TEMPOS MODERNOS (1935)
“Encontrar Chaplin a dirigir “Tempos Modernos” é retroceder dez anos na
história do cinema. Este estúdio contrasta com os estúdios sonorizados de
Hollywood, onde reina o silêncio. Na avenida La Brea encontra-se o último
estúdio do mundo onde se faz barulho durante a filmagem. Chaplin produz, num
incrível tumulto, o último dos filmes mudos, empregando métodos que há muito foram
abandonados em toda a parte. (da imprensa americana da época)
Efectivamente! Desde 1929, depois de Al Jonson e do “Cantor de Jazz”,
todo o mundo persegue a palavra. O cinema, de um dia para o outro, deixa o
silêncio da pantomima e caminha para o sonoro, para a palavra. Chaplin, porém,
teimoso e genial, receando sobretudo (como veremos) pela universidade da sua
linguagem, mantém-se afastado da palavra. “Tempos Modernos”, realizado em 1935
e estreado em 1936, é, na Meca do cinema, uma ousadia. Uma ousadia que começa
logo pelo facto de recusar a “modernidade”. Essa “modernidade” que, viria
depois a saber-se, não era outra “moda”, mas efectivamente o futuro.
Paradoxalmente, porém, o futuro viria a consagrar “Tempos Modernos” como um dos
mais importantes filmes da história do cinema. Quantos filmes falados desta época
são assim recordados?
Sobre o caso, recorda Leprohon: “Era o único que continuava a servir-se
de uma técnica que nenhum outro ousava defender contra o gosto do público.
Continuava a ir contra a corrente, numa altura em que os rápidos progressos
técnicos do sonoro provavam já que o futuro lhe pertencia. Belo exemplo de
coragem quando se arrisca não só a fortuna, o que é pouco, mas a maior glória
do mundo. Entre Chaplin e a palavra, a luta ia durar quinze anos. Situado a
meio caminho, “Tempos Modernos” confirma a sua vitória. Sentimo-la durante todo
o filme na sua admirável construção, no seu ritmo, na sua alegria. Nem uma
indecisão, mas uma espécie de jogo que se recusa a tomar partido. Tratava-se de
saber se Charlot se servia do cinema ou se o cinema se servia de Charlot.
“Tempos Modernos” dava a resposta.”
“Contudo, Chaplin escolhera para
“Tempos Modernos” um assunto bastante novo. Charlot é operário numa grande
fábrica. O filme apresenta-se na sua advertência como a “história da indústria,
do empreendimento individual, da humanidade na conquista da felicidade...”
(Sadoul).
Assumindo uma atitude que era, viria depois a saber-se, contrária ao
futuro do cinema, Chaplin não desleixa a análise do futuro do homem. Um pouco
afastado da evolução técnica (e também estética) da forma de expressão que
escolhera, Chaplin mantinha-se um autor extremamente preocupado com o homem e
os seus problemas. Descurando o que poderia ser acidental, Charlot não se
demitia no plano do essencial. Deste modo é que “Tempos Modernos” adquire uma
modernidade impressionante, um poder de crítica que ainda hoje espanta e que
deixa perceber, sem grande admiração, a enraivecida reacção de certos sectores
da vida americana e europeia. Compreendem-se, portanto, as palavras de um
correspondente francês em Nova Iorque que historiou assim o acolhimento da
imprensa americana: “Embora reconhecendo a marca do génio incontestável de
Chaplin, a crítica censura-o por ser demasiado agressivo, demasiado revoltado;
censura-lhe uma tendência política que estaria muito próxima do comunismo;
censura-lhe o facto de se mostrar, mais claramente do que nunca, inimigo dos
grandes dirigentes de empresas e da Polícia”. Curiosos tempos estes, onde se
atacava um artista em tais termos.
“Todo o desespero do filósofo que denuncia o absurdo do mundo, toda a
angústia de Kafka, explodem neste filme, tão feroz como burlesco.” (Georges
Altman).
“Tempos Modernos” inicia-se ao ataque. Um rebanho de carneiros é posto
em paralelo com os operários que entram para as fábricas ou saem do
metropolitano. É conveniente não esquecer que o filme data de 1936 e tenta ser
a análise de um período de crise que levou a América à mais completa ruína. A
depressão económica, iniciada com o “crash” de 1929, estava nos olhos de todos
e o desemprego será um dos grandes temas de Chaplin.
