UMA NOITE NA ÓPERA (1935)
Ainda não tinham
terminado o seu contrato com a Paramount e já os Marx tinham um novo contrato,
com a MGM, assinado por ordem de Irving Thalberg, aquele que terá sido o maior
produtor norte-americano desta época e que deixou na Metro a marca da sua
exigência de qualidade e rigor. De toda a forma, a visão de Thalbeg em relação
ao humor dos Marx teve algumas consequências directas na formulação dos seus
filmes seguintes.
Nas cinco
obras que a Paramount assegurou, duas das quais retiradas directamente de
“vaudevilles”, os Irmãos Marx tinham sido deixados à solta, o seu humor é
caótico, as histórias quase inexistentes, o filme avança com base em “números”
quase desligados entre si, imperava uma anarquia saudável que transformava
estes filmes em objectos únicos e incontroláveis. Com Thalberg, os Marx vão
encaixar o seu humor numa estrutura especialmente concebida para os receber, é
certo, mas que de alguma forma controla igualmente os seus movimentos. Há uma
história, por muito ténue que seja, há um maior suporte a nível de elenco, para
dar resposta aos Marx, há uma exigência de momentos sentimentais e musicais
para criar oscilações na curva dramática do enredo. Tenta controlar-se o humor,
por forma a este ser melhor assimilado pelo público, com pausas para descanso e
áreas de relaxe com números musicais de grande efeito. Procura-se sobretudo
tornar os Marx personagens “simpáticas”, em oposição a vilões mais declarados,
o que acaba por funcionar sempre.
“A razão por
que mudámos, no nosso humor, de anarquistas para semi-adoráveis, foi
simplesmente uma questão de dinheiro. Nos nossos primeiros filmes éramos, como
mencionou, hilariantemente cómicos, e deitávamos abaixo os valores e costumes
sociais do nosso tempo, mas a cada novo filme as receitas de bilheteira desciam
mais um bocado.
Conta Groucho:
“O nosso último filme anarquista (para utilizar a sua terminologia) foi “Duck
Soup”. A seguir assinámos com Irving Thalberg, que nos disse: “É claro que
quero que continuem a ser cómicos, mas se, algures no guião, calhar ajudarem
alguém, o público gostará mais de vocês e os vossos filmes serão
financeiramente melhor sucedidos.” “Duck Soup” facturou 1 250 000 dólares,
enquanto” A Night at the Opera”, o nosso primeiro filme para Thalberg
(realizado sob o signo da afabilidade), rendeu quase 5 000 000 dólares. Em
conclusão, o nosso público não nos deixou cair. Nós é que o deixámos cair a
ele. Os filmes tornaram-se simplesmente demasiado duros de fazer fisicamente e
decidimos retirar-nos para pastagens mais verdes e confortáveis.” Assim escreveu
Groucho Marx, em resposta a uma crítica de Al Capp, NBC Estúdios Sunset Vine,
Hollywood, num texto aparecido no “Los Angeles Mirror”, de 15 de Fevereiro de
1961, e reproduzido em “Histórias Curtas e Grossas.”
O primeiro
filme a beneficiar deste tratamento foi “Uma Noite da Ópera”, um dos títulos de
nobreza de Irving Thalberg, ao lado “Mutiny on the Bounty” (1935), “China Seas” (1935), “San Francisco” (1936), ou “Romeo and Juliet” (1936).
Falemos então de “Uma Noite na Ópera”, uma realização de Sam Wood (e Edmund Goulding, este não creditado), com argumento
de James Kevin McGuinness (história), George S.
Kaufman, Morrie Ryskind, Al Boasberg (diálogos), Arthur Freed, Ned Washington
(letra das músicas) e a colaboração (igualmente não creditada) de Buster
Keaton.
Em Itália,
numa das mais prestigiadas salas de ópera, prepara-se a temporada com o apoio
da filantrópica Mrs. Claypool (Margaret
Dumont, a quem muitos chamam, com alguma razão o quinto Marx), que está
disposta a funcionar como mecenas, ofertando mil dólares por cada representação
do emproado e vingativo tenor Rudolpho Lassparri (Walter Woolf King). Otis B.
Driftwood (Groucho Marx), Fiorello (Chico Marx) e Tomasso (Harpo
Marx) andam por ali com funções diversas, mas atentos às malfeitorias de
Lassparri, que pretende “prender” a si Rosa Castaldi (Kitty Carlisle), com a
possibilidade de ser ela a sua “partenaire” na digressão à América, em
detrimento do galã de serviço, Ricardo Baroni (Allan Jones). Acontece que o par
amoroso está protegido pela presença dos Irmãos Marx, que tudo fazem para derrubar
a prepotência do tiranete operático. No final, triunfam os puros de coração,
ainda que pelos processos mais ínvios. Mas os Marx nunca se intimidaram com o
politicamente correcto para desmascarar o que há a desmascarar. Eles não têm
pejo de utilizar o ilegal para combater a fraude.
Os três Marx estão
já dentro do navio que parte da Europa para a América. Groucho vê os
marinheiros arredarem a escada que liga o navio ao cais e pergunta: "Acha
que ainda tenho tempo de ir pagar a minha conta ao hotel?" "Não",
respondem-lhe."Ainda bem!"
Groucho, a
bordo do paquete, depois de ter pedido para si um lauto jantar que daria para
dez pessoas, pergunta ao empregado: "Está autorizado a receber
gorjetas?" "Sim, estou" "Tem duas notas de dois
dólares?" "Tenho sim senhor!" "Bem, então não precisa dos
10 cêntimos que lhe podia dar".
Groucho, ainda, num jantar dado em honra de três aviadores famosos, dirige-se a uma senhora: "Dança a Rumba?" "Danço!" "Então, vá dançar!"
Groucho, ainda, num jantar dado em honra de três aviadores famosos, dirige-se a uma senhora: "Dança a Rumba?" "Danço!" "Então, vá dançar!"
Este é o
tipo de humor que os filmes dos Marx continuam a oferecer na MGM. Por esse
lado, nada foi adocicado.
Convém dizer
que "Uma Noite na Ópera" data de 1935, que Ionesco vem ainda longe e
que o teatro do absurdo, se lançara já as suas raízes, ainda não encontrara
ninguém que se lembrasse de assim o chamar. No cinema, contudo, os irmãos
Marx inventavam um tipo de comédia destruidora, perfeitamente louca, anárquica,
construída, paradoxalmente, na base da lógica. Sim, porque tudo o que acontece
em “Uma Noite na Ópera” não apresenta contestação possível no campo da lógica.
A não ser, claro, o facto de esta ser assumida a todos os níveis, levada até ao
extremo dos extremos. Aí, a lógica degrada-se num sem-sentido aparente (o
“non-sense”), que permite, destruindo, reencontrar o valor das palavras e
dos actos. Esse papel purificador foi desempenhado por Chico, Groucho
e Harpo de forma magistral, em quase toda a sua obra cinematográfica, que
preenche a década de 30.
