeles, Califórnia, EUA, a 24 de Janeiro de 1983, com 83 anos de idade. Filho de Helen e Victor Cukor, um advogado oriundo da Hungria, estudou na DeWitt Clinton High School, passou pelo serviço militar, intervindo no final da II Guerra Mundial, voltou ao teatro como assistente de encenação, tornando-se director de cena de “The Knickerbocker Players”, uma companhia teatral que actuava entre Syracuse e Rochester, Nova Iorque. Em 1925 fundou, com Walter Folmer e John Zwickia, a “C.F. and Z. Production Company”, onde iniciou a carreira de encenador. Já na Broadway, encenou, em 1926, uma adaptação do romance de Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”, o que lhe conferiu prestígio e granjeou um grande sucesso. Encenou seis produções na Broadway. Em 1929, vamos encontrá-lo em Hollywood. Foi ele que começou a realização de “One Hour With You” (1932), uma opereta com Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald, anteriormente atribuída a Ernst Lubitsch, que preferiu a tarefa de produtor. Mas, posteriormente, este começou a interferir no trabalho de Cukor, e este acabou por desligar-se do projecto, deixar a Paramount e ingressar na RKO, onde dominava David O. Selznick. Ganhou rapidamente reputação de excelente cineasta e, sobretudo, de um magnífico director de actrizes. Teve por vezes uma carreira acidentada, tendo sisdo o primeiro realizador de “Gone with the Wind”, afastado para dar lugar a Sam Wood que, por sua vez, seria trocado por Victor Fleming que concluiria a obra.  Mas foi Cukor quem definiu o carácter de Scarlett O’Hara. O mesmo aconteceu com “The Wizard of Oz”, que seria igualmente Victor Fleming a terminar.
Ficou para sempre ligado a “My Fair Lady”, um dos maiores sucessos da história do cinema, mas devem-se-lhe muitas outras obras notáveis, como “Casamento Escandaloso”, “A Costela de Adão”, “A Mulher Absoluta”, “Nasce uma Estrela” (com Judy Garland), “Justine”, “Viagens com Minha Tia” e “Célebres e Ricas”, o seu último trabalho. Foi nomeado por cinco vezes para o Oscar de “Melhor Realizador”, em “Little Women” (1933), “The Philadelphia Story” (1940), “A Double Life” (1947), “Born Yesterday” (1950) e “My Fair Lady” (1964), vencendo neste último ano. Com “My Fair Lady”, ganhou ainda o “Golden Globe” para Melhor Realização, e o Bafta, para Melhor Filme. Em 1982, o Festival de Veneza atribuiu-lhe um “Leão de Ouro” em homenagem à sua carreira.

Filmografia:
1930: Grumpy (co-realizado com Cyril Gardner)
1930: The Virtuous Sin (co-realizado com J. Gasnier)
1930: The Royal Family of Broadway (A Família Real de Broadway) (co-realizado com Cyril Gardner)
1931: Tarnished Lady (Casamento Singular)
1931: Girls About Town                     
1932: One Hour With You (Uma Hora Contigo), de Ernst Lubitsch (não creditado)
1932: Une heure près de toi (co-realizado com Ernst Lubitsch)
1932: What Price Hollywood?            
1932: A Bill of Divorcement (Vítimas do Divórcio)     
1932: Rockabye (substitui George Fitzmaurice)
1932: The Animal Kingdom (não creditado)
1933: Our Betters      
1933: Dinner At Eight (Jantar às Oito)           
1933: Little Women (As Quatro Irmãs)           
1934: Manhattan Melodrama (O Inimigo Público Número Um) (não creditado)
1935: David Copperfield (Vida e Aventuras de David Copperfield)
1935: No More Ladies (Basta de Mulheres) (não creditado, substitui Edward H. Griffith, doente)
1935: Sylvia Scarlett (Sylvia Scarlett)
1936: Romeo and Juliet (Romeu e Julieta)    
1936: Camille (Margarida Gauthier)              
1938: I Met My Love Again (Não Há Amor Como o Primeiro) (não creditado, apoia Joshua Logan nalgumas cenas)
1938: The Adventures of Tom Sawyer (As Aventuras de Tom Sawyer) (não creditado)
1938: Holiday (A Irmã da Minha Noiva)
1939: Zaza (Zázá)       
1939: The Women (Mulheres)
1939: Gone With the Wind (E Tudo o Vento Levou) (não creditado, substituído por Sam Wood e depois Victor Fleming)
1940: Susan and God (As Teorias de Susana)
1940: The Philadelphia Story (Casamento Escandaloso)
1941: A Woman's Face (A Cicatriz do Mal)     
1941: Two-Faced Woman (A Mulher de Duas Caras)
1942: Her Cardboard Lover   
1942: Keeper of the Flame (A Chama Eterna)           
1943: Resistance and Ohm's Law (documentário)     
1944: Gaslight (Meia Luz)      
1944: Winged Victory (Encontro no Céu)       
1944: I'll Be Seeing You (Com Todo o Meu Coração) (não creditado, substituído por William Dieterle)
1947: Desire Me (A Mulher do Outro) with 4 other directors
1947: A Double Life (Abraço Mortal)  
1949: Edward, My Son (1949 Meu Filho Eduardo)     
1949: Adam's Rib (A Costela de Adão)
1950: A Life of Her Own (Seguirei o Meu Destino)
1950: Born Yesterday (A Mulher Que Nasceu Ontem)                       
1951: The Model and the Marriage Broker (Matrimónios à Venda)   
1952: The Marrying Kind (A Mulher Que Deus Me Deu)
1952: Pat and Mike (A Mulher Absoluta)        
1953: The Actress (A Actriz)  
1954: It Should Happen to You (Uma Rapariga Sem Nome)
1954: A Star Is Born (Assim Nasce Uma Estrela)
1956: Bhowani Junction (Encruzilhada de Destinos)
1956: A Vida Apaixonada de Van Gogh (não creditado)
1957: Les Girls (As Girls)       
1957: Wild Is the Wind (Selvagem é o Vento)
1958: Hot Spell
1960: Heller in Pink Tights (Agarrem Essa Loira)
1960: Song Without End (Sonho de Amor) (acabado por Cukor, depois da morte de Charles Vidor)
1960: Let's Make Love (Vamo-nos Amar)
1962: Something's Got to Give (filme abandonado por morte de Marilyn Monroe)
1962: The Chapman Report (A Vida Íntima de Quatro Mulheres)      
1964: My Fair Lady (Minha Linda Lady)         
1969: Justine
1972: Travels with My Aunt (Viagens com a Minha Tia)         
1976: The Blue Bird (O Pássaro Azul)
1976: Love Among the Ruins (Amor Entre Ruínas) (TV)
1979: The Corn Is Green (TV)
1981: Rich And Famous (Célebres e Ricas)   

