quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SESSÃO 2 (DUPLA): 14 DE OUTUBRO DE 2013


1. OS DRÁCULAS DA DEPRESSÃO
Após a época que antecedeu a tomada do poder por Hitler e a implantação do III Reich, durante o qual o expressionismo criou uma significativa parada de monstros, outro período conturbado da história mundial esteve na base de nova época áurea do cinema fantástico. Enquanto os EUA atravessavam a mais violenta crise económica da sua história, em fins da década de 20 do século XX e inícios da de 30, a Universal Pictures principiava a explorar um filão que se viria a revelar de invulgar sucesso público. Os filmes de terror principiavam por adaptar obras literárias, tais como "Nossa Senhora de Paris", "O Fantasma da Ópera", "Drácula" ou "Frankenstein", até imporem uma galeria de tipos que, de filme para filme, obrigava à renovação de situações e esquemas sem, no entanto, fugir de uma estrutura tipo. "London After Midnigth", de Tod Browning, com Lon Chaney, marca um dos primeiros grandes sucessos deste tipo de filmes, a que se junta o "Drácula", do mesmo Browning, e "Frankenstein", de James Whale. Enquanto a ameaça indecifrável dos monstros aterrorizava as plateias, a depressão caminhava assustadoramente, sobretudo a partir do Outono de 1929. As operações fraudulentas da bolsa, a corrupção da banca, os jogos financeiros de grande risco, conduziram à miséria grande parte do país. Baixava a produção de aço, baixava o volume de transportes por caminhos-de-ferro, baixava a um nível inesperado a indústria de construção civil, as falências eram sucessivas, o desemprego galopava, a bancarrota uma realidade... O testemunho de David Thompson assinala isto mesmo: "No fim de um mês, os valores da bolsa desceram em quarenta por cento, e, em 1932, havia cinco mil bancos norte-americanos na falência... Entre 1929 e 1932, o comércio mundial reduziu-se a um terço, enquanto o número de desempregados subia vertiginosamente." A crise gerava o pânico, este o suicídio. Industriais, comerciantes, banqueiros e operários desempregados eram encontrados mortos um pouco por todo o lado. A desistência era massiva e viam-se pessoas saltarem de arranha-céus nova-iorquinos, estatelando-se no empedrado.
O cinema americano, que nessa altura era sobretudo Hollywood, encontrava-se quase totalmente dependente de Wall Street, centro nevrálgico da crise. Por isso mesmo, o cinema americano não poderia deixar de reflectir os sintomas mais gritantes dos acontecimentos que condicionavam o seu desenvolvimento. Curiosamente, mas não de uma forma totalmente incompreensível, o cinema americano deste período pouco nos diz, frontalmente, dos problemas que a alta finança ianque (e, como consequência, toda a sociedade) enfrentava. Os filmes de início da década de 30 caracterizam-se principalmente por uma tentativa desviacionista, procurando levar o espectador a despreocupar-se, a libertar-se das nuvens negras que lhe toldavam o quotidiano. Assim é que o musical e a comédia conheceram nesta época um dos seus períodos de ouro (consequência igualmente da recente descoberta do cinema falado, da introdução do som e da… música). Também o cinema de terror, por outros caminhos, tentava desviar a atenção das plateias norte-americanas e mundiais da realidade económica e social que vivia (veja-se o exemplo de “A Rosa Púrpura do Cairo”, onde este tempo é excelentemente descrito pela câmara e a humana compreensão de Woody Allen). O pesadelo que diariamente os atormentava transmutava-se, no ecrã, sob o rosto inumano de Frankenstein ou sob a auréola demoníaca de Drácula. Com a ascensão de Roosevelt ao poder, a época dourada tende progressivamente a desaparecer e os loucos anos 20 adquirem uma nova tonalidade. Aqui de novo o cinema de terror desempenha um papel importante, documentando indirectamente a realidade social americana. Neste aspecto, o admirável “King Kong”, de Meriam Cooper e Schoedsack, retrata bem o angustiante da vida diária das grandes cidades norte-americanas, com os desfiles de mendigos e o estado de desespero da multidão de desempregados. As ameaças, de abstractas e insondáveis, passam a ganhar um outro rosto e a descer à rua.