Em “Uma Noite
na Ópera”, como em toda a obra dos Marx, assistimos a essa degradação das convenções
por duas vias igualmente importantes e significativas: uma via verbal (que
se fica devendo essencialmente à verve de Groucho, que tudo deteriora: um
exemplo, o contrato firmado entre Groucho e Chico, ambos não sabendo ler e
camuflando essa deficiência com a supressão progressiva das alíneas do
contrato) e uma via, digamos, "física" (isto é, destruindo os
objectos, quer pelo uso anormal que deles fazem, quer ainda pela sua simples
aniquilação material).
O humor dos
irmãos Marx cota-se assim entre as mais importantes conquistas do cinema de
todos os tempos, não só do cinema como de toda a forma anti-convencional
do comportamento humano. Os surrealistas saudaram neles a agressividade crítica
que não olha a meios para atingir os fins, e os fins para eles eram sempre
claros, definidos e concretos: arrasar pelos alicerces as convenções de uma
sociedade anquilosada e moribunda, assente em injustiças e prepotências. A sua
passagem pelos filmes que interpretaram fica sempre assinalada por um cortejo
inumerável de actos de verdadeiro terrorismo intelectual.
Senão,
atente-se, como exemplo, nas sequências finais deste “Uma Noite na Ópera” onde,
em alguns minutos geniais, três actores voltam literalmente do avesso toda a
arquitectura de um espectáculo cénico, despindo-o de uma carpintaria inerte,
insuflando-lhe novas energias, revigorando-o. Mas, para tanto, para que uma
nova ópera pudesse existir, os três Marx reviraram por inteiro a antiga
estrutura. Destruíram os cenários, despiram os actores, apagaram as luzes,
lutaram contra a polícia que os queria prender, fugiram dos empresários, dos
detectives, raptaram o tenor "canalha" e no seu lugar colocaram
aquele a quem davam o seu aplauso (e que viria a saber-se, depois, ser aquele
que o público preferia). Esta inversão total de valores, esta adesão
incondicional ao anti-conformismo era uma das maiores qualidades do cómico
admirável desses três actores (et pour cause!, hoje clássicos!) que foram os
irmãos Marx. A outra qualidade não menos admirável era o talento multifacetado,
deslumbrante de subtileza e de graça (que por vezes roçava a grosseria, e quase
sempre a provocação como no caso de Groucho e das suas declarações amorosas).
“Uma Noite na
Ópera” foi um tremendo sucesso de público e de crítica e é hoje considerado
como o melhor filme dos Marx por uma boa parte dos estudiosos da sua obra (a
outra parte prefere, como já vimos “Duck Soup”, correspondendo cada uma delas a
uma linha orientadora do seu cinema, uma mais anarquizante, outra mais
assimilada ao cinema “mainstream”.
Há algumas
cenas inesquecíveis: Mrs. Claypool (Margaret Dumont) espera num restaurante de
Milão pela chegada de Otis B. Driftwood (Groucho Marx) que a convidara para
jantar. Quando o descobre, sentado numa mesa atrás de si, a almoçar com uma
bela jovem, fica desesperada e protesta: “Estou aqui à sua espera desde as
sete” “Sim, responde Otis B. Driftwood, mas quando convido alguém para jantar é
para a ter à minha frente, e não nas costas. É o preço que deve pagar.”
Sai da mesa
onde acabara de jantar, pega na conta, proclama bem alto: “9.40 dólares? Isto é
um ultraje! Se fosse a si não pagava!” E deixa a jovem sozinha com a conta para
pagar.
Entretanto
Mrs. Claypool queixa-se por ter contratado Mr. Driftwood, há três meses, para a
apresentar à sociedade italiana, e nada sucedera entretanto. A não ser gastar
um avultado salário. Mas Driftwood afiança, entre outras coisas que a ama, ao
que Mrs. Claypool responde que desconfia, depois de “o ver a jantar com aquela
mulher.”
Driftwood:
Aquela mulher? Sabe por que estava com ela? Ela faz-me lembrar de si. Os seus
olhos, o seu pescoço, os seus lábios, tudo nela me faz lembrar de si. Excepto
você.”
De partida
para a América, com destino à New York Opera Company, segue a troupe toda com
alguns clandestinos pelo meio. Entretanto, Driftwood contrata um tenor, por 10
dólares a noite, mas quer 10% de percentagem pelo acordo, e Fiorello pede outro
tanto como agente. Ficam 8 dólares, donde o cantor vai retirar 5 para mandar
para a mãe.
Driftwood:
Fica com 3 dólares para ele.
Fiorello: Pode
viver em Nova Iorque com 3 dólares?
Driftwood:
Como um príncipe. Se não comer, vive como um príncipe. Claro que desses 3
dólares ainda tem de retirar o imposto de lucro… e o imposto federal, o imposto
do Estado, o imposto da cidade, o imposto de rua… Se não cantar muitas vezes,
acho que se safa.
Uma das cenas
mais célebres desta obra é a do “Classic Contract”, quando Driftwood estende
uma cópia do contrato do tenor a Fiorello, este informa-o que não pode ler e
Driftwood irá lê-lo pelos dois:
Driftwood: All right, fine. Now here are the
contracts. You just put his name at the top and you sign at the bottom. There's
no need of you reading that because these are duplicates.
Fiorello: Yeah, they's a duplicates.
Driftwood: I say they're duplicates.
Fiorello: Why sure they's a duplicates...
Driftwood: Don't you know what duplicates are?
Fiorello: Sure. There's five kids up in Canada .
Driftwood: Well, I wouldn't know about that. I haven't
been to Canada
in years. Well go ahead and read it.
Fiorello: What does it say?
Driftwood: Well, go on and read it!
Fiorello: You read it.
Driftwood: All right, I'll read it to you. Can you
hear?
Fiorello: I haven't heard anything yet. Did you say
anything?
Driftwood: Well, I haven't said anything worth hearing.
Fiorello: Well, that's-a why I didn't hear anything.
Driftwood: Well, that's why I didn't say anything.
Fiorello: Can you read it?
Driftwood: I can read but I can't see it. I don't seem
to have it in focus here. If my arms were a little longer, I could read it. You
haven't got a baboon in your pocket, have ya? Here, here, here we are. Now I've
got it. Now pay particular attention to this first clause because it's most
important. It says the, uh, "The party of the first part shall be known in
this contract as the party of the first part." How do you like that?
That's pretty neat, eh?...
Fiorello: No, it's no good.
Driftwood: What's the matter with it?
Fiorello: I dunno. Let's hear it again.
Driftwood: It says the, uh, "The party of the
first part shall be known in this contract as the party of the first
part."
Fiorello: (fazendo pausa) That sounds a little better
this time.
Driftwood: Well, it grows on ya. Would you like to
hear it once more?
Fiorello: Uh, just the first part.
Driftwood: Whaddaya mean? The...the party of the first
part?