KATHARINE HEPBURN 
(1907 - 2003)
Katharine Houghton Hepburn nasceu a 12 de Maio de 1907, em Hartford, Connecticut, EUA, e faleceu aos 96 anos, a 29 de Junho de 2003, em Old Saybrook, Connecticut, EUA. Era de origem inglesa e escocesa, filha de Thomas Hepburn, médico, e de Katharine Houghton, sufragista. De espírito independente e de vontade indómita, rapidamente foi considerada uma líder do feminismo. Casou uma única vez com Ludlow Ogden Smith, um rico empresário da Nova Inglaterra, mas foi um casamento de curta duração (1928 - 1934). Muito maior e mais intensa foi a sua relação, nos filmes (nove filmes em comum) e na vida real, com Spencer Tracy, que se prolongou por 25 anos. Iniciou a carreira de actriz no teatro, no final da década de 20, e, em 1931, teve o seu primeiro sucesso em "The Warrior's Husband", sendo convidada a partir para Hollywood. O seu triunfo no cinema foi fulgurante, mas nunca abandonou o teatro e, mais tarde, seria igualmente seduzida pela televisão.
No cinema as suas interpretações multiplicam-se por figuras inesquecíveis de mulheres arrojadas e de fibra temperamental, como em “Sylvia Scarlett”, “Alice Adams”, “Bringing Up Baby”, “The Philadelphia Story”, “Woman of the Year”, “Adam's Rib”, “The African Queen”, “Pat and Mike”, “Summertime”, “The Rainmaker”, “Suddenly, Last Summer”, “Long Day's Journey into Night”, “Guess Who's Coming to Dinner”, “The Lion in Winter”, “A Delicate Balance”, “Rooster Cogburn” ou “On Golden Pond”, sendo nomeada para o Oscar de Melhor Actriz, sempre como protagonista, por doze vezes, tendo ganho quarto estatuetas pelos seus desempenhos em “Morning Glory” (1934), “Guess Who's Coming to Dinner” (1968), “The Lion in the Winter” (1969) e “On Golden Pond” (1982).
Em televisão, ganhou um Emmy em 1975 por seu papel em “Love Among the Ruins”, e foi nomeada para outros quatro e também para dois Tonys. Em 1979, o “Screen Actors Guild” atribuiu-lhe o “Life Achievement Award”, e em 1962 tinha sido considerada a melhor actriz no Festival de Cannes, pelo seu trabalho em “Long Day's Journey into Night”. Conquistou três BAFTA: “The Lion in the Winter”, “Guess Who's Coming to Dinner” e “On Golden Pond”. Já em 1934, arrebatou o prémio de Melhor Actriz, em “Little Women”, no Festival de Veneza. Uma carreira recheada de honrarias para aquela que muitos consideram a maior actriz de sempre: em 1999, o “American Film Institute” considerou-a, através de uma sondagem, a maior actriz de todos os tempos, encabeçando uma lista de 25 notáveis.