Entretanto, o êxito desta meia dúzia de filmes, hoje clássicos, aguçam o apetite devorador dos produtores e financiadores que exigiam mais e levaram a receita a repetir-se até à exaustão. Filhos de Dráculas, casas de Dráculas, vampiros daqui e dali, vampiros um pouco por todo o lado, anunciaram a decadência do género, que cai progressivamente a níveis de invulgar mediocridade.



2. DRÁCULA (1931)


Não será por acaso que, no início da década de 30, a Universal Pictures e o produtor Carl Laemmle, Jr. se interessaram em produzir um conjunto de obras de terror que iriam ficar na história como um dos períodos de eleição do género. Na verdade, a América (e o mundo por arrastamento) conhecia nessa altura um dos piores momentos da sua história atravessando a Grande Depressão, desencadeada pelo “Crash” de 1929. Numa época de tantas ameaças e perigos, os “monstros” da Universal, “Drácula” (1931), “Frankenstein” (1931), “The Mummy” (1932), “The Invisible Man” (1933), “Bride of Frankenstein” (1935) e “The Wolf Man” (1941), todos eles significativamente explicados no campo da psicanálise e da simbólica, funcionavam como um prolongamento lógico do clima de instabilidade social e de crise económica. 
O primeiro filme a sair do estúdio e a estrear nos EUA, em Fevereiro de 1931, foi “Drácula”, de Ted Browning, com argumento adaptado de uma peça de teatro homónima de Hamilton Deane e John L. Balderston, que por sua vez se baseava no célebre romance de Bram Stoker. Não era a primeira vez que o vampiro surgia no cinema, mas era a primeira adaptação legal da obra que Bram Stoker escrevera em 1897. Pode mesmo dizer-se que o tema vampiro vem dos primórdios do cinema, precisamente de Georges Méliès, que, em “Le Manoir du Diable”, terá abordado a mitologia do género, bem como Robert Vignola, em “Vampire”, onde mulheres vampiras sugavam desprevenidos homens, ou a sedutora Theda Bara, em “A Fool There Was”. Também na Alemanha, Arthur Robison se terá aproximado, em 1916, desse universo nubeloso, com “Nächte des Grauens”, e fala-se mesmo numa obra recentemente encontrada, “Drakula halála”, um filme húngaro de 1921, que poderá ser a primeira adaptação do romance de Bram Stoker. Mas o primeiro grande filme de vampiros, a obra-prima nunca esquecida de F.W. Murnau, o ainda mudo “Nosferatu”, rodado em 1922, sendo embora uma adaptação de Stoker, era uma versão não autorizada, que alterava um pouco alguns aspectos da obra, para assim se isentar de pagar direitos de autor. Max Schreck no protagonista criaria uma personagem das mais carismáticas da história do cinema.



Chegamos assim ao primeiro “Drácula” sonoro (ainda que, curiosamente, existam cópias mudas do filme para serem vistas em países onde ainda não tinha chegado o sonoro). Mas, durante a pré-produção, o filme esteve previsto para ser mudo, na tradição de outras obras da década de 20, como “The Hunchback of Notre Dame” (1923) ou “The Phantom of the Opera” (1925). E o actor indicado inicialmente para criar o vampiro tinha sido Lon Chaney, “o homem das mil caras”, com quem Tod Browning já tinha trabalhado, em 1927, em “London After Midnight”. Mas Lon Chaney haveria de falecer, vítima de cancro, e os responsáveis pela produção colocaram a hipótese de Bela Lugosi, que interpretara o papel no teatro durante alguns anos. Mas antes falou-se de outros nomes, como Paul Muni, Chester Morris, Ian Keith, John Wray, Joseph Schildkraut, Arthur Edmund Carewe ou William Courtenay. Lugosi vingou. De resto, ele era um actor mais em conta, sobretudo numa época de crise. Acabaria por ser um bom negócio. Húngaro por nascimento, Lugosi conciliava o mistério e a sedução, um sotaque estranho e uma forma de representar que na altura resultou bem, a meio caminho entre o cinema “mudo” e o sonoro.