Fiorello: No, the first part of the party of the first
part.
Driftwood: All right. It says the, uh, "The first
part of the party of the first part shall be known in this contract as the
first part of the party of the first part shall be known in this contract"
- Look, why should we quarrel about a thing like this? We'll take it right out,
eh?
Fiorello: Yeah, ha, it's-a too long, anyhow. (cortam
tiras ao contrato) Now, what do we got left?
Driftwood: Well, I got about a foot and a half. Now,
it says, uh, "The party of the second part shall be known in this contract
as the party of the second part."
Fiorello: Well, I don't know about that...
Driftwood: Now what's the matter?
Fiorello: I no like-a the second party, either.
Driftwood: Well, you shoulda come to the first party.
We didn't get home 'til around four in the morning...I was blind for three
days!
Fiorello: Hey, look, why can't-a the first part of the
second party be the second part of the first party? Then-a you got something.
Driftwood: Well, look, uh, rather than go through all
that again, whaddaya say?
Fiorello: Fine. (mais um corte no contrato).
Driftwood: Now, uh, now I've got something you're
bound to like. You'll be crazy about it.
Fiorello: No, I don't like it.
Driftwood: You don't like what?
Fiorello: Whatever it is. I don't like it.
Driftwood: Well, don't let's break up an old
friendship over a thing like that. Ready?...
Fiorello: OK. (outra parte do contrato é cortada). Now
the next part, I don't think you're gonna like.
Driftwood: Well, your word's good enough for me. (mais
um corte). Now then, is my word good enough for you?
Fiorello: I should say not.
Driftwood: Well, that takes out two more clauses.
(dois cortes). Now, "The party of the eighth part..."
Fiorello: No, that's-a no good. (Rasgando) No.
Driftwood: "The party of the ninth part..."
Fiorello: No, that's-a no good too. (Rasgando de novo,
ficando apenas duas tirinhas de papel) Hey, how is it my contract is skinnier
than yours?
Driftwood: Well, I don't know. You musta been out on a
tear last night. But anyhow we're all set now, aren't we?
Fiorello: Oh sure.
Driftwood: (oferece a caneta a Fiorello para este
assinar) Now just, uh, just you put your name right down there and then the
deal is, is, uh, legal.
Fiorello: I forgot to tell you. I can't write.
Driftwood: (imperturbável) Well, that's all right,
there's no ink in the pen anyhow. But listen, it's a contract, isn't it?
Fiorello: Oh sure.
Driftwood: We got a contract...
Fiorello: You bet.
Driftwood: ...no matter how small it is.
Fiorello: Hey, wait, wait. What does this say here?
This thing here.
Driftwood: Oh, that? Oh, that's the usual clause.
That's in every contract. That just says uh, it says uh, "If any of the
parties participating in this contract is shown not to be in their right mind,
the entire agreement is automatically nullified."
Fiorello: Well, I dunno.
Driftwood: It's all right, that's, that's in every
contract. That's, that's what they call a 'sanity clause.'
Fiorello: Ha, Ha, Ha. Ha. Ha. You can't fool me. There
ain't no Sanity Clause!
Driftwood: Well, you win the white carnation.
Fiorello: I give this to the cows.
Outras das
sequências mais famosas de “Uma Noite na Ópera”, e de toda a história da
comédia cinematográfica, é a que se passa na minúscula cabine nº 58, onde se
instala Driftwood, sequência essa que contou na sua concepção com a colaboração
de Buster Keaton, na altura escritor de “gags” na MGM.
Driftwood
chega, empurrado por dois empregados do navio, sentado sobre um malão que quase
não consegue entrar no minúsculo cubículo da cabine 58. Dentro do malão viajam,
clandestinos, Fiorello, Tomasso e Ricardo Baroni.
Tomasso dorme no interior de uma das gavetas. “Não o acorde, que tem insónias.”
Driftwood
espera a visita de Mrs. Claypool e, por isso, quer ficar só. Mas não o
consegue, apesar da promessa de Fiorello de que “ninguém diria nada”.
Há que
alimentar toda essa gente, esfomeada e Driftwood chama o “room service” do
paquete, para encomendar o jantar:
Driftwood: I say Stew...
Steward: Yes, sir.
Driftwood: What have we got for dinner?
Steward: Anything you like, sir. You might have some
tomato juice, orange juice, grape juice, pineapple juice...
Driftwood: Hey - turn off the juice before I get
electrocuted. All right, let me have one of each. And, uh, two fried eggs, two
poached eggs, two scrambled eggs, and two medium-boiled eggs.
Fiorello (pedindo através da porta): And two
hard-boiled eggs.
Driftwood: And two hard-boiled eggs.
Tomasso
(assinalando o pedido de outro ovo, com a buzina): HONK!
Driftwood: Make that three hard-boiled eggs...and, uh,
some roast beef: rare, medium, well-done, and overdone.
Fiorello (repete o pedido): And two hard-boiled eggs.
Driftwood: And two hard-boiled eggs.
Tomasso: HONK
(assinalando o pedido de outro ovo)!
Driftwood: Make that three hard-boiled eggs....and,
uh, eight pieces of French pastry.
Fiorello (repete o pedido): And two hard-boiled eggs.
Driftwood: And two hard-boiled eggs.
Tomasso: HONK!
Driftwood: Make that three hard-boiled eggs.
Tomasso: HONK!
(uma pequena buzinadela)
Driftwood: And one duck egg. Uh, have you got any
stewed prunes?
Steward: Yes, sir.
Driftwood: Well, give 'em some black coffee, that'll
sober 'em up!
Fiorello
(repetino o pedido, pela quarta vez): And two hard-boiled eggs.
Driftwood: And two hard-boiled eggs.
Driftwood
volta para dentro da cabine: “Se este empregado for surdo e mudo, nunca ninguém
saberá que vocês estão aqui.”
Driftwood,
Fiorello, Riccardo e Tomasso (sempre a dormir) ocupam a acanhada cabine. Mas
eis que tocam à porta duas criadas de quarto, para tratarem de arrumar o
interior da cabine. Driftwood: "Come on
in, girls, and leave all hope behind." A seguir surge uma manicure, a quem
Driftwood pede “para cortar as unhas curtas” (para assim, não ocuparem muito
espaço!). Entra um canalizador, e a seguir uma jovem que procura pela Tia
Minnie e pede para usar o telefone. Driftwood: "Pode entrar e procurar por
aí, se quiser. Se não a encontrar, talvez encontre alguém que lhe sirva."
Entra uma mulher da limpeza, determinada, a mastigar pastilha elástica, que vem
passar a esfregona. (“Precisamente a mulher de quem eu andava à procura. Entre,
entre. Tem de começar pelo tecto. É o único sítio livre. E diga aí à Tia Minnie
que mande um quarto maior, está bem?) Finalmente, em caravana, surgem vários
empregados trazendo tabuleiros com o jantar e dúzias de ovos. Entram todos e a
câmara coloca-se do lado de fora da cabine, esperando a chegada de Mrs.