Filmografia
1932: A Bill of Divorcement (Vítimas do Divórcio), de George Cukor
1933: Little Women (As Quatro Irmãs), de George Cukor
1933: Morning Glory (Glória de um Dia), de Lowell Sherman
1933: Christopher Strong (O Que Faz o Amor), de Dorothy Arzner
1934: The Little Minister, de Richard Wallace
1934: Spitfire, de John Cromwell
1935: Break of Hearts (Corações Desfeitos), de Philip Moeller
1935: Sylvia Scarlett (Sylvia Scarlett), de George Cukor
1935: Alice Adams, de George Stevens
1936: A Woman Rebels (Revoltada), de Mark Sandrich
1936: Mary of Scotland (Maria Stuart, Raínha da Escócia), de John Ford
1937: Stage Door (A Porta das Estrelas), de Gregory La Cava
1937: Quality Street (Bairro Elegante), de George Stevens
1938: Holiday (A Irmã da Minha Noiva), de George Cukor
1938: Bringing Up Baby (Duas Feras), de Howard Hakws
1940: The Philadelphia Story (Casamento Escandaloso), de George Cukor
1942: Keeper of the Flame (A Chama Eterna), de George Cukor
1942: Woman of the Year (A Primeira Dama ou A Mulher do Ano), de George Stevens
1943: Stage Door Canteen (Chuva de Estrelas), de Frank Borzage
1944: Dragon Seed (O Filho do Dragão, de Harold S. Bucquet e Jack Conway
1945: Without Love (Sem Amor), de Harold S. Bucquet
1946: Undercurrent (Estranha Revelação), de Vincent Minnnelli
1947: Song of Love (Sonata de Amor), de Clarence Brown
1947: Sea of Grass (Terra de Ambições), de Elia Kazan
1948: State of the Union (Um Filho do Povo), de Frank Capra
1949: Adam's Rib (A Costela de Adão), de George Cukor
1951: The African Queen (A Raínha Africana), de John Huston
1952: Pat and Mike (A Mulher Absoluta), de George Cukor
1955: Summertime (Loucura em Veneza), de David Lean
1956: The Iron Petticoat (Um Americano em Moscovo), de Ralph Thomas
1956: The Rainmaker (O Homem Que Fazia Chover), de Joseph Anthony
1957: Desk Set (A Mulher Que Sabe Tudo), de Walter Lang
1959: Suddenly, Last Summer (Bruscamente no Verão Passado), de Joseph L. Mankiewicz
1962: Long Day's Journey into Night (Longa Jornada para a Noite), de Sidney Lumet
1967: Guess Who's Coming to Dinner (Adivinhe Quem Vem Jantar), de Stanley Kramer
1968: The Lion in Winter (O Leão no Inverno), de Anthony Harvey
1969: The Madwoman of Chaillot, de Brian Forbes
1971: The Trojan Women, de Michael Cacoyannis
1973: A Delicate Balance (Equilíbrio Instável), de Tony Richardson
1973: The Glass Menagerie, de Anthony Harvey (TV)
1975: Rooster Cogburn (O Sheriff), de Stuart Millar
1975: Love Among the Ruins (Amor entre Ruínas), de George Cukor (TV)
1978: Olly Olly Oxen Free, de Richard A. Colla
1979: The Corn Is Green, de George Cukor (TV)
1981: On Golden Pond (A Casa do Lago), de Mark Rydell
1984: The Ultimate Solution of Grace Quigley (Morte por Encomenda), de Anthony Harvey
1986: Mrs. Delafield Wants to Marry, de George Schaefer (TV)
1988: Laura Lansing Slept Here, de George Schaefer (TV)
1992: The Man Upstairs, de George Schaefer (TV)
1993: Katharine Hepburn: All About Me, documentário realizado pela própria
1994: One Christmas, de Tony Bill (TV)
1994: Love Affair (O Amor da Minha Vida), de Glenn Gordon Caron

1994: This Can't Be Love (Será Isto o Amor?), de Anthony Harvey (TV)