A versão teatral reduzia a intriga ao essencial e, sobretudo, encaixava-a em espaços reduzidos, o que satisfazia igualmente as necessidades de economia da produção. O talento de Tod Browning e do seu director de fotografia, Karl Freund, um mestre a criar ambientes e sugerir emoções através da iluminação, fizeram o restante. Há mesmo quem afirme que grande parte do êxito de “Drácula” ficou a dever-se mais a Karl Freund do que a Tod Browning. Mas Browning foi um cineasta de invulgar sensibilidade e de apurado sentido plástico, o que fica bem testemunhado neste (e noutros, como “Freaks”) trabalho seu.
O filme principia com a viagem do advogado Renfield (Dwight Frye) que, numa noite de "Walpurgis", atravessa os Cárpatos, dirigindo-se a Borgo Pass, na Transilvânia, onde se situa o castelo do conde Drácula. A sua intenção é alugar-lhe uma propriedade em Inglaterra, a sinistra e abandonada abadia Carfax, perto de Londres, para o conde aí residir. Os passageiros da diligência onde viaja e os habitantes da estalagem onde pára mostram-se assustados com a ida de Renfield para as terras do conde, onde afirmam existirem vampiros. Mas o advogado persiste na sua tarefa, tem à sua espera uma outra carruagem, mais que suspeita, que o conduz a um castelo abandonado e lúgubre, numa noite de maus presságios. Drácula (Béla Lugosi) recebe-o, conclui o negócio, droga-o com uma bebida, hipnotiza-o e faz de Renfield um fiel escravo que, a partir daí, irá cuidar do seu senhor. Ele o ajudará a chegar a Inglaterra, a bordo do Vespa, uma escuna que transporta os caixões do conde e das suas mulheres, em terra natal.
A chegada do Vespa ao porto faz sensação, dado que toda a tripulação está morta e Renfield parece ser o único sobrevivente, mas completamente enlouquecido, alimentando-se do sangue de pequenos animais, ratos, aranhas, moscas, formigas. Vai parar a um hospício que, por coincidência, fica paredes-meias com a abadia de Drácula. É altura ideal para que o sequioso vampiro inicie os seus ataques. Uma vendedora de flores incauta, numa nocturna esquina londrina, é a primeira vítima. Outras se lhe seguirão, mas será Mina (Helen Chandler), filha do Dr. Jack Seward, quem irá disputar os seus cuidados especiais.



Perante o desvario da jovem, surge o Dr. Abrahan Van Helsing (Edward Van Sloan), que rapidamente descobre que Mina se encontra entre a vida e a morte, sob a ameaça de um vampiro. Mais tarde, durante uma reunião, Van Helsing percebe que a imagem de Drácula não se reflecte nos espelhos, o que é mais uma prova de se encontrar perante um vampiro. A luta entre o Bem e o Mal será total até o triunfo final da estaca cravada no coração do vampiro. Pelo meio, aparecem os acónitos, uma planta venenosa, mas também medicinal, cuja presença os vampiros não toleram (mais tarde substituída pelos alhos) e os crucifixos. Toda a iconografia do vampirismo se começa a estabelecer no cinema. Depois de “Nosferatu”, é este “Drácula”, de Browning, o instigador de toda uma mitologia dedicada a estes mortos-vivos que se alimentam de sangue e que não têm receio de afirmar que “há coisas reservadas ao homem muito piores que a morte”. Curiosamente, os caninos ainda não cresceram desmedidamente neste filme, mas toda a atmosfera do cinema fantástico, do melhor cinema fantástico, que vive mais de sugestões insinuadas do que de violência expressa, já está inscrita nesta obra.
Na sua apresentação inicial, o filme terminava com um epílogo, onde o Dr. Van Helsing se dirigia aos espectadores, procurando acalmá-los. Mas acrescentava: “A força do vampirismo reside no facto das pessoas não acreditarem na sua existência.” O epílogo foi mais tarde cortado por imposição do código Hays, bem como duas ou três cenas mais violentas.