No interior de uma fábrica, iremos encontrar Charlot operário, elo de
uma cadeia. O seu trabalho será o de apertar roscas, não descurando um gesto,
impondo a si mesmo um ritmo de autómato. Obviamente esta regularidade só se
mantém durante escassos segundos. Charlot, eterno “revoltado”, como lhe chama
José-Augusto França, não poderia aceitar com docilidade este esquema. Será a
própria engrenagem que se irá ressentir da colaboração prestada por Charlot. Da
mesma forma que também Charlot se ressentirá da automatização que lhe é
imposta, mantendo no exterior a mesma necessidade de apertar roscas que a
fábrica lhe criara. Mas, eis a subversão: em lugar de roscas, Charlot investe
furiosamente sobre todos os botões que os vestidos da época comportam. E eram
muitos. Ei-lo, portanto, correndo atrás de uma matrona, generosamente servida
de seios, que se atravessara no caminho. Este facto, acrescentado a outros
(explode com a maquinaria, borrifa de óleo o director da fábrica e os seus
capatazes, distrai os colegas, etc.), obriga Charlot a uma permanência no
hospital, após a qual se encontra desempregado. Em liberdade, Charlot apanha
irreflectidamente do chão um pedaço de pano vermelho e é tomado por chefe de
uma manifestação. Na cadeia (que Chaplin associa, no funcionamento, a uma
fábrica), Charlot consegue um estatuto de privilegiado, depois de ter ajudado a
malograr uma fuga. Refastelado numa confortável cela, tenta recusar a liberdade
quando lha oferecem. Afinal, lá dentro, está muito melhor, saboreando o
descanso e sem inquietações de comida e cama.
De novo na sua rota de vagabundo, encontra uma jovem que roubara um pão.
Quixotesco, faz-se passar pelo ladrão, de forma a deixar em liberdade a
rapariga (ou de forma a ser preso outra vez). Acabam ambos por ir parar ao
carro celular.
Novo emprego (um estaleiro, onde Charlot afunda um navio em construção),
nova prisão. À saída, a jovem espera por ele. Passam a viver numa cabana e
Charlot consegue outro trabalho: guarda-nocturno num armazém. Abusivamente,
leva lá para dentro a jovem e passam uma noite em grande estilo, até que surge
um grupo de ladrões com que acaba por confraternizar. Volta a ser preso, volta
a sair. De novo a rapariga o espera, agora para lhe dizer que conseguiu um
emprego de dançarina num cabaret de décima ordem. Charlot é contratado como
empregado-cantor. Os tempos parecem sorrir-lhes finalmente, mas a polícia volta
a quebrar o encanto daquele idílio, tentando prender a rapariga. Com a estrada
pela frente (o mesmo é dizer: com o futuro), o casal, de mão dada, teima.
Nalgum sítio será possível viver. Nada mais lhes resta do que perseguir o
sonho.
Chaplin contra a técnica? Chaplin contra a máquina? Quer-nos parecer que
não. Chaplin recusa, dos tempos modernos, a alienação do indivíduo, a sujeição
à máquina, a indignidade de um trabalho escravo, a apatia dos próprios homens
perante a sua progressiva desumanização. Só assim se entenderão completamente
os planos iniciais, onde um rebanho de carneiros é montado em paralelo com os
operários dirigindo-se para as fábricas. Atacando a máquina que tritura o
indivíduo (que tritura literalmente, como acontece em “Tempos Modernos”, onde,
por exemplo, os operários são levados pelo interior das máquinas, tragados
pelas suas engrenagens, ávidas de alimento para o seu estômago esfomeado),
Chaplin ataca não a técnica como valor absoluto, mas a técnica que, em lugar de
libertar o homem, o escraviza. Não a máquina que serve o homem, mas a que se
serve do indivíduo. Neste aspecto, é muito sugestiva toda a cena onde o patrão
da fábrica experimenta um invento destinado a servir o almoço aos operários “no
local de trabalho”, para que estes não interrompessem as suas tarefas para a
refeição. Eis aqui o exemplo máximo da técnica ao serviço da própria técnica e
dos meios de produção. Tudo isto, simplesmente para maior lucro e glória da
entidade patronal e do capital, através de uma maior exploração do trabalho.
“Às promessas de bem-estar material (Charlot) preferirá sempre, porque é um
poeta e porque é livre, a miséria e a fome, mas também os devaneios tranquilos,
a erva dos taludes, a incerteza de um amanhã que permite todas as esperanças”
(Leprohon).
Filme a um tempo sonoro e mudo, “Tempos Modernos” mantém toda a
estrutura dramática de uma obra muda. Aqui e ali aparecerão um rádio, uma
máquina, um som. Charlot, porém, permanece silencioso, preferindo exprimir-se
pela mímica, pela expressão, pelo gesto. E por legendas, quando for o caso.
Quase no fim do filme, contudo, saltando para o centro da pista do cabaret, com
um poema escrito num dos punhos da camisa, Charlot canta. A canção (“Je cherche
après Titine”) é, todavia, uma sucessão de sons que vai buscar elementos a
várias línguas e se torna expressiva para qualquer delas. Ou, se preferirem,
que alcança um significado definido e único em todas elas. Primeira experiência
falada de Charlot, esta canção irá manter a universalidade de um gesto, de uma
expressão, de um olhar.