SESSÃO 11: 16 DE DEZEMBRO DE 2013


NINOTCHKA (1939)
Em 1930, quando estreou o seu primeiro filme americano sonoro, a publicidade anunciava que este era “o primeiro filme falado de Greta Garbo”. Algo como “Garbo fala!”. Em 1939, “Ninotchka”, a primeira comédia de Garbo, a publicidade proclamava: “Garbo ri!”. Na verdade, era assim, o que tinha aliás provocado algum embaraço durante as filmagens. Greta Garbo não se sentia muito à vontade com essa sua “estreia”. Chegou a pedir a Lubitsch para cortar a cena, ao que este terá respondido: “Por ti faço tudo, corto cenas, mudo diálogo, altero o que quiseres, mas não me peças isso!” E Garbo riu e riu bem, umas estridentes e “sonoras” gargalhadas, em resposta não às anedotas com que o sedutor Conde Léon d'Algout procurava alegrar a sorumbática camarada Nina Ivanovna Yakushova, conhecido por Ninotchka, mas por uma aparatosa queda de uma cadeira num restaurante de operários.
Datado de 1939, como já dissemos, “Ninotchka” coloca-se no centro nevrálgico das ideologias em confronto na II Guerra Mundial, que explodiria nesse mesmo ano. De um lado, as democracias ocidentais (de que EUA e França, Paris, onde decorre grande parte da obra, são símbolos); do outro lado, dois totalitarismos, a URSS, de Estaline, e a Alemanha, de Hitler. O filme dá conta desse cruzar de políticas, sem se referir directamente ao conflito armado. É a disputa política, as ideias antagónicas e as suas consequências práticas que estão em confronto.
O filme inicia-se pela chegada a Paris de uma representação da União Soviética, três simpáticos camaradas aparentemente mal-humorados, que vêm vender as jóias confiscadas à Grã-duquesa Swana, entretanto também ela refugiada em Paris, onde vive uma frívola e ostensiva existência. Mas alguns percalços obrigam os “camaradas” a ficarem mais tempo em Paris e a saborearem os prazeres da “decrépita” e “decadente” sociedade capitalista. Começam a habituar-se à suite real de um hotel de 5 estrelas e às iguarias do Ocidente. O tempo vai decorrendo, os velhos chapéus dos “tovarichs” são trocados pelas cartolas “decadentistas”, e na suite real sucedem-se as meninas dos cigarros, como num film dos brothers Marx. Jogando com a proverbial elipse lubitscheana, existe até uma cena absolutamente notável, onde só se vê a porta da suite real mas, pelo ritmo das entradas e saídas e pelos significativos sons que se vão ouvindo em off, se vai percebendo muito bem o que lá por dentro se vai passando.

Mas estes “dias maravilhosos numa Paris”, em que “serin” (que em inglês tanto pode ser sereia como sirene), era apenas sereia, uma bela mulher, e “não a sirene dos bombeiros dos ataques aéreos”, como se explica no filme, logo a abrir, serão interrompidos pela presença de Ninotchka, curiosamente uma linda mulher que vem nas austeras e masculinas vestes de camarada controlador verificar as causas do atraso dos seus compatriotas relapsos. Mas Ninotchka cruza-se com o tentador Conde d'Algout e o caldo entorna-se, ou não fosse esta comédia escrita por Billy Wilder (de colaboração com Charles Brackett, e Walter Reisch, segundo uma história de Melchior Lengyel) e realizada por Ernest Lubitsch.
É conveniente falar aqui da influência dos realizadores germânicos na Hollywood desta época. Murnau, Stroheim, Lang, Sternberg, Lubitsch, Preminger, Billy Wilder e alguns mais exilaram-se da Europa ameaçada pelos nazis e procuraram refúgio nos EUA. A mistura foi explosiva durante alguns tempos para alguns e permanente para outros. A ironia e o humor (em muitos casos de origem judaica, o tão citado humor “yiddish”), o cinismo, a malícia e uma certa elegância de estilo e de tom tornaram-se notados sobretudo na comédia. Lubitsch e Wilder são expoentes máximos, e este último sempre se declarou discípulo do primeiro, com quem, afirma, muito aprendeu, precisamente na sua colaboração em “Ninotchka”. Aliás, é de referir que o próprio Billy Wilder retoma o tema, anos depois (1961), com uma comédia muito semelhante, “One, Two, Three”, onde a influência de “Ninotchka” é evidente. Ou um prolongamento da sua contribuição para este título.
A obra tem um tom absolutamente envolvente e esfusiante, como o champanhe que nela é generosamente consumido, e liberta a mulher do seu estojo de diligente e militante “camarada”. Mas o filme, se critica o comunismo da URSS, com purgas e julgamentos bárbaros, não se confina a essa realidade e vai alfinetando a frívola (mas tão apetecível) sociedade ocidental e, obviamente, os nazis. Há, inclusive, logo no início da projecção, um episódio excelente. Quando esperam, na estação de comboios, pela chegada do “camarada” (que esperam seja um austero comunista), os três soviéticos descobrem alguém que parece ter os traços inconfundíveis da personalidade esperada. E, quando se vão para dirigir a ele, ouvem-no proclamar bem alto, “Heil Hitler!”, o que demonstra bem que, por vezes, os extremos se tocam ou não são tão extremos assim. 