O que impõe “Drácula” como um modelo de obra fantástica é algo que discretamente perpassa por toda a película. Uma sensação de pesadelo que o jogo de sombras e luzes acentua, numa clara demonstração de que a lição do expressionismo alemão foi bem aprendida. A arquitectura, os arcos e as escadas, a decoração barroca, a iluminação escassa, os pontos de luz estrategicamente colocados (os olhos de Drácula justificam sempre uma pontuação luminosa especial), o guarda roupa estilizado (os vestidos brancos das vampiras que se deslocam planando sobre o chão, dobradas sobre o peso da maldição), mesmo o tipo de representação, hoje excessiva aos nossos olhos, mas nessa altura compreensível como continuação de técnicas do cinema “mudo”, tudo isto são aspectos que concorrem para o êxito desta obra belíssima que continua a apaixonar gerações de cinéfilos, possivelmente por outras razões das que promoveram o seu sucesso na década de 30. Presentemente até a patine do tempo lhe empresta uma sedução muito própria e um brilho muito original.

DRÁCULA
Título original: Dracula
Realização: Tod Browning (EUA, 1931); Argumento: Louis Bromfield, Max Cohen, Garrett Fort, Dudley Murphy, Louis Stevens, segundo peça de Hamilton Deane e John L. Balderston, adaptado de um romance de Bram Stoker; Música: Philip Glass (score de 1999), Richard Wagner, Franz Schubert  ("Symphony Nr. 8"), Pyotr Ilyich Tchaikovsky ("Swan Lake"); Fotografia: Karl Freund; Montagem: Milton Carruth; Casting: Phil M. Friedman; Direcção de arte: Charles D. Hall; Decoração: Russell A. Gausman; Maquilhagem: Jack P. Pierce; Departamento de arte: John Hoffman, Herman Rosse; Som: C. Roy Hunter; Efeitos visuais: Frank H. Booth, John P. Fulton; Produção: E.M. Asher, Tod Browning, Carl Laemmle Jr.; Companhia de produção: Universal Pictures; Intérpretes: Bela Lugosi (Conde Dracula), Helen Chandler (Mina Seward), David Manners (Jonathan Harker), Dwight Frye (Renfield), Edward Van Sloan (Prof. Abraham Van Helsing), Herbert Bunston (Dr. Jack Seward), Frances Dade (Lucy Weston), Joan Standing (Briggs, enfermeira), Charles K. Gerrard (Martin), Tod Browning, Michael Visaroff, Anna Bakacs, Nicholas Bela, Daisy Belmore, Moon Carroll, Geraldine Dvorak, Carla Laemmle, Donald Murphy, Cornelia Thaw, Dorothy Tree, Josephine Velez, Carl Laemmle (apresentador), etc. Duração: 75 minutos; Distribuição em Portugal: Filmes Lusomundo (cinema); Universal (DVD); Classificação etária: M/16 anos; Estreia em Portugal: Caleidoscópio, a 16 de Março de 1976 (desconhece-se se anteriormente houve outra exibição).

TOD BROWNING (1880-1962)
Charles Albert "Tod" Browning nasceu em Louisville, Kentucky, EUA, a 12 de Julho de 1880 e viria a falecer em Hollywood, Califórnia, a 6 de Outubro de 1962.
De vida aventurosa e romântica, era filho de “boas famílias”, causando um certo escândalo quando aos 16 anos partiu atrás de uma artista de circo por quem se apaixonara. Foi palhaço, contorcionista, jockey, gerente de teatro, até encontrar D.W. Griffith e tornar-se actor. A sua estreia no cinema data de 1916, em “Intolerância”, mas rapidamente passa a realizador de filmes sem grande significado. O seu primeiro sucesso parece ter sido “A Trindade Maldita” (1925), onde começou a impor um estilo próprio, mesclando fantasia, horror e mistério.
“Drácula” (1931) tornou-o um mito no campo do cinema fantástico e “Freaks, a Parada dos Monstros” (1935) afirma-o como um dos mais originais autores de cinema de todos os tempos, tornando-se um cineasta de culto. David Bowie homenageia-o na sua canção "Diamond Dogs", que reaparece em “Moulin Rouge!” (2001). Casado com Amy Louise Stevens (1906 - 1910) e Alice Browning (1911 – até à data da morte desta, em 1944).