Claypool que, ao abrir a porta, precipita no corredor com dúzia e meia de
enlatadas personagens.
Finalmente, na
impossibilidade de referir todos os momentos de humor e de grande espectáculo,
saliente-se ainda o belíssimo número musical, a bordo do transatlântico, depois
de ter dado ao grupo um novo ataque de fome que o leva a invadir o convés e a
misturar-se com os demais hóspedes, onde abundava a comida italiana. Riccardo
vai cantar "Cosi-Cosa", seguindo-se um solo de piano de Fiorello, com
Tomasso preparando-se para ficar com o piano, transformá-lo numa harpa e introduzir
de novo o tema "Alone."
UMA NOITE NA ÓPERA
Título original: A Night at the Opera
Realização: Sam Wood e
Edmund Goulding (este último não creditado) (EUA, 1935); Argumento: James Kevin
McGuinness (história), George S. Kaufman, Morrie Ryskind, Al Boasberg (diálogos),
Arthur Freed, Ned Washington (letra das músicas) e a colaboração de Buster
Keaton; Música: Nacio Herb Brown, Walter Jurmann, Bronislau Kaper, Herbert
Stothart e Ruggero Leoncavallo ("I Pagliacci"), Giuseppe Verdi
("Vedi! le fosche notturno spoglie" da ópera "Il
Trovatore"); Coreógrafo: Chester Hale; Director de Fotografia (p/b):
Merritt B. Gerstad; Montagem: William LeVanway; Design de produção: Ben Carré;
Direcção artística: Cedric Gibbons; Decoração: Edwin B. Willis; Maquilhagem:
Robert J. Schiffer; Assistentes de realização: Lesley Selander; Departamento de
arte: Ben Carré, Edwin B. Willis, Harry Albiez; Som: Douglas Shearer, James
Brock, M.J. McLaughlin, William Steinkamp, Michael Steinore; Coreógrafo:
Chester Hale; Guarda-Roupa: Dolly Tree; Produção: Irving Thalberg, Ben Carré.
(Metro Goldwing Mayer); Intérpretes: Groucho
Marx (Otis B. Driftwood), Chico Marx (Fiorello), Harpo Marx (Tomasso), Kitty
Carlisle (Rosa Castaldi), Allan Jones (Ricardo Baroni), Walter Woolf King
(Rudolpho Lassparri), Sig Ruman (Herman Gottlieb), Margaret Dumont (Mrs.
Claypool), Edward Keane (Capitão), Robert Emmett O'Connor (Detective
Henderson), Harry Allen, Marion Bell, Edna Bennett, Stanley Blystone, Al
Bridge, Loie Bridge, Lorraine Bridges, Gino Corrado, Gennaro Curci, Olga Dane,
Bill Days, Jay Eaton, Otto Fries, Bud Geary, Billy Gilbert, William Gould,
George Guhl, Jonathan Hale, Oscar 'Dutch' Hendrian, Luther Hoobyar, Rodolfo
Hoyos Jr., George Irving, Selmer Jackson, Jack 'Tiny' Lipson, Wilbur Mack, Fred
Malatesta, Jerry Mandy, Inez Palange, Claude Payton, Purnell Pratt, Hal Price,
Rolfe Sedan, Evelyn Selbie, Phillips Smalley, Harry Tyler, Ellinor Vanderveer,
Zuke Welch, Leo White, James J. Wolf, Frank Yaconelli, King Baggot, Olga Dane,
Bill Days, Jay Eaton, Bess Flowers, Otto Fries, Bud Geary, Billy Gilbert,
William Gould, George Guhl, Edmund Mortimer, Rita, Rubin, etc. Duração: 96 minutos; Distribuição em
Portugal (DVD): Warner Brothers; Classificação etária: M/ 6 anos.
SAM WOOD (1883 – 1949)
Samuel
Grosvenor Wood nasceu a 10 de Julho de 1888, em Philadelphia, Pensilvânia, EUA,
e viria a falecer a 22 de Setembro de 1949, com 66 anos, em Hollywood,
Califórnia, EUA.
Iniciou a sua
carreira no cinema como assistente de Cecil B. DeMille, depois de ter
trabalhado numa empresa petrolífera. Foi actor, aparecendo sob o nome de Chad
Applegate. Trabalha durante anos na Paramount, já como realizador, e depois na
MGM, até 1939. É um sólido realizador que todavia não ultrapassa a mediania,
ate que, se cruza com os Irmãos Marx, em “Uma Noite na Ópera” (1935) e “Um Dia
nas Corridas” (1937). Mas Groucho Marx acha-o “rígido e com falta de humor”, o
que torna difícil a convivência. Sam Wood teve, aliás, atitudes que não o
tornaram muito simpático no meio da indústria cinematográfica, como o seu
testemunho perante o comité das Actividades Anti-Americanas. Foi presidente da
“Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals”, uma
instituição de direita radical. Entretanto, dirigiu alguns filmes
interessantes, como “Adeus, Mr. Chips” (1939), “Kitty - A Rapariga da Gola
Branca” (1940), “Em Cada Coração Um Pecado” (1942), com Ronald Reagan, ou “Por
Quem os Sinos Dobram” (1943), segundo Hemingway. Casou com Clara L. Roush (1908 - 1949).