Também os exilados não são poupados. A Grã-duquesa quer reaver as jóias com uma justificação curiosa: “Não precisamos de nos preocupar com o futuro, se pudermos vender o passado”.
A sátira mistura-se habilmente com a comédia brilhante, Greta Garbo mantém-se magnifica, apesar de já não ostentar a beleza fulgurante do início dos anos 30 (mas conta apenas 34 anos!), e o restante elenco, dominado por Melvyn Douglas, e com uma saborosa aparição de Bela Lugosi (na figura de um inflexível comissário Razinin, o que não deixa de ser uma escolha simbólica divertida), é excelente. Sig Ruman (Iranoff), Felix Bressart (Buljanoff) e Alexander Granach (Kopalski) formam um trio que relembra os Marx (todos eles, afinal, muito pouco marxistas-leninistas) e Lubitsch ilumina com a sua arte de contar esta belíssima comédia modelar de um período de ouro deste género em Hollywood. Infelizmente, este espírito de uma ironia subtil, iria perder-se em grande parte da produção ianque futura. “Ninotchka” faz figura de jóia da coroa que sabe bem revisitar de tempos a tempos.

NINOTCHKA
Título original: Ninotchka
Realização: Ernst Lubitsch (EUA, 1939); Argumento: Charles Brackett, Billy Wilder, Walter Reisch, segundo história de Melchior Lengyel; Produção: Sidney Franklin, Ernst Lubitsch; Música: Werner R. Heymann; Fotografia (p/b): William H. Daniels; Montagem: Gene Ruggiero; Direcção artística: Cedric Gibbons; Decoração: Edwin B. Willis; Guarda-roupa: Adrian; Maquilhagem: Jack Dawn, Sydney Guilaroff, Beth Langston; Assistentes de realização: Horace Hough, John Waters; Departamento de arte: Randall Duell, George Elder; Som: Douglas Shearer, Conrad Kahn; Companhias de produção: Loew's; Intérpretes: Greta Garbo (Ninotchka), Melvyn Douglas (Leon), Ina Claire (Swana), Bela Lugosi (Razinin), Sig Ruman (Iranoff), Felix Bressart (Buljanoff), Alexander Granach (Kopalski), Gregory Gaye (Rakonin), Rolfe Sedan, Edwin Maxwell, Richard Carle, Dorothy Adams, etc. Duração: 110 minutos; Distribuição em Portugal: Sif (cinema); Distribuição em Portugal: Warner Bros. (DVD); Classificação etária: M/12 anos; Estreia em Portugal: 5 de Novembro de 1940.

ERNST LUBITSCH 
(1892 – 1947)
Ernst Lubitsch nasceu em 28 de Janeiro de 1892, em Berlin, Alemanha, e faleceu a 30 de Novembro de 1947, em Hollywood, Califórnia, EUA, de ataque de coração. Filho de Simcha (Simon) Lubitsch, um alfaiate judeu, aos 16 anos deixa o “Sophien Gymnasium”, onde se iniciou no tetaro escolar, para se dedicar por inteiro ao teatro. Em 1911, ingressa no “Deutsches Theater” do célebre encenador Max Reinhardt, onde sobe rapidamente de categoria, passando igualmente a interpretar filmes no estúdio da “Bioscope”, de Berlim. Em 1914, não só interpreta como escreve e realiza os seus próprios filmes. Em 1918, ganha grande prestígio com “Os Olhos da Múmia” e “Carmen”, ambos com Pola Negri, uma das suas actrizes fetiche. No ano seguinte, dirige sete filmes, entre comédias e dramas históricos, entre os quais “Madame DuBarry” e “A Princesa das Ostras”, onde se começa a falar do seu estilo muito próprio, mais tarde chamado "Lubitsch Touch", mistura de ironia e cinismo, sofisticação e inspirada ligeireza de tom a tratar de temas sérios e graves.
Foi à América promover “A Mulher do Faraó” (1922) e, pouco depois, era contratado para Hollywood, onde dirige Mary Pickford em “Rosita, Cantora das Ruas” (1923). Segue-se um conjunto de obras que o transformam num dos mais respeitados cineastas de Hollywood. Em 1939, dirige Greta Garbo e Melvyn Douglas em “Ninotchka”, para a MGM, uma das suas obras mais conhecidas, uma sátira ao comunismo, e, em 1942, “Ser ou Não Ser”, uma comédia demolidora sobre o nazismo.
Naturalizou-se americano em 1936. Foi nomeado três vezes para o Oscar de Melhor Realizador - “O Patriota” (1928), “Parada do Amor” (1929) e “O Céu Pode Esperar” (1943) - e foi-lhe atribuído, em 1947, um Oscar honorário pela sua contribuição para a arte do cinema. Morreu em consequência de um ataque de coração e, no funeral, Billy Wilder, que o considerava o seu realizador preferido, disse: "No more Lubitsch”, ao que William Wyler acrescentou, "Worse than that - no more Lubitsch films." Foi casado com Vivian Gaye (1935 - 1944) e Helene Kraus (1922 - 1930).
Descobriu Jeanette MacDonald que, com Maurice Chevalier, fizeram uma dupla de respeito nas décadas de 30 e 40. Foi votado entre os melhores realizadores de todos os tempos pela revista “Entertainment Weekly”, ficando em 16º lugar.