Filmografia
1914: By the Sun's Rays (curta-metragem)
1915: The Living Death (curta-metragem)
1915: Little Marie (curta-metragem)
1915: The Lucky Transfer (curta-metragem)
1915: The Slave Girl (curta-metragem)
1915: An Image of the Past (curta-metragem)
1915: The Highbinders (curta-metragem)
1915: The Story of a Story (curta-metragem)
1915: The Spell of the Poppy (curta-metragem)
1915: The Electric Alarm (curta-metragem)
1915: The Burned Hand (curta-metragem)
1915: The Woman from Warren's (curta-metragem)
1916: The Mystery of the Leaping Fish (curta-metragem)
1916: The Fatal Glass of Beer
1916: Everybody's Doing It
1916: The Fatal Glass of Beer
1916: Puppets
1917: Jim Bludso
1917: A Love Sublime
1917: Hands Up!
1917: Peggy, the Will O' the Wisp
1917: The Jury of Fate
1918: Which Woman?
1918: The Legion of Death
1918: The Brazen Beauty
1918: The Eyes of Mystery
1918: Revenge
1918: The Deciding Kiss
1918: Set Free
1919: Bonnie Bonnie Lassie
1919: The Wicked Darling
1919: The Exquisite Thief
1919: The Unpainted Woman
1919: The Petal on the Current
1920: The Virgin of Stamboul (A Virgem de Istambul)
1920: Outside the Law
1921: No Woman Knows
1922: The Wise Kid (A Menina Prodígio)
1922: Man Under Cover
1922: Under Two Flags (Sob Duas Bandeiras)
1923: Drifting (No Turbilhão)
1923: The Day of Faith
1923: White Tiger
1924: The Dangerous Flirt
1924: Silk Stocking Sal
1925: The Unholy Three (A Trindade Maldita)
1925: The Mystic (A Filha do Cigano)
1925: Dollar Down
1926: The Blackbird (O Lacrau)
1926: The Road to Mandalay (O Homem de Singapura)
1927: The Unknown (O Homem sem Braços)
1927: London After Midnight (Londres Depois da Meia-Noite)
1927: West of Zanzibar (Em Plena Selva)
1927: The Show (O Palácio da Ilusão)
1928: The Big City (Ladrões de Joias)
1929: Where East is East (Oriente)
1929: The Thirteenth Chair
1930: Outside the Law
1931: Dracula (Drácula)
1931: Iron Man
1932: Freaks (Freaks, a Parada dos Monstros)
1933: Fast Workers (não creditado)
1935: Mark of the Vampire
1936: The Devil-Doll (A Boneca do Diabo)
1939: Miracles for Sale

BÉLA LUGOSI (1882-1956)
Béla Ferenc Dezsõ Blaskó, nasceu a 20 de Outubro de 1882, em Lugoj, região de Banat (donde o pseudónimo Lugosi), então uma cidade do Império Austro-Húngaro, hoje integrada na Hungria. Faleceu a 16 de Agosto de 1956, com 73 anos, em Los Angeles, Califórnia, EUA.
Era o mais jovem dos quatro filhos de um banqueiro. Julga-se que fugiu de casa aos 11 anos, deixando a escola e indo trabalhar como mineiro. Ainda adolescente, principia a sua carreira teatral, em 1901, na companhia de Pesti-Ihasz Lagos. Trabalha depois nas companhias de Polgar Karoly e Krecsanyi Ignace e, em 1910, vamos encontrá-lo no teatro de Szeged. A 4 de Setembro de 1911, estreia-se no teatro Magyar Ssinhar de Budapeste, no papel do conde Wronsky, de “Anna Karenine”. Entre 1912 e 1919 faz parte do Teatro Nacional Húngaro, em Budapeste. Os seus papéis principais são Romeu, Hamlet, Manfred, Guilherme Tell, Brigadeiro de Ocskay, etc. Interpreta ainda diversos filmes húngaros, sob o pseudónimo de Arisztid Olt.
Durante a guerra, encontramo-lo na frente, como tenente do 43º Regimento de Infantaria Húngara. Alguns afianaçam que foi ferido três vezes, com gravidade, e que decorre daí a sua dependência de drogas para alívio das dores. Mas também há quem diga que conseguiu furtar-se à guerra, fazendo-se passar por doido.