Que dizer da genialidade do cómico de Chaplin? Que mais se poderá
acrescentar ao que já foi dito? Chaplin, para uns o maior cineasta da história
do cinema (e para que interessarão as comparações?), é um homem com uma visão
do mundo perfeitamente elaborada, um artista que cria à sua imagem e
semelhança. Um filme de Chaplin não é uma comédia ou um drama. Possui o fôlego
de um poema, enternece e diverte, atinge a sátira ou a tragédia, deixa
sobretudo o espectador estupefacto, ignorando qual deverá ser a sua reacção
acertada. Rir ou chorar, sofrer com a sorte magoada de um vagabundo, gritar de
dor perante a injustiça, indignar-se com o gesto do “herói” que continuamente a
si próprio se nega (Charlot na prisão toma o partido do director e dos guardas
e aqui Chaplin avisa-nos da dificuldade de acusar ou enaltecer um homem,
sobretudo um homem como aquele que ele nos mostra)...
Do que poderemos estar certos é da qualidade de um humor que consegue
ressuscitar todos os dias, em todos os ecrãs do mundo, perante novos públicos.
O que poderemos é admirar, sim!, diariamente admirar e se possível, se conseguirmos,
se formos capazes disso, se o merecermos, amar Charlot e, através dele, amar a
vida.
Charlot? Uma maravilha. Bastaria uma palavra, se as palavras sozinhas,
isoladas, perdidas, significassem ainda alguma coisa. Mas a verdade é que
Charlot é isso: uma maravilha!
In “Diário de Lisboa”, 6 de Fevereiro de 1972.
EVOCAÇÃO DE CHAPLIN
Por entre imagens recolhidas de alguns filmes de Charlot, o noticiário de
televisão da noite de Natal de 1977 interrompeu as referências mais ou menos
festivas à quadra para sublinhar o facto: Charles Chaplin morreu.
Tinha 88 anos, vivia retirado em Corsier-sur-Vevey, na Suíça, de onde só
raramente saía nos últimos anos de vida. O "guerreiro" repousava já
há longos anos, esperando que a morte o viesse buscar. "Morreu de velhice",
confirmaria o médico da família. Serenamente, durante o sono, numa noite de
Natal. Sem dramatismo, ainda que perante a comoção sincera de todo o mundo.
Mesmo daqueles que já não achavam muito simpática a figura de Chaplin,
endinheirado e algo conservador, ele que fora arauto de liberdade, de arrojo,
de destemperança.
Enquanto Charles Spencer Chaplin vai a enterrar, discretamente, perante o
silêncio dos familiares, escolho o silêncio da noite que se adensa para retirar
o projector de super-oito, ligar a ficha à corrente, e pôr a rolar uma bobina
clássica, de um Charlot dos bons velhos tempos. É "Charlot,
vagabundo". Buster
Keaton, o único outro cómico de toda a história do cinema que se lhe pode
comparar, afirma-o "o vagabundo do cinema". É assim que gosto de
recordá-lo: o cabelo preto encaracolado, caindo sobre a testa, crescendo por
debaixo de um chapéu de coco (seguramente surrupiado na pré-história do
cinema); um corpo franzino, nervoso; umas calças largas e amarrotadas, de cujos
bolsos podem sair cordas, lenços, pedaços de pão duro, que irá dividir sempre
com a bela rapariga pobre e cega (como em “Luzes da Cidade”); um colete; um
casaco muito apertado; uma gravata que se descobre descendo dos colarinhos
brancos (brancos?) da camisa; uns sapatos enormes, por vezes abertos à frente,
com as solas separadas, mas sempre comestíveis em momentos de fome mais negra.
E, por debaixo de uns olhos tristes e nostálgicos, o bigodinho trocista que irá
acompanhar as evoluções electrizantes de uma fina bengala de cana.
Aí temos a figura à conquista do mundo. Adormecido atrás de uns taipais,
sentado na soleira de uma porta, caminhando sem destino pelas ruas das grandes
metrópoles, pelos atalhos do campo, Charlot é uma personagem à espera do mundo.
Que lhe surgirá sob a forma do cacetete de um polícia de Max Sennett, ou sob o
rosto amargurado de uma jovem, desprotegida, em fuga aos maus tratos de um
patrão ou padrasto. Tudo começa em cada nova bobina. Do olhar do vagabundo sai
a esperança, sempre renovada. As peripécias sucedem-se. Charlot não abdica de
uma ferroada violenta no "sistema". Individualista,
"self-made-man", como lhe chamou José-Augusto França, Charlot
diverte-se, e diverte-nos, atacando os "grandes", quer eles sejam os
guardas prisionais (detentores de um "certo" poder), os banqueiros,
os bons burgueses, os oficiais de carreira, os patrões ou mesmo os governantes.