Filmografia:
Filmes mudos
1914: Fräulein Seifenschaum (curta-metragem)
1915: Aufs Eis geführt (curta-metragem)
1915: Ein verliebter Racker (curta-metragem)
1915: Blindekuh (curta-metragem)
1915: Zucker und Zimt (curta-metragem)
1915: Der erste Patient (curta-metragem)
1915: Der letzte Anzug (curta-metragem)
1915: Der Kraftmeier (curta-metragem)
1916: Als ich tot war (curta-metragem)
1916: Die neue Nase (curta-metragem)
1916: Schuhpalast Pinkus (curta-metragem)
1916: Der gemischte Frauenchor (curta-metragem)
1916: Das schönste Geschenk (curta-metragem)
1916: Der G.m.b.H. Tenor (curta-metragem)
1916: Leutnant auf Befehl (curta-metragem)
1917: Sein einziger Patient (curta-metragem)
1917: Seine neue Nase (curta-metragem)
1917: Ossis Tagebuch (curta-metragem)
1917: Der Blusenkönig (curta-metragem)
1917: Wenn vier dasselbe tun (curta-metragem)
1917: Das fidele Gefängnis (curta-metragem)
1917: Käsekönig Holländer (curta-metragem)
1918: Prinz Sami (curta-metragem)
1918: Der Rodelkavalier (curta-metragem)
1918: Der Fall Rosentopf (curta-metragem)
1918: Die Augen der Mumie Ma (Os Olhos da Múmia)
1918: Fuhrmann Henschel
1918: Ich möchte kein Mann sein (curta-metragem)
1918: Das Mädel vom Ballett (curta-metragem)
1918: Carmen
1919: Rausch
1919: Die Puppe
1919: Meyer aus Berlin (curta-metragem)
1919: Meine Frau, die Filmschauspielerin
1919: Das Schwabenmädel
1919: Die Austernprinzessin (A Princesa das Ostras)
1919: Madame DuBarry
1919: Käsekönig Holländer (curta-metragem)
1920: Kohlhiesels Töchter (curta-metragem)
1920: Romeo und Julia im Schnee (curta-metragem)
1920: Die Wohnungsnot
1920: Sumurun
1920: Anna Boleyn (Ana Bolena)
1921: Die Bergkatze
1922: Das Weib des Pharao (A Mulher do Faraó)
1923: Die Flamme (curta-metragem)
1923: Rosita (Rosita, Cantora das Ruas           )
1924: The Marriage Circle (Os Perigos do Flirt)        
1924: Three Women (Mulher, Guarda o Teu Coração)          
1924: Forbidden Paradise (Paraíso Proibido)
1925: Kiss Me Again (Divorciemo-nos)           
1925: Lady Windermere's Fan (O Leque de Lady Margarida)
1926: The Honeymoon Express (não creditado)
1926: So This is Paris (A Loucura do Charleston)      
1927: The Student Prince in Old Heidelberg (O Príncipe Estudante)           

Filmes sonoros
1928: The Patriot (O Patriota)
1929: Eternal Love
1929: The Love Parade (Parada do Amor)     
1929: Galas de la Paramount
1930: Paramount on Parade (Paramount em Gala)    
1930: The Vagabond King O Rei Vagabundo (não creditado)
1930: Monte Carlo (Monte Carlo)       
1931: The Smiling Lieutenant (O Tenente Sedutor)  
1932: Broken Lullaby (O Homem que Eu Matei)
1932: One Hour with You (Uma Hora Contigo)
1932: Une heure près de toi
1932: Trouble in Paradise (Ladrão de Alcova)          
1932: If I Had a Million (Se Eu Tivesse Um Milhão) (episódio "The Clerk")    
1933: Design for Living (Uma Mulher para Dois)        
1934: The Merry Widow (A Viúva Alegre)
1934: La Veuve Joyeuse (versão francesa)   
1937: Angel (O Anjo)
1938: Bluebeard's Eighth Wife (A Oitava Mulher do Barba Azul)
1939: Ninotchka (Ninotchka)    
1940: The Shop around the Corner (A Loja da Esquina)        
1941: That Uncertain Feeling (No Que Pensam as Mulheres)           
1942: To Be or Not to Be (Ser ou Não Ser)     
1943: Heaven Can Wait (O Céu Pode Esperar)          
1945: A Royal Scandal (Os Amores de Catarina da Rússia) (não creditado)   
1946: Cluny Brown (O Pecado de Cluny Brown)
1948: That Lady in Ermine (A Dama de Arminho)