Filmografia
1920: Her First Elopement, Her Beloved Villain, A City
Sparrow, What's Your Hurry?, Sick Abed, The Dancin' Fool, Excuse My Dust, Double
Speed; 1921: Don't Tell Everything, Under the Lash, The Great Moment, Peck's
Bad Boy (Miudinho não Tem Emenda), The Snob; 1922: My American Wife, The
Impossible Mrs. Bellew, Beyond the Rocks, Her Gilded Cage, Her Husband's
Trademark; 1923: His Children's Children, Bluebeard's Eighth Wife, Prodigal
Daughters; 1924: The Mine with the Iron Door, The Female, Bluff, The Next
Corner; 1925: The Re-Creation of Brian Kent; 1926: One Minute to Play, Fascinating
Youth; 1927: The Fair Co-Ed (Loira Caloira), A Racing Romeo, Rookies (A Pequena
Parada); 1928: Telling the World (O Rei dos Repórteres), The Latest from Paris (A
Última Moda de Paris); 1929: It's a Great Life (A Grande Vida), So This Is
College, A Raínha Kelly (não creditado);
1930: They Learned About Women
1930: The Girl Said No
1930: Way for
a Sailor (não creditado)
1930: The Sins of the Children (não creditado)
1930: Paid (Dentro da Lei)
1931: A Tailor Made Man
1931: The Man in Possession (não creditado)
1931: New Adventures of Get Rich Quick Wallingford (O
Rei dos Vigaristas)
1932: Huddle (O
Estudante Irresistível) (não creditado)
1932:
Prosperity (não creditado)
1933: The
Barbarian (A Canção do Nilo)
1933: Hold
Your Man (O Seu Homem) (não creditado)
1933:
Christopher Bean
1934: The Cat
and the Fidlle (O Gato e o Violino) (não creditado)
1934: Hollywood
Party (Hollywood em Festa) (não creditado)
1934: Stamboul
Quest (Missão Secreta)
1935: Let 'em
Have It (Caras Falsas)
1935: The Girl
from Missouri Uma Boca para Beijar (não creditado)
1935: A Night
at the Opera (Uma Noite na Ópera)
1935: Rendezvous
(Código Secreto) (não creditado)
1935: Whipsaw (A Mulher das Pérolas)
1936: The Unguarded Hour (Horas Inconfessáveis)
1937: A Day at
the Races (Um Dia nas Corridas)
1937: Madame X
(A Primeira Causa)
1937: Navy
Blue and Gold (Os Rapazes da Marinha)
1937: The Good
Earth Terra Bendita (não creditado)
1938: Lord
Jeff
1938:
Stablemates (Companheiros da Rua)
1939: Goodbye, Mr. Chips (Adeus, Mr. Chips)
1939: Raffles
1939: Gone
with the Wind (E Tudo o Vento Levou) (não creditado)
1940: Our Town
(A Nossa Cidade
1940: Rangers
of Fortune (Figuras do Mesmo Naipe)
1940: Kitty
Foyle (Kitty - A Rapariga da Gola Branca)
1941: The
Devil and Miss Jones (O Diabo e a Menina)
1942: Kings
Row (Em Cada Coração Um Pecado)
1942: The Pride of the Yankees (O Ídolo)
1943: For Whom the Bell Tolls
1944: Casanova Brown (O Moderno Casanova)
1945: Guest
Wife (Elas na Intimidade)
1945: Saratoga
Trunk (Saratoga)
1946:
Heartbeat (Um Coração em Perigo)
1947: Ivy (Lábios
Que Envenenam)
1948: Command
Decision (Sublime Decisão)
1949: The Stratton Story (Tenacidade)
1950: Ambush (Armadilha)
MARX BROTHERS
Seis
foram os irmãos Marx, mas apenas cinco sobreviveram à infância. Um deles,
Manfred, nasceu em 1885, mas morreu pouco depois (1988?, de tuberculose?).
Teria sido o mais velho da troupe, se tivesse sobrevivido. Os outros
seguiram-se a um bom ritmo de parto: Chico (Leonard, 21 de Março de 1887-11 de
Outubro de 1961, vítima de arteriosclerose), Harpo (primeiramente Adolph,
depois mudou o nome para Arthur, 23 de Novembro de 1888 - 28 de Setembro de
1964, após operação ao coração), Groucho (Julius Henry, 2 de Outubro de 1890 - 19
de Agosto de 1977), Gummo (23 de Outubro de 1892 - 21 de Abril de 1977), e
Zeppo, (Herbert, 25 de Fevereiro de 1901 - 30 de Novembro de 1979, de cancro).
Como
se viu, nenhum deles ficou conhecido pelo nome de baptismo, e todos nasceram em
Nova Iorque, filhos de um casal de judeus, emigrantes. A mãe, alemã, chamava-se
Minnie Schoenberg, nascera em Dornum (9 de Novembro de 1864), e o pai, francês
alsaciano, Samuel "Frenchie" Marx (nascera em 1861, e o seu
verdadeiro nome era todavia Simon Marrix).
A
família era dada às artes do espectáculo, a mãe fora actriz antes de viajar
para os EUA, mas a carreira ficou truncada, de início, pelo idioma inglês que
desconhecia. De qualquer maneira não deixou de incentivar os filhos no caminho do
teatro, da música e sobretudo do “vaudeville.” Todos tinham talentos próprios
que desenvolveram desde miúdos, Harpo especializara-se na harpa, mas podia
tocar quase qualquer instrumento, Chico foi um excelente pianista, Groucho
tocava violão. Por aí começaram, quando o tio, Al Shean, que já actuava
profissionalmente, fazendo parte da dupla “Gallagher and Shean”, os incitou a
entrarem para o “vaudeville”.
Em
1905, Groucho estreia-se como cantor. Antes já fizera aparições em jardins de
cerveja, mas é de 25 de Dezembro de 1905 a primeira referência pública ao seu humor
e voz. Apareceu no “The Dallas Morning News” e referia-se a um Master Marx. O
Master Marx que contracenava com Lily Sevelle em “Lile Seville and the Master
Marx.”. Em 1907, Groucho, Gummo e Mabel O'Donnell cantavam juntos e eram
conhecidos como o trio “The Three Nightingales” (Os Três Rouxinois). No ano
seguinte Harpo juntou-se. O grupo não parava de crescer. Em 1910, Minnie, que
entretanto já dominava suficientemente o inglês, entrou para o grupo,
acompanhada da tia Hannah Schickler. Passaram a ser os “The Six Mascots”. Diz a
lenda que uma noite em que actuavam no teatro de Nacogdoches, uma localidade do
Texas, a barulheira vindo de fora da sala levou os espectadores a abandonar a
representação para virem acalmar uma mula descontrolada. Aplacado o animal, o
mesmo não se passou com Groucho, que achou de mau tom a debandada e se preparou
para descarregar a bílis sobre o público. Furioso com a interrupção, disse que
"Nacogdoches estava cheia de baratas" e outros mimos tais. Esperava
ser corrido de cena, mas os espectadores riram a bom rir e ficaram satisfeitos
com a sova pública. “The Six Mascots” pensaram que afinal nem só de música e de
belas vozes vive o show business e resolveram investir no humor. A partir daí o
humor iria ter um papel cada vez mais importante nos seus shows.
O
lado “rouxinol” ia mantendo-se, mas cada vez havia mais situações de comédia
até se inverter a questão: agora já eram episódios de humor cada vez mais
sequenciais, interrompidos por uma ou outra canção. Numa sala de aulas, Groucho
era o professor, com os restantes membros da pandilha como alunos. As plateias
riam e o percurso do grupo ia estabelecendo notoriedade e prestígio. 1912 foi o
ano desse seu primeiro “sketch” cómico-musical. Chamava-se “Fun in Hi Skule”,
era interpretado pelos quatro Marx, e ainda Paul Yates e outros actores.
Groucho mantinha-se o Master de uma turma muito indisciplinada. Meia hora de
humor corrosivo que iria deixar marcas. Em 1913, “Mr. Green's Reception” é uma
continuação deste sucesso, e “Home Again”, em 1914, prolonga o sucesso, sendo
uma segunda parte de “Mr. Green's Reception”.
A
22 de Março de 1917, Chico casa com Betty Carp e no ano seguinte, 1918, ainda
durante a I Guerra Mundial, Gummo alista-se e parte para a Europa com a
justificação de que "Qualquer coisa é melhor que ser actor!". Zeppo
foi então substitui-lo nos últimos anos da sua carreira teatral, ainda brilhou
na Broadway e depois nos primeiros filmes dos Marx, na Paramount. 1918 é ano de
“The Cinderella Girl”, um musical escrito por Jo Swerling com música de Gus
Kahn.