É célebre a violenta "charge", dedicada a Hitler, em “O Ditador”, que
terá levado Göebbels a caracterizar Charles Chaplin do seguinte modo: "É
um judeuzinho desprezível, mesquinho e ávido." Quando no futuro se
recordar Charlot, dir-se-á "cinema", dir-se-á "amor à
vida". Quando se recorda Göebbels, o que vem à memória são o nazismo e
campos de concentração. Vitórias de um “judeuzinho” indomável que todas as
forças do mundo quiseram ter junto de si e que quando não conseguiram comprar
a sua cumplicidade, o amesquinhavam sem razão, o expulsavam sem motivo. A
América, que lhe recusou entrada em 1952, sob a acusação de "actividades
anti-americanas" e de "simpatias comunistas", levaria vinte anos
para se recompor, dando o dito por não dito em 1972, quando o recebe
triunfalmente para lhe entregar em Hollywood um prémio especial, criado para
mitigar uma injustiça.
Eternamente apaixonado pela "partenaire" do filme que rodava
(com algumas das quais viria mesmo a casar), Charlot surge-nos como o
"cavaleiro andante" do século XX, um pobre diabo metido em assados,
eterna vítima dos graúdos, de que se desforra amiudadas vezes, ao tentar repor
o equilíbrio entre exploradores e explorados. Peregrinação dolorosa em busca da
dignidade, o cinema de Charlie Chaplin traduz - de uma maneira de que só Buster
Keaton conheceu igualmente a fórmula - toda a complexa mecânica do riso, do
"clown", do palhaço. Servindo-se do cinema como linguagem universal,
Chaplin conseguiu ser o palhaço de todas as infâncias, o riso de todas as
crianças, a ternura de todos os públicos.
Cavalheiresco e altivo mesmo nas piores situações, Charlot tem sempre um
gesto, uma frase, um movimento que lembram a sua condição de homem, de
humilhado e ofendido, que todavia não oferece a outra face, depois de ter sido
esbofeteado na direita. Mesmo no alto da pista de um circo (em “O Circo”), envolvido por macacos que o
mordem e o despem, enquanto procura equilibrar uma barra sobre a corda bamba,
mesmo aí Charlot não abdica da sua dignidade, rosto amargurado transpirando
pureza, uns olhos de uma tristeza infinita que só o rosto de uma mulher
consegue rasgar de par em par, uma dignidade continuamente posta em causa, continuadamente
agredida, mas sempre reaprendida, mesmo depois da angustiante partida do circo,
mesmo depois do adeus a uma amada que ele vê desaparecer nos braços de outro.
Mesmo depois de todo este desmoronar de um sonho, Charlot consegue erguer-se
bem no centro da pista deserta e partir ele também para os lados do
desconhecido, com um andar saltitante, volteando no ar uma bengala de
esperança. Ouvi pela televisão, li depois nos jornais que Charlie Chaplin
morrera na noite de Natal de 1977. Em Corsier-sur-Vevey, na Suíça. Agora que
desligo o projector de super-oito, que enrolo a fita e guardo a bobina, sei que
Charlot, o vagabundo, não morreu.
TEMPOS MODERNOS
Título original: Modern Times
Realizador: Charles Chaplin (EUA, 1936);
Argumento: Charles Chaplin; Música: Charles Chaplin, e ainda Alfred Newman,
Edward B. Powell, David Raksin, Bernhard Kaun; Fotografia (p/b): Ira H. Morgan,
Roland Totheroh, e ainda Max M. Autrey, Mark Marlatt; Montagem: Willard Nico;
Casting: Al Ernest Garcia; Direcção de produção: Charles D. Hall Alfred Reeves,
Jack Wilson; Direcção artística: J. Russell Spencer; Maquilhagem: Elizabeth
Arden; Assistentes de realização: Carter DeHaven, Henry Bergman; Departamento
de arte: Charles D. Hall, J. Russell Spencer, Hal Atkins, William Bogdanoff,
Bob Depps, Joe Van Meter; Som: Frank Maher, Paul Neal; Efeitos especiais: Bud
Thackery; Produção: Charles Chaplin; Companhias de produção: Charles Chaplin
Productions; Intérpretes: Charles
Chaplin (operário), Paulette Goddard (rapariga), Henry Bergman (propietário de
café), Tiny Sandford (Big Bill), Chester Conklin (mecânico), Hank Mann
(ladrão), Stanley Blystone (pai da rapariga), Al Ernest Garcia (presidente da
Electro Steel Corp.), Richard Alexander, Cecil Reynolds, Mira McKinney, Murdock
MacQuarrie, Wilfred Lucas, Edward LeSaint, Fred Malatesta, Sammy Stein, Juana
Sutton, Ted Oliver, Norman Ainsley, Bobby Barber, Heinie Conklin, Gloria
DeHaven, Frank Hagney, Chuck Hamilton, Lloyd Ingraham, Walter James, Edward
Kimball, Jack Low, Bruce Mitchell, Frank Moran, James C. Morton, Louis
Natheaux, John Rand, Harry Wilson, etc. Duração:
87 minutos; Locais de filmagens: Hollywood Boulevard & Vine Street,
Hollywood, Los Angeles, California, EUA; Data de estreia: 5 de Fevereiro de
1936 (EUA); Classificação etária: M/ 6 anos; Distribuição mundial (DVD): MK2
Diffusion; MK2 Editions; Distribuição em Portugal (DVD): Costa do Castelo
Filmes.