GRETA GARBO (1905 - 1990)
Greta Lovisa Gustafson, posteriormente conhecida com o nome artístico de Greta Garbo, nasceu a 18 de Setembro de 1905, em Estocolmo (Suécia), e morreu a 15 de Abril de 1990, com 84 anos, em Nova Iorque, EUA. Foi a mais nova dos três filhos de Anna Lovisa Johansson (1872 – 1944) e Karl Alfred Gustafsson (1871 – 1920). A família tratava-a por “Katha”, como ela própria em miúda se chamava a si própria. O pai morre em 1920 e, por imposição da vida, aos catorze anos já trabalhava numa barbearia, como “tvålflicka” (a "rapariga do creme de barba"). A sua estreia no mundo do cinema surge em filmes publicitários para lojas de Estocolmo, como uma loja de chapéus de Paul U. Bergstrom, na Hötorget Plaza, em 1921, ou à padaria da Associação Cooperativa dos Consumidores de Estocolmo, ambos os filmes dirigidos pelo "capitão" Ragnar Ring, ex-oficial da cavalaria. Foi notada. Começou a interessar-se pela representação e cursou a Academia Real de Teatro Dramático (Kungliga Dramatiska Teatern), sendo aí descoberta pelo realizador finlandês Mauritz Stiller, que viria a desempenhar um importante papel na carreira da actriz. Greta e Stiller realizam, no entanto, um único filme juntos: “A Lenda de Gösta Berling”, 1924. Mas Stiller levou Greta para a Alemanha, onde ela trabalhou com um dos mestres do expressionismo alemão, Georg W. Pabst, em “A Rua sem Sol”, 1925.
Louis B. Mayer, que dirigia a MGM, deslumbrou-se com o trabalho da jovem actriz e contratou-a, bem como a Mauritz Stiller, para viajarem até Hollywood. Foi por essa atura, estamos entre 1924 e 1925, que Greta Gustafson se transforma em Greta Garbo. Por influência de Stiller, ao que consta. Em 1925, Garbo e Stiller encontram-se em Hollywood, contratados pela MGM. Uma dupla a fazer lembrar Josef von Sternberg e Marlene Dietrich: um cineasta pigmaleão e uma actriz em formação. O triunfo não foi imediato, muito por causa do forte sotaque sueco, questão que foi ultrapassada com o tempo, tornando-se até uma das características mais reputadas de Garbo, alimentando o seu exotismo e mistério. Também o seu físico de “gordinha sueca” não ajudava, até que o produtir Irving Thalberg lhe prescreveu uma dieta rígida e algumas correcções, nomeadamente num dente, nos cabelos e na pintura dos olhos. Também Lillian Gish lhe deu preciosos conselhos, o que fez da adolescente Greta Gustafson a mítica beleza da mulher Greta Garbo. Em Nova Iorque, o fotógrafo Arnold Genthe fez o resto, com uma memorável sessão fotográfica, publicada alguns meses depois, na “Vanity Fair”, de Novembro de 1925. As fotos de Genthe entusiasmaram o estúdio que, de um dia para o outro, descobria uma estrela mais para o seu firmamento. Não uma estrela apenas. Uma das mais gloriosas estrelas de toda a história do cinema. Muitos anos depois, o Instituto Americano de Cinema considerava-a a quinta maior lenda da história da sétima arte.
A estreia de “Torrent”, de Fred Niblo, hipnotizou a plateia. A epopeia continuou com obras como “Flesh and the Devil” (1926), de Clarence Brown, “Love”, de Edmund Goulding, “The Divine Woman”, de Victor Sjostrom, “The Misterious Lady”, de Fred Niblo, “A Woman of Affairs”, de Clarence Brown, ao lado de John Gilbert, outro dos homens da vida de Greta Garbo, ou “The Kiss”, de Jacques Feyder (1929), seu último filme “mudo”. A prova de força entre Garbo e a MGM iria começar. Conseguiu fazer aprovar um contrato leonino, em que tinha direito de escolher argumentos, actores e realizadores dos filmes em que aparecia. Os êxitos sucederam-se. “Grande Hotel” (1932), o primeiro filme "all-star" da história, ao juntar tantas estrelas num mesmo filme, foi uma jogada arriscada da MGM, mas um sucesso tremendo, acabando por ganhar o Oscar de melhor filme do ano e por tornar ainda mais carismática Garbo, depois de ter pronunciado uma das réplicas que a tornariam mítica: "I want to be alone". Todas as obras seguintes foram novas demonstrações da sua beleza, da sua subtil arte de representar, do seu fascínio e mistério, da sua sedução algo ambígua, de uma sexualidade invulgar: “As You Desire Me”, de George Fitzmaurice (1932), “Queen Christina”, de Rouben Mamoulian, “The Painted Veil”, R. Boleslawvsky, “Ana Karenina”, de Clarence Brown, “Camille”, de George Cukor, “Conquest”, de Clarence Brown, “Ninotchka”, de Ernest Lubitsch ou “Two-Faced Woman”, de George Cukor (1941), esta a sua derradeira aparição nas telas. O trauma da II Guerra Mundial e o relativo fracasso comercial do seu último filme afastaram-na definitivamente do cinema. As últimas cinco décadas da sua existência viveu-as isolada, num apartamento de sete assoalhadas, no East Side, rua 52, nº 450, em Nova Iorque, evitando todo o contacto com a imprensa. Ao longo de toda a sua vida, concedeu catorze entrevistas.
Nunca ganharia um Oscar, apesar de nomeada por três vezes: em 1930, por dois filmes, “Anna Christie” e “Romance”, em 1937, por “A Dama das Camélias”, em 1939, por “Ninotchka”. Só em 1954, Hollywood reconheceu o seu talento, quando a Academia lhe atribui um Oscar especial pela sua contribuição para a arte do cinema. Garbo não compareceu à cerimónia para receber a estatueta.
Em Abril de 1990, foi internada no New York Hospital, na rua 66, Nova Iorque, em resultado de uma pneumonia. Iria falecer às 11h30 da manhã do dia 15 de Abril de 1990, domingo de Páscoa. Cinco dias depois, foi cremada, e as cinzas transferidas para Estocolmo, onde foram depositadas no cemitério Skogskyrkogården. A mulher morria, mas a lenda permanece.