Em 1918, porém, organiza o sindicato dos actores. Um ano depois, desempenha importante actividade política sob o regime dos soviéticos. Com a queda do regime, deixa a Hungria. Em Berlim iremos encontrá-lo sob a direcção de F. W. Murnau, em “Januskopt”.
Em 1921 parte para a América. Interpreta imensos filmes e trabalha no teatro durante anos, percorrendo os Estados Unidos como protagonista da peça “Drácula”, de Bram Stocker, numa adaptação teatral de John Balderston. Será o êxito deste trabalho que o levará a ser convidado por Tod Browning para interpretar o filme de 1931, ano em que se naturaliza americano. Interpretou quase uma centena de filmes, muitos dos quais de fraca qualidade, mas há muitos a merecerem ser destacados, como “Murders in the Rue Morgue”, “The Raven”, “Mark of Vampire”, “Son of Frankenstein”, “The Ghost of Frankenstein”, “The Corpse Vanishes”, etc. De qualquer forma, nunca se afastou da sua representação de “Drácula” que marcaria toda a sua carreira. O final da sua vida foi dramático, quer de um ponto de vista pessoal, completamente dependente das drogas, quer profissional, arrastando-se em obras de péssima qualidade, algumas de Ed Wood, que, todavia, o amparou nesse período difícil. O seu último filme foi “Plan 9 from Outer Space”, de Ed Wood, morrendo no decorrer das filmagens. Vivia obcecado pela personagem de Drácula, dormia num caixão e foi enterrado com a capa do conde vampiro.
Casa-se cinco vezes, a última das quais em 1955. Teve um filho, Bela George (nascido a 6 de Janeiro de 1938).
Morreu a 16 de Agosto de 1956, depois da filmagem de The Black Sleep. Sepultado no Holly Cross Cemetery de Los Angeles. Em "Ed Wood", de Tim Burton, Martin Landau interpretou a figura de Lugosi, tendo ganho um Oscar por este papel. Uma estátua de Bela Lugosi existe presentemente num dos cantos do Castelo Vajdahunyad, em Budapeste. Possui uma estrela no Hollywood Walk of Fame. Ao lado de Boris Karloff é um dos ícones maiores do cinema fantástico.

Filmografia
1917: Az Ezredes, de Michael Curtiz
1919: Sklaven fremden Wallens, de R. Eichberg
1920: Der Januskopf, de F. W. Murnau
1920: The Last of the Mohicans (O Último dos Moicanos) (versão alemã)
1923: The Silent Command, de J. Gordon Edwards
1924: The Rejected Woman, de Albert Parker 
1925: Midnight Girl, de Wilfred Noy
1925: Daughters Who Pay, de George Terwilleger
1928: How to Handle Women, de William James Craft
1929: The Veiled Woman, Emmett J. Flynn
1929: Prisoners, de WiIIiam A. Seiter
1929: The Thirteenth Chair, de Tod Browning
1930: Viennese Nights, Alan Crosland
1930: Such Men Are Dangerous, de Kenneth Hawks
1930: Wild Company, de Leo MacCarey
1930: Oh, for a Man (O Amor entra pela Janela), Hamilton MacFadden
1930: Renegades (Os Renegados), de Victor Fleming
1931: Frankenstein (duas bobines de ensaio), de Robert Florey
1931: The Black Camel, de H. MacFadden
1931: Women of All Nations (Mulheres de Todas as Nações), de Raoul Walsh
1931: Drácula (Drácula), de Tod Browning
1931: Fifty Million Frenchmen, de Lloyd Bacon
1931: Broadminded, de Melvyn Le Roy
1932: Chandu the Magician (Chandu, o Mágico Branco), de Marcel Varnel e William Carneron
1932: Murders in the Rue Morgue (Os Crimes da Rua Morgue), de Robert Florey
1932: White Zombie, de Victor Halperim
1932: Island of Lost Souls (A Ilha das Almas Selvagens), de Erle C. Kenton
1933: International House (Casa Internacional), de Edwards Sutherland