CHARLES CHAPLIN (1889-1977)
1. AS ORIGENS
Charles Spencer Chaplin nasceu em Londres, a 16 de Abril de 1889, filho
de Charles Chaplin e de Hanah Hill. O pai era actor, cantor e compositor, a mãe
cantora e bailarina de "music-hall", conhecida pelo nome de Lily
Harley. Aos cinco anos, Chaplin, ainda que ocasionalmente, já canta em
espectáculos de variedades, ao lado do pai, em substituição da mãe. Em Março de
1894 morre o pai e a situação da família é de uma miséria extrema, com a
hospitalização da mãe, dada como louca. Chaplin e seu irmão Sidney entram para
a Hanwell Residential School, nos subúrbios de Londres, um orfanato onde
Chaplin se mantém até 18 de Janeiro de 1898. Volta então para junto da mãe,
aparentemente recuperada e exercendo costura. Frequenta depois o Hern Boys
College, onde estudará durante 18 meses, aparecendo simultaneamente nalguns
espectáculos de "music-hall" londrinos de segunda categoria.
Contratado por grupos como os de "Maggie Morton" e "The
Eight Lancashire Lads", Chaplin exercita-se entre as variedades e os
números de circo, numa altura em que a mãe volta a ter nova crise e é internada
outra vez. Fica sozinho em Londres (o irmão partira, como marinheiro, para a
África do Sul), torna a conhecer um período de fome, desolação e negra miséria.
Tem onze anos e sobrevive em pequenos papéis, em peças como “From Rags to
Riches” (Da Miséria à Fortuna), um melodrama, ou “Sherlock Holmes”, cuja carreira o ocupa durante algum
tempo.
O circo interessa-o igualmente, até que em 1906 é contratado pelo
"Casey's Court Circus", um circo infantil, onde todos os números eram
interpretados por crianças. Uma digressão de um ano assegura-lhe a
sobrevivência, até que Sidney Chaplin, que entretanto se tornara seu
empresário, lhe consegue um contrato para a Fred Karno Repertoire Company. A
sua carreira ascensional irá começar aqui. Várias digressões internacionais, a
Paris, pela província inglesa, aos EUA e ao Canadá, e finalmente uma segunda
digressão aos Estados Unidos que o leva até Nova Iorque, onde o produtor Adam
Kessel, que fundara a Keystone Cª, repara nele e o pretende contratar, o que só
virá a acontecer em 12 de Maio de 1913. Tornara-se conhecido na América
sobretudo pela sua contribuição num episódio teatral, “A Night in an English
Music Hall”. A última representação de Charles Chaplin para a companhia de Fred
Karno terá lugar em 28 de Novembro de 1913, no Empress Theatre, de Kansas City.
Em Dezembro desse ano, já em Hollywood, trava conhecimento com Mack Sennett e
os processos cómicos da Keystone Film Company. Assina o primeiro contrato para
o cinema em 2 de Janeiro de 1914, obrigando-se a participar em 35 filmes de uma
ou duas bobinas, durante esse ano, contra uma remuneração de 150 dólares
semanais, ou seja 7800 dólares por ano. Entre 16 e 19 de Janeiro filma o seu
primeiro filme, “Making a Living” (Charlot Jornalista).