É
por essa altura que aparecem “The Four Marx Brothers”, iniciando-se a definição
de personagens e exercitando as situações que se irão tornar a marca do grupo:
Groucho começa a usar um intenso bigode pintado; Harpo deixa de falar e utiliza
buzinas de bicicleta para se comunicar e Chico ensaia um inglês italianizado que vai buscar aos
seus vizinhos e bairro, todos eles ítalo-americanos. Em Janeiro de 1918, nasce
Maxine, filha de Chico e Betty, e a 4 de Fevereiro de 1920 é a vez de Groucho
casar com Ruth Johnstone. Sucede-se a ascensão no vaudeville: em 1921, “On the
Mezzanine Floor” (que em Inglaterra, durante uma tournée se chamou “On the
Balcony”) foi o musical seguinte, escrito por Herman Timberg, com produção de
Benny Leonard.
Foi
em 1921 que os Marx se ligam ao cinema, com a realização de um filme mudo, de
que não existe cópia, nem se sabe se chegou a ser terminado. Chamava-se “Humor
Risk”, foi rodado com dinheiro emprestado por amigos, o realizador teria sido Dick Smith, o argumento era de Jo Swerling e foi filmado
em duas semanas, em Fort Lee, NJ., e num estúdio situado entre a 49th St. e a
10th Ave. em Nova Iorque. Tudo hipóteses.
Arthur,
filho de Groucho e de Ruth, nasce a 21 de Julho de 1921 e a 19 de Maio de 1924
estreia-se no Casinos Theatre a nova produção teatral “I'll Say She Is”, com
argumento de Will B. Johnstone.
Nos
anos 20 os Irmãos Marx criam uma auréola impar no campo do teatro de revista,
tornando se num dos grupos teatrais favoritos de Nova Iorque e de todos os EUA
(muitas foram as tournée). Com um aguçado sentido de humor, e uma crítica
violenta que satirizava sem piedade instituições como a alta sociedade e a
hipocrisia humana, o grupo funcionava sob a direcção administrativa de Chico e
a direcção artística de Groucho, que lentamente se assumia como o cérebro do
conjunto.
O
primeiro filme hoje conhecido onde aparece um dos Irmãos Marx é de 1925,
chama-se “Too Many Kisses”, e Harpo surge num pequeno papel secundário.
Curiosamente. Arpo, que nunca falou nos filmes sonoros, teve a sua única
“deixa” no cinema, num filme mudo, precisamente este. Mas a época de ouro dos
Marx ia começar. O “vaudeville” iria conhecer dois êxitos enormes: em 8
Dezembro de 1925, estreava-se “The Cocoanuts” no Lyric Theatre de Nova Iorque,
onde iria permanecer durante 275 representações, uma temporada completa, a que
se seguiriam dois anos a percorrer os palcos das outras grandes cidades
norte-americanas
Entretanto,
a 6 de Janeiro de 1926 Groucho estreava-se como autor de teatro, com a peça
"A Lift From Groucho Marx" que se publicava no “New York Herald
Tribune”. A 12 de Abril de 1927, Zeppo casa com Marion Benda e a 19 de Maio do
mesmo ano nasce Miriam, filha de Groucho e Ruth. Segue-se uma nova temporada de
sucesso no teatro, com um novo musical, “Animal Crackers”, que se estreia no
“44th Street Theatre”, a 23 de Outubro de 1928. 191 representações, seguidas de
um novo “tour”. Em 1929, o primeiro
livro de Groucho, “Beds” aparece em folhetins no “College Humor” e, em Março
desse mesmo ano, Gummo casa-se com Helen von Tilzer.
Quanto
ao cinema, a verdadeira aventura dos Marx vai agora começar. Desde 1927 que o
cinema era sonoro e os estúdios procuravam afincadamente musicais, peças de
teatro, adaptações de obras literárias, sobretudo actores com talento natural
para representarem pela voz. A transição do mudo para o sonoro fora uma
revolução, fatal para muitos galãs de voz de cana rachada, mas lançaram muitos
outros que só agora tinham possibilidade de dar vazão à sua arte e capacidades.
O humor, o burlesco, que até ai vivia de situações, pode agora contar com a
palavra. Falar de humor que se expressasse pela palavra é falar dos Marx. É
assim que os Marx são convidados a trazerem para o cinema os seus espectáculos
de vaudeville. Os dois primeiros filmes são precisamente adaptações de “The
Cocoanuts” e de “Animal Crackers”. Entre a Paramount e a Metro Goldwing Mayer
se vai dividir o bolo dos grandes filmes dos Marx. A Paramount lança a 3 de
Agosto de 1929, “The Cocoanuts”, a 6 de Setembro de 1930, “Animal Crackers”, a
19 de Setembro de 1931, “Monkey Business”, a 31 de Agosto de 1932, “Horse
Feathers”, onde satirizavam o sistema universitário americano e que foi um dos
filmes mais popular até então, logrando mesmo uma apetecível capa na revista
Time. Finalmente a 24 de Novembro de 1933, “Duck Soup”, por muitos considerado
a obra-prima dos Marx, é uma realização de Leo McCarey. De todos os filmes dos
Marx é o único a integrar a lista do American Film Institute dos filmes do
século. Na época da estreia, o público não foi particularmente receptivo a esta
excelente sátira sobre ditadores e guerras. Depois deste filme, Zeppo abandonou
o cinema.
Entretanto,
na vida pessoal de cada um dos actores vão acontecendo factos importantes: em
1930, nasce Robert, filho de Gummo e Helen, e Groucho lança “Beds” em livro. A
20 de Dezembro, uma nova peça de teatro de Groucho, "My Poor Wife", é
publicada pela Collier. A 5 de Janeiro de 1931, os Marx Brothers aparecem no
London Palace Theatre e a 28 de Novembro de 1932, Groucho & Chico iniciam a
série radiofónica "Beagle, Shyster & Beagle" (mais tarde
conhecido por outro título "Flywheel, Shyster & Flywheel")
lançada na NBC. Em 1934, Harpo parte em tournée pela URSS.