1933: Night of Terror, de Benjamim Skoloff
1933: The Devil's in Love (Audácia que Redime), de William Dieterle
1933: Mickey’s Gala Premiere, de Walt Disney
1933: The Death Kiss, de Edwin L. Marin
1933: The Whispering Shadow (A Seita de Terror), de Albert Herman e Colbert Clark
1934: Chandu on the Magic Island, de Rod Taylor
1934: Gift of Gab (O Grande Fafarrão), de Karl Freund
1934: The Return of Chandu, de Rod Taylor
1934: The Black Cat (Magia Negra), de Edgar G. Ulmer
1935: The Best Man Wins, de Erle C. Kenton e E. Roy Davidson
1935: The Mysterious Mr. Wong, de William Nigh
1935: The Raven (O Corvo), de Louis Friedlander
1935: Mark of the Vampire, de Tod Browning
1935: Murder by Television, de Clifford Staniforth
1936: The Mystery of the Marie Celeste ou Phantom Ship, de Denison Clift
1936: The Invisible Ray (O Raio Invisível), de Lambert Hillyer
1936: Postal Inspector, de Otto Brower
1936: Shadow of Chinatown (A Sombra do Bairro Chinês), de Roberf F. Hill
1936: Dracula's Daughter (O Vampiro Humano), de Lambert Hillyer
1937: S.O.S. Coast Guard, de William Witney e Alan James
1939: Son of Frankenstein (O Filho de Frankstein), de Rowland V. Lee
1939: The Phantom Creeps, de Ford Beebe e Saul A. Goodkind
1939: The Human Monster, de Walter Summers
1939: The Gorilla (O Gorila), de Allan Dwan
1939: Ninotchka (Ninotchka), de Ernst Lubitsch
1940: The Saint's Double Trouble, de Jack Hively
1940: You'll Find Out (O Castelo dos Mistérios), de David Butler
1940: Black Friday (Sexta-feira, 13), de Arthur Lubin
1941: The Wolf Man (O Homem Lobo ou Lobo entre Lobos), de George Waggner
1941: The Black Cat (O Gato Preto), de Albert S. Rogell
1941: Spooks Run Wild, de Phil Rosen
1941: The Devil Bat, de Lean Yarbrough
1941: The Invisible Ghost, de Joseph H. Lewis
1942: Black Dragons, de William Nigh
1942: The Corpse Vanishes, de Wallace Fox
1942: Frankenstein Meets the Wolfman (Frankenstein contra o Homem-Lobo), de Roy William Neil
1942: Bowery at Midnight (O Sábio Assassino), de Wallace Fox
1942: Eyes of the Under World de William Neill
1942: The Phantom Killer, de William Beaudine
1942: Night Monster, de Ford Beebe
1942: The Ghost of Frankenstein (A Sombra de Frankenstein), de Erle C- Kenton
1943: The Return of the Vampire (O Regresso do Vampiro), de Lew Landers
1943: The Old Dark House (A Velha Casa Sombria), de Tod Browning
1943: The Ape Man, de William Beaudine
1943: Ghosts on the Loose (Fantasmas à Solta), de William Beaudine
1944: Return of the Ape Man (O Regresso do Homem Gorila), de Phil Rosen
1944: Zombies on Broadway, de Gordon Douglas
1944: One Body Too Many, de Frank Mc Donald
1944: The Voodoo Man, de William Beaudine
1944: The Black Parachute, de Lew Landiers
1945: The Body Snatcher (O Túmulo Vazio), de Robert Wise
1946: Genius at Work (O Crime da Semana), de Leslie Goodwins
1946: Devil Bat's Daughter, de Frank Wisbar
1947: Scared to Death, de Christy Cabanne
1948: Abbott and Costello Meet Frankenstein (Abbott and Costello e os Monstros), de Charles T. Barton
1952: Bela Lugosi Meets a Brooklyn Gorilla, de William Beaudine
1952: Old Mother Riley Meets the Vampire, de John Gilling
1953: Glen or Glenda?, de Edward D. Wood Junior
1955: Bride of the Monster, de Edward D. Wood Junior
1956: The Black Sleep (A Torre dos Monstros), de Reginald Le Borg
1956: Plan 9 from Outer Space, de Edward D. Wood Junior

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