2. FILMES DO PERIODO DA
“KEYSTONE”
1914: Making a Living (Charlot Jornalista), de Henry Lehrman; Kid Auto
Races at Venice (Charlot Fotogénico), de Henry Lehrman; Mablel's Strange
Predicament (A Estranha Aventura de Mabel), de Mack Sennett e Henry Lehrman;
Between Showers (Charlot e o Guarda-Chuva), de Henry Lehrman; A Film Johnny
(Charlot no Cinema), de Mack Sennett; Tango Tangles (Charlot Bailarino), de
Mack Sennett; His Favourite Pastime (Charlot Galante), de George Nichols;
Cruel, Cruel Love (Charlot Marquês), de Mack Sennett; The Star Boarder (Charlot
Ama a Hospedeira), de Marck Sennett; Mabel at the Wheel (Charlot tem um Rival),
de Mack Sennett e Mabel Normand; Twenty Minutes of Love (Charlot Apaixonado),
de Mack Sennett; Caught in a Cabaret (Charlot Criado de Café), de Chaplin e
Mabel Normand; Caught in the Rain (Charlot e a Sonâmbula), de Chaplin; A Busy
Day (Charlot Ciumento), de Chaplin; The Fatal Mallet (O Malho de Charlot), de
Chaplin e Mack Sennett; The Knock Out (Charlot Árbitro), de Mack Sennett e
Chaplin; Her Friend the Bandit (O Namoro de Charlot), de Chaplin e Mabel
Normand; Mabel's Busy Day (Charlot e as Salsichas), de Chaplin e Mabel Normand;
Mabel's Married Life (Charlot e o Manequim), de Chaplin e Mabel Normand;
Laughing Gas (Charlot Dentista), de Chaplin; The Property Man (Charlot no
Teatro), de Chaplin; The Face on the Bar Room Floor (Charlot Pintor), de
Chaplin; Recreation (Charlot Diverte-se), de Chaplin ; The Masquerade
(Charlot Faz de Vedeta), de Chaplin; His New Profession (Charlot Enfermeiro),
de Chaplin; The Rounders (Que Noite), de Chaplin; The New Janitor (Charlot
Porteiro), de Chaplin; Those Love Pangs (Charlot e o Rival), de Chaplin; Dough
and Dynamite (Pastéis e Dinamite), de Chaplin; Gentlemen of Nerve (Charlot nas
Corridas), de Chaplin; His Musical Career (A Carreira Musical de Charlot), de
Chaplin; His Trysting Place (Charlot Papá), de Chaplin; Tillie's Punctured
Romance (As Bodas de Charlot), de Mack Sennett; Getting Acquainted (Charlot
Passeia), de Chaplin; His Prehistoric Past (O Homem Pré-Histórico), de Chaplin.
3. COMO SURGE “CHARLOT”
No seu livro autobiográfico, Charlie Chaplin conta como nasceu a
personagem Charlot, “vagabundo, gentleman, poeta, sonhador". Depois de um
primeiro filme, “Charlot Jornalista” (Janeiro de 1914), Chaplin foi convidado
para figurar num segundo filme de Mack Sennett:
"Não tinha a menor ideia da maneira como havia de me apresentar.
Mas, quando me dirigia para o vestuário, disse com os meus botões que ia vestir
umas calças largas de mais, pôr uns sapatos enormes e completar o conjunto com
uma bengala e um chapéu de coco. Queria que tudo estivesse em contradição: as
calças exageradamente largas, o casaco muito apertado, o chapéu pequeno de
mais e os sapatos enormes. Devia ainda resolver se assumiria um ar de jovem ou
de velho, mas lembrando-me de que Sennett me tinha julgado mais velho,
acrescentei à minha cara um pequeno bigode que, segundo me parecia, dar-me-ia
mais alguns anos sem ocultar a minha expressão."
4. NA “ESSANAY”
Em 1915 Chaplin deixa a Keystone e muda-se para a Essanay, onde roda 16
novos títulos durante esse ano. Recebe agora 1250 dólares semanais, o que
corresponde a 65 000 dólares num ano. Chaplin passa a assegurar a realização
integral das suas obras, sendo da sua responsabilidade argumento, realização,
cenários, recrutamento de outros actores e técnicos e interpretação. Contrata
Edna Purviance, uma actriz com quem irá estabelecer longa e forte amizade.
Inicia-se a contribuição de Rollie Totheroh, que acompanhou Chaplin durante 40
anos.
OS FILMES DO PERÍODO DA
“ESSANAY”
1915: His New Job (A Estreia de Charlot), A Night Out (Charlot
Zaragateiro), The Champion (O Campeão), In the Park (Charlot no Parque),
Charlot quer Casar (The Jitney Elopement), The Tramp (Charlot Vagabundo), By
the Sea (Charlot Bombista), His Regeneration (A Regeneração de Bronco Billy),
Work (Charlot Aprendiz), A Woman (Charlot Perfeita Dama), The Bank (Charlot no
Banco), Charlot em Xangai (Shanghaled), A Night in the Show (Uma Noite no
Music-Hall), Police (Charlot Ladrão), Carmen (Carmen), Triple Trouble (Charlot
é sempre Charlot), The Essanay Chaplin Revue of 1916 (antologia, em 5 bobinas,
de fragmentos de alguns dos filmes interpretados por Chaplin para a Essanay em
1916).
5. NA “MUTUAL”
Desagradado com as imposições dos produtores em relação a “Carmen”,
Chaplin decide não renovar o contrato com a Essanay e ingressa na Mutual. As
condições semanais melhoram. Um total de 675 000 dólares para doze filmes.