Terminado
o contrato com a Paramount, os Marx ingressam na Metro-Goldwyn-Mayer, pela mão
produtor Irving Thalberg. Este impôs um outro figurino às obras dos Marx,
associando um fio de comédia romântica ao desfilar dos gags, a que se
misturavam alguns números musicais. Sucede-se assim outro ciclo de grandes
comédias: a 15 de Novembro de 1935, estreia-se o mítico “A Night at the Opera”,
e a 11 de Junho de 1937, outra lenda, “A Day at the Races”. Pelo meio, a 7 de
Dezembro de 1935, “La Fiesta de Santa Barbara”, onde Harpo, no México, podia
ser visto em Technicolor, a 24 de Julho de 1936, “Yours For the Asking”, apenas
com Groucho, em 1937, “The King and the Chorus Girl”, escrito por Groucho de
colaboração com Norman Krasna. Entretanto, a 28 de Setembro de 1936, Harpo
casa-se com Susan Fleming. Ambos, dois anos depois, adoptam William
(Billy/Bill) Woollcott. Na MGM ocorrem grandes mudanças: em 1936, Irving
Thalberg morre, e sem ele, os Marx não são compreendidos e sustentados da mesma
forma. Partem para a RKO, Radio Pictures, onde rodam uma nova comédia, “Room
Service”, estreada a 30 de Setembro de 1938. Voltam à MGM onde assinam três
outros títulos: “At the Circus” (20 de Outubro de 1939), “Go West” (6 de
Dezembro de 1940) e “The Big Store” (20 de Junho de 1941). Para enfrentar o
problema das dívidas de jogo de Chico, os Irmãos Marx fizeram outros dois
filmes, “A Night in Casablanca” (10 de Maio de 1946) e “Love Happy” (3 de Março
de 1950), ambos produzidos pela United Artists. Trabalharam juntos ainda, mas
não em conjunto, num filme considerado muito inferior aos restantes, “The Story
of Mankind” (8 de Novembro de 1957).
Desde
1938 que a actividade dos Marx se tinha intensificado também na rádio. Chico, Harpo e Groucho aparecem em programas da NBC,
como "The Bob Hope Show", “The Kellog's Show”, “The Rudy Vallee
Show”, "Mail Call #14", "Philco Radio Hall Of Fame",
"Bird's Eye Open House", "Philco Radio Time", "Command
Performance" entre muitos outros. A partir de 20 de Dezembro de 1942,
“Chico Marx and his orchestra” (com a colaboração dos vocalistas Mel Torme e
Ben Pollack) surgem no programa "Fitch Bandwagon", e em 1943, Chico
tem a sua própria banda musical. Quanto a Groucho inicia na rádio, em 1944, uma
série de programas, “The Pabst Show”, mas é substituído por Danny Kaye.
Outros
acontecimentos importantes da década de 40: em 1940, Chico e Betty
divorciam-se, em 1942, Groucho lança um novo livro, “Many Happy Returns”, a 15
de Julho de 1942, Groucho e Ruth divorciam-se igualmente, a 8 de Novembro de
1942, uma nova peça de teatro de Groucho, "Groucho Marx Turns Himself For
Scrap," é publicada no suplement o “This Week”, do “New York Herald
Tribune Sunday”, a 12 de Maio de 1943, estreia-se o filme “Stage Door Canteen”,
a 10 de Novembro de 1943, "Groucho's New Idea" aparece nas páginas do
“Variety”, a 1 de Dezembro de 1943, Alexander Woollcott escreve um tributo a
Harpo Marx, "Portrait of a Man with Red Hair", no “The New Yorker”,
em 1944, Zeppo e Marion adoptam Timothy, Chico surge na revista “Take a Bow” e
Harpo faz parte do elenco da peça “The Man who came to Dinner”.
A
21 de Julho de 1945, Groucho casa-se com Kay Gorcey, a 22 de Dezembro de 1945,
o texto de Groucho "The Customers Always Write" é publicado na coluna
“Trade Winds”, do “Saturday Review”. Em 1946, nasce Melinda, filha de Groucho e
Kay Gorcey. Em 1947, Groucho inicia, na rádio, o show “You Bet Your Life”, que
se prolonga até aos anos 60, surgindo igualmente na televisão, a partir da
década de 50. 1947 é ainda o ano em que se estreia (30 de Maio) o filme de
Groucho e Carmen Miranda, “Copacabana”.
Os
tempos áureos dos Irmãos Marx no cinema e teatro começam naturalmente a passar.
A 27 de Setembro de 1948, a
peça “Time for Elizabeth”, escrita por Groucho e Norman Krasna estreia-se na
Brodway, mas aguenta apenas 8 representações. A televisão é meio que vai
acolher por excelência participações dos vários irmãos. A 5 de Outubro de 1948,
Chico surge na TV, na cadeia NBC, no programa “Texaco Star Theater”, a 13 de
Janeiro de 1949, Groucho aparece no "Kraft Music Hall," apresentado
por Al Jolson, a 9 de Janeiro de 1949, “Papa Romani", com Chico, é emitido
pela CBS. São inúmeras as participações de cada um deles em programas e séries.
Grouho é, obviamente, o mais requisitado. Aparece sucessivamente, e sem se pretender
ser exaustivo na listagem, no programa da NBC, "All Star Revue”, depois no
episódio piloto de "The Bob Hope Show”, no "Colgate Comedy
Hour", é premiado no “Look' TV Awards” (1954), aparece no "Shower Of
Stars" na CBS, no "The Perry Como Show", celebrando os 30 anos
da NBC (Groucho é acompanhado por Éden e Melinda Marx), convidado do "Jack
Paar Show", e em 1960, groucho satisfaz um desejo de ha longos anos,
interpretando uma figura no musical “The Mikado”, segundo William S. Gilbert e Arthur Sullivan. Segue-se ainda muitas
outras colaborações: "Open
End", “Today Show", "Les Crane Show”, "Dick Cavett
Show", etc.
Por
seu turno, Harpo não lhe fica atrás, aparece em “Comedy Hour”, “Spike Jones
Show", “The Christophers”, “I love Lucy”, "Kraft Music Hall",
"Silent Panic”, um episódio do show de June Allyson na CBS, bem como no
"Colgate Comedy Hour".
Chico
é convidado de "Celebrity Time", da série “College Bowl”, do
"Championship Bridge”, ou de “Next to No Time with Chico”. Outros membros
da família começam também a aparecer, sobretudo recordando os pais, caso de
Arthur Marx, convidado de “Art Linkletter's House Party”, ou de Melinda Marx em
"You Bet Your Life". Entretanto, em 8 de Março de 1959, um telefilme
reune pela última vez os três Marx Brothers, “The Incredible Jewel Robbery”.
Outras
efemérides interessantes de sublinhar: a 12 de Dezembro de 1948, Groucho
escreve um artigo, "Why Harpo Doesn't Talk", publicado no “This
Week". A 17 de Maio de 1949 Chico Marx faz uma tournée de cinco dias na
Alemanha, para as forces armadas americanas ai instaladas, e a 29 de Novembro
de 1949, é Groucho quem surge na rádio das forças armadas norte americanasd,
com "Command Performance #404”. A 12 de Maio de 1950, Groucho e Kay
divorciam-se, e no dia 28 do mesmo mês, estreia-se “Mr. Music”, com Groucho ao
lado de Bing Crosby. Ainda em Dezembro de 1950, mas a 9, a peça de teatro de Chico,
"Here's my All-American Football Selections for 1950," é publicada no
“TV Forecast”. Entretanto, a 24 de DEzembro de 1951, estreia-se finalmente
“Double Dynamite”, um filme onde groucho surge ao lado deJane Russell e que o
milionário e produtor Howard Hughes retivera durante três anos. Em Janeiro de
1952, surgirá outro filme com Groucho a solo, “A Girl in Every Port”.