Filmografia
Filmes mudos
1920: Herr och fru Stockholm, de Ragnar Ring (curta-metragem) (na Suécia)
1920: Konsum Stockholm Mr. and Mrs. Stockholm, de Ragnar Ring (curta-metragem de publicidade) (na Suécia)
1921: En lyckoriddare / A Happy Knight, de John W. Brunius (na Suécia)
1922: Luffar-Petter, de E. A. Petschler (na Suécia)
1922: Kärlekens ögon / A Scarlett Angel (O Anjo Escarlate) - Greta aparece apenas como figurante (na Suécia)
1924: Gösta Berling's Saga (A Lenda de Gösta Berling), de Maurice Stiller (na Suécia)
1925: Die Freudlose Gasse (Rua Sem Sol), de Georg W. Pabst (na Alemanha)
1926: Torrent (A Torrente), de Fred Niblo e M. Bell (nos EUA)
1926: The Temptress (A Tentadora), de Fred Niblo e Mauritz Stiller           
1927: Flesh and the Devil (O Demónio e a Carne), de Clarence Brown
1927: Amor – Ana Karenina (Love), de Edmund Goulding
1928: The Divine Woman (A Mulher Divina), de Victor Sjostrom
1928: The Misterious Lady (A Mulher Misteriosa), de Fred Niblo
1928: A Woman of Affairs (Mulher de Brio), de Clarence Brown
1929: Wild Orchids (Orquídeas Bravas), de S. Franklin
1929: The Single Standard (O Direito de Amar), de J. S. Robertson
1929: A Man's Man (Um Homem), de James Cruze - breve aparição ao lado de John Gilbert e do diretor Fred Niblo, interpretando-se a si mesma.
1929: The Kiss (O Beijo), de Jacques Feyder

Filmes sonoros
1930: Anna Christie (Ana Cristina), de Clarence Brown
1930: Anna Christie (versão alemã), de Jacques Feyder
1930: Romance (Romance), de Clarence Brown
1931: Inspiration (Inspiração), de Clarence Brown
1931: Susan Lenox: Her Fall and Rise (A Cortesã), de R. Z. Leonard
1931: Mata Hari (Mata Hari), de George Fitzmaurice
1932: Grand Hotel (Grande Hotel), de Edmund Goulding
1932: As You Desire Me (Como Tu Me Desejas), de George Fitzmaurice
1933: Queen Christina (Rainha Cristina), de Rouben Mamoulian
1934: The Painted Veil (O Véu das Ilusões), R. Boleslawvsky
1935: Anna Karenina (Ana Karenina), de Clarence Brown
1936: Camille (Margarida Gauthier), de George Cukor
1937: Conquest (Maria Walewska), de Clarence Brown
1939: Ninotchka (Ninotchka), de Ernest Lubitsch

1941: Two-Faced Woman (A Mulher de Duas Caras), de George Cukor