Trabalhará para a Mutual até Setembro de 1917 tendo, porém, já assinado novo
contrato, desta feita com a First National, em Junho do mesmo ano. Em Outubro
de 1917 principia a construção do Estúdio Chaplin, num terreno adquirido no
Sunset Boulevard, em Hollywood.
FILMES DO PERÍODO DA
“MUTUAL”
1916: The Floorwalher (Charlot Caixeiro), The Fireman (Charlot Bombeiro),
The Vabagond (Charlot Violinista), One A. M. (Charlot Boémio), The Count
(Charlot Aldrabão), The Pawnshop (Charlot Prestamista), Behind the Screen
(Charlot Maquinista), The Rink (Charlot Patinador); 1917: Easy Street (Charlot
na Rua da Paz), The Cure (Charlot nas Termas), The Emmigrant (Charlot o
Emigrante), The Adventurer (Charlot o Evadido) (durante o período da Mutual,
todos os filmes de Chaplin são escritos e realizados por ele, tendo com
fotógrafos Rolland Totheroh e William C. Foster).
6. NA “FIRST NATIONAL”
A First National assegura a colaboração de Chaplin e Mary Pickford. O
contrato de Charles Chaplin prevê a realização de 8 títulos em 18 meses, contra
o que receberá 1 075 000 dólares. Chaplin funda a Chas Chaplin Film Cª, onde
passarão a ser rodados todos os seus filmes, até “Luzes da Ribalta”. O actor passa a controlar a produção das suas
obras, cobrando 50% das receitas.
Entretanto, entre Março e Junho de 1918 associa-se à propaganda americana
de intervenção na I Guerra Mundial. A 23 de Outubro desse ano, casa com Mildred
Harris, uma actriz de 16 anos, de quem se divorciará a 19 de Novembro de 1920.
Em Setembro de 1921 inicia uma viagem à Europa, com paragem em Londres, Paris e
Berlim, para apresentação do seu filme “Garoto
de Charlot”.
FILMES DO PERÍODO DA “FIRST
NATIONAL”
1918: A Dog's Life (Uma Vida de Cão), Shoulder Arms (Charlot nas
Trincheiras), The Bond (contribuição de Chaplin para a campanha de bónus para a
guerra. Filme julgado perdido durante muito tempo); 1919: Sunny Side (Um Idílio
nos Campos), A Day's Pleasure (Um Dia Bem Passado); 1921: The Kid (O
Garoto de Charlot), - The ldle Class
(Charlot, Amador de Golf); 1922: Pay Day (Dia de Pagamento), The Pilgrim (O
Peregrino).
7. DO MUDO AO SONORO
Após um contrato de cinco anos com a First National, Chaplin passa a
produzir os seus próprios filmes, através da United Artists, produtora que
fundara em 1919, conjuntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W.
Griffith, pelo que também era conhecida pela designação de “The Big Four” (Os
Quatro Grandes). Por essa altura é muito falada a ligação de Chaplin com Pola
Negri, cuja ruptura se anuncia no Verão de 1923. Em 24 de Novembro do ano
seguinte, casa secretamente com Lita Grey, actriz que contratara para “A
Quimera do Ouro”, que virá a ser, porém,
interpretada por Georgia Hale.
Depois dos escândalos de Mildred Harris e Pola Negri (entre outros),
Chaplin enfrenta nova acção de divórcio, desta feita instaurada por Lita Grey,
em Janeiro de 1927. A
opinião pública começa a protestar contra Chaplin e pede a proibição dos seus
filmes. O puritanismo americano vem ao de cima. Um grupo de escritores
surrealistas franceses ergue-se, todavia, em defesa de Chaplin, num manifesto
intitulado "Hands off Love", redigido em inglês por Aragon, e
assinado por Éluard, Breton, Man Ray, Desnos, Crevel, Georges Sadoul, Tanguy,
Prévert, Queneau, etc,
Após o julgamento, Chaplin tem novos problemas com a justiça americana,
desta feita com o fisco. Anteriormente, a sua mãe, que passara a viver com ele
nos EUA, tinha igualmente sido ameaçada de expulsão. Hannah Chaplin virá a
morrer em Agosto de 1929. Entretanto, as primeiras longas-metragens de Charles
Chaplin conhecem um sucesso sem precedentes. “A Woman of Paris” (Opinião
Pública), único filme realizado por Chaplin e não interpretado por si, “A
Quimera do Ouro” e “O Circo” marcam os últimos anos do mudo. Em 1927, com o
advento do sonoro, Chaplin sofre um rude golpe. Procura manter-se fiel aos
processos do mudo, começando a rodar “Luzes da Cidade” como tal. Interrompe, porém,
as filmagens para experimentar o sonoro. Mas, em 1935, oito anos depois do
aparecimento do sonoro, volta a rodar um filme inteiramente mudo: “Tempos
Modernos”.