O
casa-descasa dos Marx prossegue; a 12 de Maio de 1954, Zeppo divorcia-se de
Marion, mas a 17 de Julho de 1954, Groucho volta a casar, agora com Eden
Hartford. Em Abril de 1958, Chico casa com Mary De Vithas, a 18 de Setembro de
1959, Zeppo casa com Barbara Blakely, a 4 de Dezembro de 1969, Groucho e Eden
Hartford divorciam-se. Zeppo e Barbara também se divorciam em 1973. (Barbara
voltará a casar mais tarde com Frank Sinatra). Huffff! Vida sentimental
agitada!
A
16 de Outubro de 1954, inicia-se a publicação em folhetim, no Saturday Evening
Post, da obra de Arthur Marx, "Life With Groucho," com o título
"My Old Man Groucho". Em 1959, Groucho publica uma autobiografia,
“Groucho and Me”. Em 1961 é a vez de Harpo escrever e dar à estampa “Harpo”. Em
1965, Groucho publica “Memoirs of a Mangy Lover” (Meórias de um Pinga amores”,
na tradução portuguesa), e, em 1967, nova obra de Groucho surge nos
escaparates, “The Groucho Letters”.
Ainda
se assinalam participações individuais nalguns filmes: em Augusto de 1957,
estreia-se “Will Success Spoil Rock Hunter?” e, em 19 Dezembro de 1968,
lança-se nas salas norte-americanas o filme de Otto Preminger, “Skidoo”. Em
1972, Groucho dá um concerto a solo, em Ames, Iowa, e em 1972, no Festival de
Cannes, Goucho é condecorado e feito “Commandeur des Arts et Lettres” pelo
governo francês. A 6 de Maio de 1972, novo concerto a solo de Groucho, agora no
Carnegie Hall, em Nova Iorque. Em 1974 Groucho recebe um Oscar especial
(“lifetime's achievement”) e a 16 de Janeiro de 1977 os Marx são consagrados no
“Motion Picture Hall of Fame”. Chico morrera em 1961, Harpo em 1964, Groucho e
Gummo em 1977, e Zeppo iria falecer em 1979.
FILMOGRAFIA:
FILMES DOS
IRMÃOS MARX (EM CONJUNTO):
1926: Humor
Risk, de Dick Smith
1929: The
Cocoanuts (Malucos à Solta), de Robert Florey, Joseph Santley
1930: Animal
Crackers (Os Galhofeiros), de Victor Heerman
1931: Monkey
Business (Agulha em Palheiro ou Uma Aventura dos Marx ou A Culpa Foi do
Macaco), de Norman Z. McLeod
Horse Feathers
(Os Irmãos Marx na Universidade), de Norman Z. McLeod
1933: Duck
Soup (Os Grandes Aldrabões), de Leo McCarey
1935: A Night
at the Opera (Uma Noite na Ópera), de Sam Wood e Edmund Goulding (não
creditado)
1937: A Day at
the Races (Um Dia nas Corridas), de Sam Wood
1938: Room
Service (Um Criado ao Seu Dispôr ou Hotel dos Sarilhos), de William A. Seiter
1939: Título
original: At the Circus (Um Dia No Circo), de Edward Buzzell
1940: Go West ou Marx Brothers Go West (Os Irmãos Marx
No Far West), de Edward Buzzell
1941: The Big Store (Casa De Doidos), de Charles
Reisner
1946: A Night in Casablanca
(Uma Noite Em Casablanca), de Archie Mayo
1949: Love Happy ou Blonde Heaven ou Blondes Up ou
Hearts and Diamonds ou Kleptomaniacs (Doidos Por Mulheres), de David Miller,
Leo McCarey (não creditado)
1957: The Story of Mankind (A História Da Humanidade),
de Irwin Allen
Outros filmes, entre curtas e longas-metragens,
interpretados apenas por alguns dos Marx Brothers e ainda filmes promocionais.
1925: Too Many Kisses, de Paul Sloane, com Harpo Marx
1925: A Kiss
In The Dark (Um Beijo No Escuro), de Frank Tuttle, com Zeppo Marx
1931: The
House That Shadows Built (filme comemorativo do 20º aniversário da Paramount),
com
Groucho Marx,
Harpo Marx, Chico Marx, Zeppo Marx
1931: Jackie Cooper's Birthday Party, de Charles
Reisner, com Harpo Marx
1932: Hollywood
on Parade No.5, com Groucho Marx, Harpo Marx, Chico Marx
1933: Groucho Marx's Home Movies, de Groucho Marx, com
Arthur Marx, Groucho Marx
1933: Hollywood
on Parade No. 9, de Louis Lewyn, com Chico Marx
1933: Hollywood
on Parade No. 11, de Louis Lewyn, com Groucho Marx, Harpo Marx
1935: La Fiesta de Santa Barbara , de Louis Lewyn, com Harpo Marx
1936: Yours for the Asking, de Alexander Hall, com
Groucho Marx
1936: Hollywood
- The Second Step, de Felix E. Feist, com Chico Marx
1937: The King and the Chorus Girl ou Grand Passion ou
Romance Is Sacred ou Romance in Paris (O Rei e a Corista), de Mervyn LeRoy
1937: Sunday Night at the Trocadero, de George Sidney , com Groucho Marx
1943: Instantanes, de Ralph Staub, com Groucho Marx
1943: Screen Snapshots nº 110: Série 23, No. 1: Hollywood in Uniform, de
Ralph Staub, com Groucho Marx, Harpo Marx, Chico Marx
1943: Stage
Door Canteen (Chuva de Estrelas), de Frank Borzage, com Harpo Marx
1944:
Hollywood Canteen (Sonho em Hollywood), de Delmer Daves, com Harpo Marx
1945: The All-Star Bond Rally, de Michael Audley, com
Harpo Marx
1947:
Copacabana, de Alfred E. Green, com Groucho Marx
1949: The Life of Riley (O Vida Boa), de Irving
Brecher
1950: Mr. Music, de Richard Haydn, com Groucho Marx
1951: Double Dynamite ou It's Only Money (Casar não
Custa), de Irving Cummings, com Groucho Marx
1953: Screen Snapshots: Hollywood's Greatest
Comedians, de Ralph Staub, com Groucho Marx
1955: Screen Snapshots: The Great Al Jolson, de Ralph
Staub, com Chico Marx, Groucho Marx, Harpo Marx
1956: Screen Snapshots: Playtime in Hollywood, de
Ralph Staub, com Groucho Marx
1957- Will Success Spoil Rock Hunter? ou Oh! For a Man! (A
Loira Explosiva), de Frank Tashlin, com Groucho Marx
1968: Skidoo,
de Otto Preminger, com Groucho Marx