Em 1933, torna a casar, pela terceira vez, desta feita com Paulette
Goddard, de quem virá igualmente a divorciar-se em 1942.
Estreado em 1936, “Tempos Modernos” custou milhão e meio de dólares,
sendo recebido com frieza pela crítica americana, que acusa o filme de fazer
propaganda comunista. É proibido em Itália e na Alemanha, mas tem um êxito extraordinário
em Londres, Paris e Moscovo. Antes de iniciar a rodagem de “O Ditador”, Chaplin
anuncia vários outros projectos que não chega a realizar: “Jesus”, “Hamlet”, “O
Bravo Soldado Schweik”, “A Pequena Selvagem de Bali”...
8. PERSEGUIÇÕES NA AMÉRICA
Os problemas de Chaplin não desaparecem nos EUA. Instauram-lhe diversos
processos, quer por empresas que se consideram prejudicadas, quer por
sociedades que acusam o autor de plágio, quer por novas paixões (como no caso
de Joan Berry, que o põe em tribunal, sob a acusação de não reconhecimento de
paternidade, de que Chaplin é ilibado). Com a entrada dos EUA na II Guerra
Mundial, Charles Chaplin enquadra-se nessa luta. Compreendendo o papel
desempenhado pela URSS no confronto contra o nazismo, aparece em diversos
comícios e reuniões políticas de apoio à luta deste povo. O seu ódio a Hitler e
ao nacional-socialismo leva-o a dirigir “O Ditador”, que lhe acarretaria mais
dissabores. Em 1943, Chaplin conhece Oona O' Neill, filha do dramaturgo
americano Eugene O' Neill, com quem casa a 16 de Junho: ele tem 56 anos e Oona
18. No ano seguinte, lança-se na concepção de “Monsieur Verdoux”, que se
estreará em 1947. Com a estreia de “Verdoux”, Chaplin volta a enfrentar uma
longa e intensa campanha hostil por parte da imprensa americana. A Comissão das
Actividades Anti-americanas, presidida por Parnell Thomas, inicia igualmente um
ataque sistemático a Chaplin, que culmina com a chamada do cineasta a depor, o
que este recusa, enviando em seu lugar um telegrama: "Sou a favor da
paz". Os "Dez de Hollywood" são nessa altura condenados a um ano
de cadeia, por terem recusado comparecer perante esta comissão.
Em 1952, termina “Luzes da Ribalta”, onde trabalha ao lado de Buster
Keaton, e embarca para a Europa. O ministro da justiça do presidente Truman e a
Comissão das Actividades Anti-Americanas, do senador McCarthy, anunciam a
instauração de um processo a Chaplin. Acusam-no de simpatias comunistas e
querem que deponha perante a Comissão, o que recusa. Chega dias depois a
Londres e é recebido entusiasticamente. Passa depois por Paris e Roma. A Europa
rende-se a Charlot. Em 1953, Chaplin instala-se na Suíça e desiste de voltar à América.
Passa a viver num solar, em Corsier-sur-Vevey, perto de Lausana. A decisão de
renunciar a viver nos EUA anuncia-a nas seguintes palavras: "Desde o fim
da Segunda Guerra Mundial fui objecto de uma campanha de mentiras e de
propaganda hostil levada a efeito por poderosos grupos reaccionários. Com a
ajuda da imprensa de escândalos, criaram uma atmosfera incómoda, na qual as
pessoas de espírito liberal podem ser perseguidas. Nestas condições, achei que
me era impossível continuar nos Estados Unidos o meu trabalho
cinematográfico".
Na Europa dirige ainda “A King in New York” (1957), só estreado nos EUA
20 anos depois, e “A Countess from Hong Kong” (1967). Recupera filmes antigos,
renova as partituras musicais de alguns, pensa ainda lançar-se num novo
empreendimento, "The Freak", a ser interpretado pela irmã, Victoria
Chaplin, mas acaba por dar por terminada a sua carreira. Em 1975, é armado
cavaleiro pela Rainha e, dois anos depois, em plena noite de Natal, a 25 de
Dezembro, more durante o sono.
9. LONGAS-METRAGENS DO
PERÍODO “UNITED ARTISTS”
1823: A Woman
of Paris: A Drama of Fate (A Opinião Pública)
1925: The Gold
Rush (A Quimera do Ouro)
1926: Camille
ou The Fate of a Coquette, de Ralph Barton (CC não creditado)
1928: The
Circus (O Circo)
1931: City
Lights (Luzes da Cidade)
1936: Modern
Times (Tempos Modernos)
1940: The
Great Dictator (O Grande Ditador)
1947: Monsieur
Verdoux (O Barba Azul)
1952:
Limelight (Luzes da Ribalta)
1957: A King
in New York (Um Rei em Nova Iorque)
1967: A
Countess from Hong Kong (A Condessa de Hong Kong)
Sem comentários:
Enviar um comentário